Nunca Estamos Abandonados

Em meio a uma guerra, um soldado surge em campo de batalha desprendido de todo medo e descrente de toda a vida! Lutando ao lado dos aliados, vai de peito aberto para o encontro da morte, seja matando os inimigos, seja esperando para morrer com um tiro no peito ou na cabeça...
Ele corre rumo ao desperdício de sua vida... Uma forma de suicídio direto, por estar desiludido e desesperançoso. Quando de repente, sente um impacto acima do peito esquerdo, próximo ao ombro, cai, desfalece ali mesmo... No campo de batalha com muita dor, embora soubesse que não morreria naquele momento. Horas depois é resgatado e vai ao hospital improvisado no campo de concentração com sua equipe. No recinto conhece Antony. Um inglês radicado na França que era um jovem talentoso para pintar.
Antony procurou logo de cara chamar a atenção de Giordano Manore, um soldado italiano que não se importava mais com a própria vida... Na sua visão, Deus lhe tirara tudo! Os pais ainda cedo, embora tenha ficado com uma tia que o tratasse como filho, a namorada a qual adoecera pouco antes da guerra e logo desencarnara vítima da cólera.
Num estado de apatia, Giordano nem ao menos prestava atenção em Antony, ainda em recuperação de um tiro na perna direita. Antony era sempre solícito e tentava animar o vizinho de leito naquela enfermaria que muitas vezes era muito conturbada, agitada devido o sofrimento dos feridos de guerra e algumas famílias mais pobres que não tinha condição de auxiliar um ex-soldado que muitas vezes voltava meio enlouquecido. Mesmo assim, Antony não desistira de Giordano, ainda apático e com vontade de morrer para se juntar aos seus que já haviam partido.
Desta forma, fez um quadro belo de uma garota de cabelos castanhos claros dançando ao longe uma dança de balé. Tentou mostrar à Giordano o qual não se manifestou para ver. Pintou também um rosto sorridente ao fundo, portador de traços um pouco difuso e sem tanta claridade assim... Sempre que podia Antony, tentava conversar e animar Giordano que sempre se enfadava e não queria muito papo com o pintor o qual tinha um lindo e motivante sorriso...
Estava constantemente animando as pessoas, fazendo piadinhas, contando belas histórias... Quando numa manhã de inverno, Giordano não viu o “amigo” no leito do lado... Não se preocupou muito, porque muitas vezes os pacientes passavam por avaliações mais demoradas... Passou o dia, outros dias, uma semana e nada do Antony. Começou então, o italiano, a sentir uma espécie de saudade em seu coração... Quando pediu uma informação sobre o paradeiro do companheiro de leito, ficou perplexo ao ouvir a resposta da enfermeira...
- Você não sabe? Ele morreu há dez dias! Era uma pessoa admirável, encantadora!
- Morreu... De quê?
- Ele tinha muitas dificuldades, deficiências... Muitos não se recuperam totalmente de uma paraplegia, insuficiência renal e produção de defesas naturais para o seu organismo... O mais interessante é que o médico afirmou que ele morreria em poucos dias, devido ao tipo sanguíneo mais raro e ele durou alguns bons meses... Mais de um ano com toda certeza! - Giordano balbuciou meio arrependido...
- Inclusive ele deixou um quadro para você... Acredito que foi o melhor amigo dele!?
- Melhor amigo?
- Era o que ele dizia! Se tiver que confiar em alguém, confie nele, em Giordano!
- Um... Não sabia... – disse sem jeito.
- Ele pediu para entregar este quadro em suas mãos.
Neste momento Giordano emociona-se: era o mesmo quadro já citado. Ele reconheceu a namorada a qual partira antes da guerra e ganhara um concurso de dança. Depois reconheceu os pais que haviam partido, esses pareciam sorrir para ele... Giordano sentiu que os pais estavam a lhe rogar para não desistir de seus sonhos e muito menos de ajudar o próximo... Emocionado, guardou o quadro como fonte inspiradora. Não sabia explicar como seu amigo de leito poderia ter pintado os seus queridos familiares e amor de sua vida sem nunca tê-los visto... Seria ele um anjo? Não saberia responder... Mas com certeza de alguma forma pensara que Deus não desistira dele! Após voltar da guerra usou aquele quadro como incentivo para auxiliar um pouco mais os outros, ainda por cima com alegria de fazer sua parte.
Giordano não foi um artista pintor, escultor, ator... Mas foi pela arte, aliada a amizade que soube valorizar o amigo que partiu, o qual lhe ofereceu a motivação para voltar a sorrir, a auxiliar o próximo, a secar as lágrimas alheias e acalentar corações... Como ele mesmo havia necessitado um dia...

Jesair Pedinte – 26.06.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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