Melhor Natal de Paulino

 

Melhor Natal de Paulino

Garrafas que boiavam no leito do rio... Foi o que Paulino um dia parou para ver, a poluição do humano ser...

Coisa bizarra e triste, era verificar a ação do homem, sobre a vida que Deus oferece e permite que seja, cresça, e ilumine...

Assim, pensava Paulino certo dia, em que parou às margens de caudaloso rio de sua cidade, no interior de um estado brasileiro e fim de analisar e pensar sobre si mesmo, e é claro, sobre a vida!

Por que será, pensava, que ao pensar sobre a vida, procuramos a natureza? Será que é por ser um altar construído pelo Criador, ou coincidência de alguns poucos miseráveis viventes pensantes do mundo?

Paulino, ainda franzino, em seus dezenove anos, já vivera poucas e boas, mais poucas do que boas, se me compreendem...

Há pouco saíra da prisão por roubo de alguns produtos em loja de departamento. Não fora a primeira vez e por isso, passara alguns meses encarcerado. Por uma sorte “divina”, bom comportamento e boa vontade de um defensor público, acabara de sair do complexo prisional, com a obrigação de cumprir algumas medidas sociais. Passara a trabalhar numa cooperativa de seleção de materiais recicláveis e agora, na volta para um cantinho onde dormiria improvisado por alguns dias até que pudesse pagar por um lugar só seu, pois família não tinha mais nosso amigo, parara nas margens do rio, famoso pela poluição enorme, símbolo do desrespeito do homem pela obra divina...

Verificara inúmeras garrafas e lixo recicláveis boiando no leito do rio e aquilo lhe fizera pensar na vida, buscar um sentido para a sua...

Ficou horas ali parado, até que a noite já ia alta, quando despertou do sonho para ir direto para o lar improvisado.

Assim, chegou, tomou banho e se perdeu nos pensamentos noturnos, adormecendo em madrugada alta, quase nos primeiros raios solares. Dormiu pouco, mas o suficiente para ter algumas ideias...

Levou-as a seu chefe imediato no trabalho, que não lhe deu atenção, o que não lhe deixou desanimado. Assim, passou o dia separando o material reciclado, e também as boas das más ideias de seu já inspirado projeto.

No final do expediente, pediu um saco maior para seu supervisor, mesmo que fosse furado. Foi atendido sem grande empolgação, mas pelo menos com educação.

Na volta para casa, voltou às margens do rio e começou a selecionar todo aquele lixo boiando. No dia seguinte, levou para o trabalho o que poderia ser aproveitado.

O que não era deixou guardado num cantinho do seu lar provisório. No fim da semana tinha muitos materiais ali coletados. No domingo bem cedinho, acordou animado e pôs a mão na massa, para criar algo inusitado.

Passou a criar brinquedos de materiais reciclados, coletados. Com o primeiro salário, comprou algumas ferramentas. No segundo, alugou um quartinho, um cantinho pra si. No terceiro, comprou algumas peças, tintas e outros acessórios interessantes... Enfim, a cada mês foi investindo um pouco no seu projeto. Quando chegou ao oitavo mês, já chegávamos no Natal.

Conheceu um homem que vendo o seu trabalho se dispôs a ajuda-lo a levar à frente seu projeto de ideal. O seu quartinho já não cabia mais de brinquedos e precisou de ajuda. Então Frederico, o novo amigo com maiores condições, ofereceu-lhe sua casa para estocar os exemplares de brinquedos variados, criados de forma artesanais, mas bem atuais.

Eram carrinhos, bonecos, bolas, patins, patinetes, jogos de criação, jogo de chá, mesinhas e cadeirinhas, com temas dos heróis da criançada que viam na TV. Paulino se esforçara para dar algo que não poderiam os carentes ter.

Na véspera de Natal, Frederico, que conhecia outro amigo mais endinheirado, conseguiu um caminhão baú para carregar os brinquedos criados por Paulino emocionado. Frederico então, vestiu-se como Paulino, dois Papais Noéis diferentes. Tinha cabelo e barbas, mas eram castanhos e sua roupa não era vermelha, mas simples, lembrava Jesus, se hoje vivessem. Foi Paulino que assim imaginou, quando um dia sonhou em levar brinquedos aos carentes e esquecidos. Ver a alegria em seus corações, por receber algo simples, mas porque não divinos?

Desembarcaram, em meio a comunidade bem carente, e Paulino chamou aquela gente, falou de um homem que viveu há muito tempo e foi pregado numa cruz, mesmo inocente! E ele estava ali agora, trazendo um pouco de alegria aos corações ardentes ali presentes!

Brincou e sorriu! Contou piadas e distribuiu os presentes que construiu! Para sua surpresa, Otávio, o dono do caminhão, que era todo endinheirado, apareceu de surpresa. Alimentos e roupas também levou, inspirado pela história de Paulino, o menino franzino, com pouco estudo, sem família, ex-detento, que humilde e só com um sonho na cabeça, foi em frente para dar a crianças, o que ele não teve quando era um pingo de gente!

Foi o melhor Natal das crianças, dos pais, de toda aquela gente, mas principalmente de Otávio, Frederico e Paulino, que construiu com amor, brinquedos de toda cor, sabor e com muito amor! Arte bela e inspirada pelo seu anjo protetor!

Jesair Pedinte, Sodré, o ritmista e outros amiGOS 

 

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