Depoimento: Enxoval

Estava a me preparar. O casamento vinha a galope, chegando sem medos ou receios.  Apesar dos desacertos. Dificuldades familiares comuns a todos os noivados.
Preparava com carinho o enxoval. Meu noivo, Roberto, trabalhava para dar conta de tudo. Festa, igreja, amigos, parentes que aportariam de todas as partes do país.
Vivia meus sonhos de infância! Aproveitava do carinho e boa vontade de meu amado.  Ele oferecia-me tudo o que eu desejava. Sem hesitar, Roberto tudo fez para agradar-me. Tudo comprou e considerou todos os meus pedidos.
Só que de repente. Dois dias antes do casamento... Uma tragédia. Sofri um acidente horrível. Fiquei toda deformada, pensamento incapaz de raciocinar corretamente. Virei uma paralítica sem nenhum brilho ou beleza. Sobrevivi, mas morri por dentro. Meus sonhos de noiva se evaporaram. Nos primeiros dias não quis vê-lo. Mas ele sempre esteve a me esperar.
No dia que finalmente tive coragem de deixá-lo ver-me... Ele me olhou da mesma forma apaixonada. Por um instante, esqueci-me de que estava acabada para o mundo. A partir deste momento o meu amor por ele aumentou mais e mais.
O casamento? Pedi para cancelar deixando-o livre para seguir sua vida, fiquei surpresa ao ouvir: “Meu amor por ti não é mais o mesmo, realmente. É ainda maior! Quero casar-me de verdade contigo! Cuidar de ti!”. Colocou-me novamente uma aliança. A mesma de antes, mas agora com a grafia “Eu nunca te deixarei!”.
Casamo-nos com a presença de poucos, pois não queria que as pessoas me vissem naquele estado e pensassem que Roberto estava casando por compaixão. Todos os dias eu pensava nisso. “Ele não poderia me amar assim”.
Roberto precisou amar-me muito mais para provar a mim este enorme amor! Apesar da saúde frágil, tivemos um filho. Outro anjo em minha vida. Os dois amaram-me intensamente. Só pude reconhecer de verdade todo esse afeto, próximo ao meu desencarne, quando o nosso filho tinha os seus doze anos.
Quantas vezes tratei mal meu amado por não acreditar em seu amor? Pois, achava que o amor se baseava na beleza. Caso ele tivesse ficado no meu estado, confesso que o teria abandonado. Meu amor não era tão forte quanto o dele!
Parti para a pátria espiritual sem pedir perdão ao esposo e filho tão dedicados e amorosos. Meu orgulho foi muito grande. Amei-os! Contudo, minha forma de encarar a vida afastou-me deles.
Não permiti que a alegria de dois amores de épocas distantes estivessem comigo. Revoltei-me com as limitações e blasfemei. Fui uma tirana cheia de incompreensões... Achava que a vida tinha sido cruel comigo, na verdade sendo o contrário. Desperdicei chances, oportunidades e bênçãos por ter sido cuidada por dois anjos. Demorei a reconhecer tal fato de minha existência.
Agora, volto a me preparar para o mundo... Desta vez não terei anjos para me fortalecer. Desperdicei as oportunidades e preciso correr atrás do prejuízo. Vou recomeçar, primeiro reconhecendo os erros e depois, agindo.
Não terei mais a proteção material. Estarei só, abandonada de acordo com o que busquei naqueles dias, blasfemando contra os presentes da vida. Agora, não mais os terei para valorizá-los. Deus me dê forças! Amém!

Estela – 23.09.13, psicografado por Jerônimo Marques.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bora Viver

Livres

Culpabilidade