Com Orgulho não há Paz

Segue a vida num ritmo suave. Aqui deste lado há dor e sofrimento, entretanto muito mais amor e bons sentimentos.
Era uma manhã alva, céu azul e sol despontando no horizonte. Levantei-me de meu leito branco... Estava sozinha em casa, à beira da praia... Minha mente estava povoada de pensamentos... A tristeza fazia presente em minha face, sem querer ou pensar em disfarçar. Sozinha podia sofrer como bem queria. Autopiedade... Infeliz até o último momento... Era como se fosse uma pessoa sem vida, sem sentimentos... Pelo menos não detinha nenhum bom naquele momento.
Acreditava que meu sofrimento, por ter sido alvo da traição conjugal era martírio inconcebível e inaceitável! Não me valeram as lembranças dos filhinhos queridos, nem mesmo daqueles que no mundo eram alvo de meu mais puro respeito.
Médica pediátrica, além de meus filhos, minha paixão eram as crianças. Esse foi meu problema. Paixão! Os apaixonados não amam realmente, apenas querem possuir isso ou aquilo... Menos o amor... Estava ali, havia deixado as crianças com minha mãe, que Deus a abençoe! Havia deixado meu marido que chorara num pretenso arrependimento da carne fraca... Carne fraca? Impossível o meu orgulho aceitar!
Meus pacientes? Desmarcara com todos, principalmente aqueles que eu atendia no fim do dia. Os carentes de recursos do mundo. Sempre pensei nisto com muita alegria. Eram sempre as consultas e atendimentos mais emocionantes ao meu coração. Atendia com sorriso nos “olhos”, e no corpo inteiro!
Infelizmente, ali, acordara numa linda manhã, sozinha. Dissera à minha mãe que precisava de uns dias na praia para fortalecer-me e voltar à vida, agora como uma mulher livre. Contudo, como sempre me mostrara forte para tudo na vida, nem ela poderia imaginar o que eu faria. Aceitou sem maiores preocupações ficar com meus filhos. Para meu marido, apenas disse que iria viajar e não era da conta dele...
Orgulho ferido ao extremo... Cabeça vazia de preocupações sinceras e coerentes... De repente, pela falta de fé, oração e vigilância, vieram-me pensamentos desconhecidos. Realmente não tinha intenção de fazer aquilo... Mas quando vi, já havia feito e meu corpo perecera atendendo meu livre-arbítrio infeliz...
Depois de tudo, não é preciso dizer que minha situação ficou pior. Maiores sofrimentos foram alcançados, e por anos fiquei perdida. Os meus títulos de doutora pouco valeram neste novo plano da vida: o espiritual. Aliás, de nada valeram!
Entretanto, a misericórdia divina é sempre bela! Em momento algum fiquei sem desamparo. Assim, que expiei alguns anos nesta infeliz condição. Quando o coração começou a arrepender-se verdadeiramente, meu sofrimento começou a retroceder quando fui resgatada daquela situação sofrível!
Para minha surpresa, anjinhos em forma de crianças vieram me tirar daquela lama em que me encontrava. Fui resgatada por querubins! Era o que imaginava diante de minha fé pouco refletida da Terra material.
Ainda fiquei por meses recuperando meu corpo espiritual. Hoje já começo a ser útil e a trabalhar. Atendo anjinhos do coração, não como médica, pois meus conhecimentos se revelam parcos e infantis diante da medicina que aqui vejo e testifico. Atendo como serva humilde, uma cuidadora simples de alminhas que chegam desamparadas.
Hoje compreendo que a misericórdia divina é muito bela. O fato de ter doado um pouco de meu tempo diariamente, por ter atendido com carinho a cada coraçãozinho que me chegava, por ter salvado a vida de vários rebentos de lares diversos, de diferentes classes, etnias e culturas, obtive méritos que me rendem tantas benesses deste lado.
Arrependo-me por ter sido fraca e orgulhosa! O meu esposo errou, mas pelo menos se arrependeu e teve a coragem de confessar-se em erro pedindo-me perdão. Ele não deixou de me amar, mesmo sendo infeliz para comigo. Hoje eu sei que foi fraqueza do companheiro. Mas ele também aprendeu e sente-se culpado por minha desistência da vida. Hoje se dedica como um homem probo e criou nossos filhos para o caminho reto da verdade e do amor. Venera-me como boa esposa e mãe e isso me faz bem, confesso. Sei que isso ainda é orgulho de minha parte.
Arrependo-me de ter deixado de viver, de acompanhar meus filhos, de perdoar meu esposo... O erro dele não justifica o meu! Entretanto, não se enganem, aqui não estou defendendo a infidelidade, apenas defendo o entendimento das fraquezas alheias e o perdão! Quem não perdoa, morre por dentro e isso pode causar a morte do corpo de forma trágica!
Agradeço a Deus por recomeçar. Sei que tenho muito a recuperar. Agradeço por aqui compartilhar e peço que rezem por esta alma que derrapa na sua evolução, mas que confia em Deus para recuperar e aos poucos arrancar do peito este orgulho ferido.
Obrigada! Isabel Fontes – 26.11.12

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