Orgulho e Amor, Qual o Vencedor?

Tem-se no coração uma ideia do que já foi dito e que se assemelha ao sussurro do vento, um dia esquecido nas brumas de um tempo perdido... Era noite clara, com lua cheia e Rosana estava sob frondosa árvore alcoviteira... Esperava o ser amado estando próxima a clareira...
As horas passaram-se, nenhum movimento foi constatado. Pobrezinha, sentiu-se abandonada, esquecida pela felicidade da vida. No outro dia, estava lá novamente a moça e mais uma vez a decepção bateu-lhe na face rosada e entristecida...
Os dias passaram-se, as notícias não chegaram e o coração se enregelou, esfriou-se como o gelo dos árticos e nunca mais conseguiu acreditar num amor para sua existência. Infrutífero foi a tentativa de seus pais em lhe estimular o novo viver. Conhecer novas amizades e apresentar-lhe novos pretendentes que eram tratados com azedume ardentes!
Rosana fechou-se como um botão de rosas que seca antes mesmo de abrir-se ao mundo... Não conseguia sorrir, muito menos amar e servir... Amarga tornou-se, mesmo diante do carinho dos pais e familiares sempre a procura de levantar-lhe os ânimos. Apatia, agonia, azedume a revelia... Era o que Rosana plantava sem preocupar-se com as consequências.
Muitos anos depois, quando adulta e madura viu-se só, após a viagem eterna empreendida por seus genitores. Mais do que nunca desacreditava na humanidade, mais do que nunca desprezava os candidatos a seu coração conquistar... Pobrezinha! Amarga e arisca afundava-se na solidão provocada pelo orgulho e egoísmo sem qualquer restrição.
No fundo, era apenas uma pessoa carente. Precisava de um pouco de amor, só que não conseguia enxergar a sua volta o amor divino que lhe enlaçava o espírito a procura de mostrar-lhe o caminho para que seu coração fosse novamente preenchido.
Como toda pessoa orgulhosa e prepotente, justificava-se naquele comportamento apenas por uma experiência dolorosa como se a vida não nos desse várias ocasiões para nos preparar melhor a fim de conquistarmos, na hora certa, um sonho possível e muito mais belo do que o sonhado num passado invisível.
Os anos passaram-se, e a solidão foi aumentando seus domínios na vida infeliz que escolhera um dia. Rosana não mais sorria, apesar da grande necessidade de extravasar seus sonhos de ventura de um dia que ficara para trás, proporcionando-lhe agonia... Já ia entrando na terceira idade, quando só em sua propriedade herdada dos genitores, num feriado, sempre sem graça para nossa pobre mulher acabrunhada e pensante... Quando de repente, no muro da mansão, próximo ao portão, escondida atrás das trepadeiras, percebeu uma antiga caixa de correio inutilizada há muitos anos, ainda em sua infância...
Não sabia dizer por que, mas veio uma vontade grande de abrir e ver o que havia lá dentro... As trepadeiras quase escondiam a velha caixa de correio inutilizada. A tampa estava emperrada, mas com o esforço e auxílio da faca – que estava carregando sem saber por que - e uma pedra grande, conseguiu seu intento, abrindo a tampa.
Surpresa percebera um envelope antigo, amarelado, sujo e enrugado pela umidade ali presente depois de muitos anos. Emocionada reconheceu um laço característico daquele homem que um dia havia amado, depois para sempre odiado, pelo menos até aquele dia. Trêmula, tirou o envelope dali, e abriu-o. Constatou que era uma carta do antigo amado, que a abandonara sem nunca mais tê-la procurado...
Era uma carta dele, na verdade um bilhete que dizia mais ou menos assim: “Rosana, minha bela amada. Contraí uma doença muito grave atendendo os doentes pobres na periferia de nossa cidade. Infelizmente, o bacilo de Hansen faz morada em meu corpo agora... Queria te ver e dizer-lhe que ainda te amo e sempre amarei! Se pudesse casaria contigo, não sei o que fazer... Apenas queria ainda te ver. Mas seus pais, muito educados e ponderados, pediram que não viesse vê-la em sua casa. Contudo, pediram-me para escrever-te e assim perguntar se ainda gostarias de ver-me uma última vez guardando as precauções médicas. Seu amado Apolônio”.
Só naquele instante, Rosana compreendeu que por uma infelicidade da vida, a carta enviada foi colocada por engano na caixa de correio antiga, há alguns metros distante da caixa nova construída. Esquecida pelo tempo, ninguém recordou daquele local que guardava a chave do segredo do abandono de um coração ansioso pelo amor e paixão.
Os pais haviam interpretado que a filha havia recebido a carta e entristecida não tivesse tido a coragem de ver o antigo amado por medo de doença tão grave e incurável à época. Não tocaram no assunto para não feri-la ainda mais e conhecendo a personalidade forte da filha, entenderam que a escolha estava feita e não deviam incomodá-la por isso... Essa é a história de Rosana que perdeu toda uma vida por não saber superar uma dificuldade aparente. Por egoísmo e orgulho, fechou-se em si mesma. Não teve a coragem de lutar por seu maior sonho e nem procurar saber o que houve, apenas por orgulho ferido...
Apolônio, também foi abandonado por seu amor, mas ao contrário de Rosana viveu feliz e procurou ser útil aos companheiros de desdita até o fim. E no leito de morte rezou assim: “Deus, abençoe meus amigos, meus familiares e todos os sofredores do mundo. Mas por favor, Senhor! Abençoe Rosana, minha amada! Esteja onde estiver, se um dia eu puder auxiliá-la a ser feliz, que seja feita a sua vontade!”
E foi ele, depois de retornar à pátria espiritual que intuiu a amada a procurar o documento que esclarecia o seu drama passado. Mas, não parou por aí... Apolônio, ampliando o amor que sentia por todos e por sua Rosana, continuou a intuí-la nos sonhos e na vigília para que ela procurasse recuperar o tempo perdido.
Ela passou a viver novamente! Em nome do amado de sua juventude passou a auxiliar mães solteiras e pessoas portadoras de doenças infelizes. Pagou muitos tratamentos, visitou muitos doentes, vários deles sem chances de sobrevivência. Doou um pouco do sorriso que havia esquecido na juventude e mais do que isso, aprendeu novamente a viver bem e feliz.
Atraiu bons pensamentos e boas energias e por mais quase quarenta anos auxiliou, alegrou e amparou famílias que viviam o drama de não terem condições de proporcionar um tratamento humano aos seus amados doentes.
Desencarnou também, em decorrência do enfraquecimento que teve por ter iniciado a mesma doença do amado no passado. Contudo, ainda se curou da hanseníase antes de partir, estimulada a viver pelos diversos abnegados amigos que havia feito nas últimas quatro décadas. Entretanto, as sequelas ficaram e por uma insuficiência pulmonar, numa noite o corpo físico pereceu, mas sua alma feliz desligou-se e acordou nos braços de Apolônio, seu eterno amor a lhe sorrir em todo esplendor!
Rosana – 22.04.13, psicografado por Jerônimo Marques.

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