Nova Chance
Tenho um jeitinho meigo que engana o
próximo sobre a minha real personalidade. Reflito muito sobre a vida desde
quando me encontrava nos planos terrenos. Chamo-me Viviane... Sobrevivi às
catástrofes de uma guerra que deixou lastros de sangue e terror nos corações
que a presenciaram. A luta do poder nos países africanos sobre pedras
preciosas, pessoas; corpos vendidos sem consentimento para satisfazer os
desejos vis dos poderosos: e muitos desses diziam defender os direitos humanos.
Fui uma voluntária que lutou como um
soldado silencioso. Quando me formei em medicina tinha muitos sonhos e nenhum
deles estava ligado à riqueza, mas em servir o próximo. Talvez fosse uma
intuição dos compromissos firmados no plano espiritual sob a permissão de Deus
a fim de reparar os enganos cometidos. Foram tantos erros graves!
Inscrevi na Cruz Vermelha, entidade
internacional que atua em diversos países do mundo – inclusive existe tal
organização na pátria espiritual em grande escala. Rezem sempre em favor desta
atividade benfeitora do mundo que hoje vivem! Não apenas orem, mas auxiliem e
por gentileza descruzem os braços... rs.
Talvez vocês estejam questionando onde
se encontra a minha meiguice, escrevendo desta forma! Talvez eu esteja longe de
sê-la agora, mas sou com os meus pacientes: irmãos do meu coração, joias raras
que me ensinaram e ainda me ensinam a viver em paz comigo mesma! Com pouco
tempo de atividades na Cruz Vermelha estive em diversos países da Europa e
Ásia, mas quando cheguei à África pensei: “Aqui é o meu lugar!”. Quantos
sofrimentos e injustiças a serem combatidos.
- Não cometa loucuras Vivi –
orientava-me um colega. Não lute além de suas forças, faça seu trabalho e não
desafie o pessoal deste local. Os poderosos realmente são poderosos e matam por
qualquer motivo, sem piedade e com muita brutalidade!
- Não tenho medo da morte Torben – era
um amigo holandês.
- Mas deveria ter, pois aqui não se
pode brincar! – Ele vivera no Brasil alguns anos antes. Mas só o conheci nas
andanças com o trabalho da Cruz Vermelha.
Apesar de não querer ouvir os conselhos
do querido amigo, percebi que seria inteligente segui-los ao menos na
aparência. Realmente os poderosos daquela região eram muito perigosos, ainda
mais para uma mulher que é considerada um objeto a mercê do homem.
A partir deste momento passei a ser uma
meiga médica brasileira aos olhos daquelas pessoas. Era sempre solícita e
inteligente a fim de ganhar a confiança destes poderosos e quando possível agia
em favor dos meus amados pacientes. Consegui salvar muitas vidas, vários foram
libertos com o meu auxílio e a de Torben e outros companheiros... Era algo
muito arriscado e perigoso, infelizmente, nem tudo dava certo. Foi o que
aconteceu com o próprio Torben, mas por minha culpa. Esse foi um momento que me
arrependi amargamente pelos atos impensados.
Certo dia, arrisquei demais para tirar
algumas meninas das garras de um poderoso. Infelizmente, a pedofilia era e
ainda continua sendo um grande problema nestes países. Eram cinco meninas
abusadas não apenas sexual, mas moralmente por um daqueles que deveria defender
os direitos humanos... Uma das jovens sofrera tamanha violência que falecera em
meus braços. Uma situação no mínimo lastimável! Naquele mesmo dia, havia uma
recepção social... Fui enfurecida ao evento, Torben tentou me impedir, mas
quando coloco algo na cabeça é difícil tirar.
Então, o amigo querido decidiu me
acompanhar. Aproximei do agressor daquela jovem que falecera em meus braços e
ofereci uma dança, fiz o joguinho barato. Seduzi-o, foi bastante nojento... Ele
levou-me ao quarto dele no hotel... Naquele recinto iria devolver a altura o
que ele havia feito com aquela menina... Eu o enrolei e envenenei a comida e a
bebida dele... Mas Torben, sabendo de meus planos, esperou eu sair e mesmo
encontrando o agressor debatendo-se asfixiado pelo efeito do veneno, decidiu
atirar naquele corpo quase morto.
Torben tentou fugir, mas foi pego dois
dias depois. Antes de partir, confessou que me amava. Parece uma história de
cinema! Falou ao meu coração que não permitiria a minha prisão, a qual sofreria
consequências terríveis daquele gesto impensado. Fez-me prometer maior cuidado
e discrição dali em diante, independente da situação.
Talvez não o amasse nesta perspectiva,
mas era um homem admirável, amigo inesquecível! Talvez o amasse, mas cega pelo
trabalho e ideais de salvar vidas o deixei ir no meu lugar acompanhado pelo
sacrifício a fim de continuar na luta em prol dos direitos humanos...
Assassinei uma pessoa em nome da justiça que a bem da verdade não cabe a eu ser
a juíza.
Fugi e me escondi por muito tempo, mas
sempre auxiliando, lutando pelos mesmos ideais. Levei comigo três daquelas
jovens, e consegui encaminhá-las para outras nações onde estariam protegidas
através dos contatos que a Cruz Vermelha possui no mundo inteiro. Aliás, a Cruz
também auxilia as pessoas social e psicologicamente.
Depois de muitos
anos consegui provar a inocência de Torben que havia sido preso, torturado e
morto... Através de algumas provas alcançadas por outros amigos, levei ao Tribunal
Internacional alguns destes poderosos, infelizmente, a maioria teve a pena
mínima e que foi cumprida com privilégios e apenas um é que sofreu grandes
consequências, esse era o “peixe pequeno” daquela máfia... Alguns dos grandes
que até foram condenados, não puderam ser presos por se asilarem em países que
lhes deram guarida aos crimes por via de obterem vantagens econômicas.
Enquanto isso, permaneci vivendo em
nome da medicina e do auxílio às pessoas necessitadas nas diversas situações.
Fosse de guerra civil, epidemias, tráfico humano, drogas. Desde a partida de
Torben, passei a agir com cuidado e silenciosamente, mas com eficiência. Apenas
auxiliei com a medicina, para salvar vidas e não tirá-las, por pior que fosse a
pessoa.
Desencarnei numa das florestas do Congo
em missão de socorro a uma epidemia de malária. Tive complicações variadas
devido à doença mencionada, mas que foram acentuadas com uma pneumonia e outras
infecções. Ao desencarnar, fui recebida por diversas pessoas auxiliadas... Mas
não estava em paz comigo mesma, pois me sentia responsável pela morte de Torben
e também daquele homem.
Fiquei em desequilíbrio, apesar de ter
sido levada a um hospital. Depois de um tempo, quando aceitei melhor a situação
e comecei a pedir perdão a um Deus que não pensava muito em vida, Torben veio
me visitar, ou melhor, a partir deste momento pude vê-lo já que ele me
informara que sempre esteve por perto, ao meu lado.
Depois do refazimento das forças,
Torben levou-me ao Instituto Flor de Luz. Ele esclareceu-me que neste local eu
obteria novos conhecimentos e poderia continuar minhas atividades de auxílio.
Como tive um trauma grande com relação a alguns homens serem tão infelizes com
a vida humana, falou-me que seria bom ter mais contato com mulheres, por enquanto,
a fim de me preparar.
- Preparar para quê?
- Você sabe, Vivi! Sua consciência lhe
pede algo desde muito...
- Tem razão...
- Mas para ajudá-lo e pedir perdão a
ele, você deve se preparar. Não será tão fácil quanto foi comigo... rs... Até
porque eu te amo e você não teve culpa no meu caso.
- Tive sim!
- Você não irá mudar minha convicção.
Mas o caso agora é o seu arrependimento e a necessidade de libertar-se desta
culpa, porém deve está preparada para tal.
Agora me encontro na fase final de
preparação! Devo nos próximos dias ir ao encontro de minha vítima, pedir perdão
e auxiliá-lo... Os amigos superiores aconselharam-me, caso ele aceite, retornar
ao plano terreno e ao lado de Torben a fim de sermos os pais de nossa vítima.
Teremos a oportunidade de reparar os nossos erros e principalmente de amá-lo e
educá-lo para respeitar o próximo! Deus é maravilhoso! Nunca havia pensado que
de um crime pudesse nascer uma família em nova oportunidade com o objetivo do
perdão, esclarecimento e evolução de sentimentos!
Apesar do medo desta jornada perto de
seu início, penso que foi a melhor solução encontrada e já vibro em alegria
pela possibilidade de retribuir o que recebi deste lado. Perdoar para ser
perdoada. Doar para receber novamente, compreender para ser compreendida e amar
para ser amada!
Obrigada! Vivi – 02.12.13, psicografado
por Jerônimo Marques.
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