Comida e Arte

Gepeto acordava cedo todos os dias, enquanto os demais repousavam como na história do Pinóquio. Contudo, nosso amigo era padeiro... Homem só, sem família e muitos amigos, com dificuldades de se expressar no mundo, pois era mudo e surdo... Com suas deficiências, tornou-se tímido, embora de grande coração e habilidades impressionantes ao cidadão comum.
Justamente por ser mudo e surdo, era um indivíduo que conseguia muito se concentrar no que realizava. Desde cedo, aprendera com sua mãezinha, a qual se encontra na pátria espiritual, a cozinhar, mas principalmente o ofício de padeiro, embora ela nunca tinha trabalhado como tal.
Gepeto, homem comum, um pouco acima do peso, com seus quarenta e poucos anos, era calvo, cabelos bem pretos e lisos. Sorriso fácil e andar molenga, olhos bem negros... Trabalhava numa padaria de um italiano, um dos seus únicos amigos de sua vida. Aliás, trabalhava e morava no recinto citado. Num quartinho acima da padaria, pois família não mais tinha... acordava cedo, às três horas da manhã para começar a criar, assar seus pães, roscas, biscoitos e todo tipo de guloseimas deliciosas confeccionar.
Por anos e anos fez como qualquer padeiro. Levantava cedo, fazia a cota de pães e outros itens de padaria para vender logo cedinho. A padaria de seu amigo era muito movimentada e o trabalho extenso. Mas Gepeto não reclamava, apenas sorridente trabalhava. Conquanto, certo dia, quando acabara de completar quarenta e cinco anos, acordou ainda mais sorridente e disposto... E ao invés de apenas fazer seus pães, começou a criar novos pães, novas roscas, novos sabores de biscoitos, croissant, e todo tipo de salgados e doces, mas com formatos de pessoas, bichos, objetos em tamanha perfeição, que era inacreditável.
O que fora mais engraçado e inexplicável é que ele nunca fizera algo parecido antes. Apenas sonhou na noite anterior que ele poderia fazer e acordou com aquilo na cabeça e começou a produzir...
Chegando na padaria pela manhã, o amigo e dono ficou embasbacado com toda aquela linda produção... Custou a crer que havia sido Gepeto que fizera todas aquelas guloseimas. Mas quando compreendeu que havia sido ele, abraçou-o sorridente e disse, embora Gepeto não escutasse: “Mama mia! Gepeto, você é um artista!”
Daquele dia em diante, a padaria do amigo italiano passou a ser ainda mais movimentada, clientes começaram a surgir de outros lugares, outras cidades e depois de um tempo, de outros países!
Gepeto tornara-se não apenas um padeiro, mas um artista padeiro! Genaro, seu amigo e dono do estabelecimento, reformara o local e deixara de forma que os clientes vissem Gepeto fazer sua arte! Ele além de fazer bem feito, dava formas às massas com impressionante rapidez!
No plano espiritual, um amigo de longa data trabalhava ao lado de Gepeto, inspirando-o na criação das formas. Os dois haviam sido grandes escultores, pintores em outras existências. Embora tenham caído pelo orgulho, prepotência, maledicência, agora Gepeto retornara mudo, surdo, para não mais cair pela “língua” mal utilizada, e sem ouvir elogios para o ego não inflar e sua humildade trabalhar.
Os dois criavam formas belíssimas! Tão belas que não raras vezes os clientes não compravam porque gostavam do quitute, mas pela beleza da arte. Gepeto sentia-se alegre por fazer os outros alegres! Isso lhe bastava.
Mas onde está a caridade? Primeiro no exemplo de vida de um indivíduo com deficiências ser um artista agradável, humilde e feliz! Depois, Gepeto nunca desejou nada além de uma moradia e alimentação. Quando Genaro lhe ofereceu um salário maior, Gepeto não aceitou, mas propôs que o aumento fosse direcionado à comunidade da periferia da cidade... Além disso, várias vezes os dois amigos levaram o pão e algo mais de comer aos carentes, sem fazer qualquer alarde. Apenas pelo prazer de realizar!
Por fim, assim viveram os dois amigos e os que lhes rodeavam. Aprendendo a compartilhar o que tinham de melhor com os menos favorecidos e também com os que lhes pagavam pelo suor do trabalho. Levavam não só – literalmente - o pão material, mas o pão do espírito com a alegria no rosto e vontade de nunca parar de fazer o bem!
Oh! Artistas da Terra! A arte se expressa nas mais variadas atividades! Um padeiro, um cozinheiro, um pedreiro, um jardineiro, um faxineiro e todos que fazem seu labor com amor e criatividade, além de muita competência, são artistas da evolução humana! Infelizmente desprezados, não raramente! Viva os artistas anônimos que fazem a diferença no mundo, hoje, agora e sempre!

Jesair Pedinte e Sodré, o ritmista – 06.06.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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