Um Relato Para os Líderes Morais
Um Relato Para os Líderes Morais
Num submundo desconhecido por mim até aqui
chegar, adentrei como se aquilo fosse um pesadelo...
Um gosto amargo na boca, como se fosse a
mistura de sangue, pus e alguma erva amarga...
Um cheiro pútrido... Que inicialmente
parecia vir de algum lugar, mas que aos poucos parecia estar em mim também...
Não poderia saber distinguir se o mau cheiro era do ambiente ou meu...
A pouca luminosidade, os sons
desconhecidos. Alguns que pareciam de uma floresta cheia de feras selvagens,
outros que se distinguiam como maquinários de fábricas, outros que com certeza
eram de uma cidade que nunca dorme, com seus seres que também não dormem...
Alguns gargalhavam, outros choravam, outros gritavam, uns comemoravam, outros apenas
emitiam sons guturais...
Sim, tenho certeza de que você deve estar
pensando... Ah! Com certeza este irmão ou irmã está descrevendo as profundezas
dos umbrais, ou nos infernos de Dante Alighieri... Não meus amigos... Não...
Estou descrevendo apenas o lado invisível
da matéria que vocês vivem, quando não vigiam... Eu sou a prova que a
vigilância de vocês, encarnados, está falha, muito falha. Pois há pouco tempo
estava entre vocês e agora estou aqui, sem o corpo carnal, embora ainda com um
corpo aparentemente de carne, invisível aos olhos de quem lê estas linhas, mas
muito visível para os que estão aqui comigo.
Podem estar pensando que eu fui um viciado em
drogas ilícitas ou lícitas. Podem achar que fui um ser desonesto e que conscientemente
prejudicou muitos companheiros de caminhada... Podem acreditar em seus
julgamentos que não fui um bom pai, companheiro ou filho. Que fui apenas
egoísta (não que não tenha sido) e orgulhoso...
Mas, digo a vocês... Em meu funeral, muitos
choraram por mim... Muitos sofreram e enviaram-me palavras caridosas,
pensamentos bons, disseram que fui um bom amigo, companheiro, pai e sobretudo
uma pessoa de bem...
Contudo... Não é o que minha consciência me
diz... Julguei mais do que devia. Tratei com muita rigidez os conhecimentos que
deveriam fazer com que libertassem mentes e corações para o bem. Coloquei
regras onde não existiam. Fui duro com os erros alheios. E até mesmo quando consolei,
acabei fazendo com condições descabidas aos beneficiados. Acreditei que o meu
caminho era o correto, sem dar margem a outras interpretações simples e mais
benfazejas. Tratei os que pensavam diferentes, com desprezo e até como inimigos
em meu íntimo, como se eu fosse superior. Atrapalhei trabalhos do bem apenas
porque não entendia ou porque não acreditava ser um trabalho verdadeiro.
Enfim... Com tantos julgamentos, tantas
intromissões diante dos esforços alheios, acabei sendo retirado da vida antes
do meu tempo a fim de não complicar o que poderia ter sido ainda pior. E sabem
o que mais? Eu mesmo pedi isso, num dos meus desdobramentos mais conscientes.
Percebi que estava atrapalhando-me e que era hora de me retirar para tentar
novamente... É claro que se aconteceu essa antecipação, houve a autorização dos
maiores deste plano em que me encontro agora, depois de analisarem todas as
possibilidades, inclusive o fato de que em meu plano de vida, havia a
possibilidade de uma retirada antecipada, caso eu falhasse além do planejado...
Só que mesmo assim, apesar de pedir, na
hora “H”, eu não quis me lembrar e revoltei-me... Fugi das mãos estendidas, não
quis receber o carinho dos que choravam por mim e voltei à instituição que acreditava
ser minha... E que por minhas ações negativas, infelizes, acabei desestabilizando-a
através da minha força, influência, do meu poder de persuasão... O bom trabalho
dos primeiros tempos, foi apagado por mim mesmo, ao acreditar que era o melhor
e único para a tarefa. Ao acreditar que meu jeito seria perfeito para todos os
tempos... Pobre de mim... Quanta ilusão...
E foi assim, que me encontrei nesta situação
deplorável. Pela revolta, pelo orgulho, pela não aceitação de que a vida e os
processos, de que a própria religião deve progredir, acompanhando o progresso
humano, caí em deplorável estado. Mas... O Criador sempre dá novas
oportunidades e há sempre alguém que nos é superior moralmente. Um certo dia,
meus pais que tudo me entregaram de bom, mais uma vez se preocuparam comigo e
estenderam as mãos para que num abraço carinhoso e sem julgamentos eu
percebesse meus equívocos. Pois é no amor verdadeiro (não o carnal, mas o que
educa as almas para o alto) que as ilusões caem.
Há poucos dias estou recolhido e asseado.
Aquele mau cheiro se foi... Aquela escuridão, aqueles sons... Agora a paz
exterior reina, mesmo que interiormente, ainda há uma gama de revoluções e
conturbações internas em meu ser. E se estou aqui é para colocar um pouco destes
pensamentos angustiantes para fora. Agradeço a oportunidade e espero que eu
consiga ser um exemplo do que não se deve fazer a quem hoje é como um pastor de
várias ovelhas. Lembre da lição do Mestre ao lavar os pés dos discípulos. Saibam
ouvir o que chegam depois com outras bagagens melhores e maiores que nós!
Enfim, vivem com atenção e bom senso.
O que me resta? Recomeçar uma outra vez!
Grato! R.V S.
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