Recordando Uma Véspera de Natal

 

Recordando Uma Véspera de Natal

Era uma noite de véspera de Natal. Guilherme, um pobre menino estava perambulando pelas ruas... Apesar do clima quente do país tropical, chovia bastante naqueles dias... Ele que não tinha mais os pais que morreram num acidente quando ele era bebê, vivia nas ruas desde os seis anos, após fugir do orfanato, depois de ter fugido de uma casa em que havia sido adotado...

Era uma situação triste... Hoje com oito anos, era um menino esperto e inteligente, mas desorientado, por não possuir alguém que lhe ensinasse e domasse algumas de suas inclinações negativas do espírito imortal... Aliás, quem não as tem? Se não educadas, trabalhadas, apenas são denegridas ainda mais.

Guilherme tinha a sua turminha que roubava algumas coisas para poder comer, roubava alguns brinquedos para poder brincar, e fazia arte que não respeitava os bens alheios ou públicos pelo prazer de descontar sua revolta e ódio pela vida que vivia ele e seus amigos...

Mas naquela noite, parecia que era diferente... Ele, sem saber o porquê isolou-se dos demais e passou a andar a esmo... Não sabia o que iria fazer e nem porque estava fazendo aquilo... Choveu bastante no entardecer e por isso ele ficara preso num lugar que ele não se sentia muito bem... Mas quando resolvera seguir caminho, eis que surgira um pequeno coro de vozes infantis, perto dali... De onde Guilherme estava.

Foi então atraído pela curiosidade natural em admirar a beleza das coisas. Era uma apresentação pública de um pequeno coro infantil. Era realmente muito simples e belo. Eles cantaram músicas conhecidas e outras nem tanto... Guilherme, pela primeira vez escutara aquelas músicas com a alma e chorou... Estava com fome, estava com frio... E numa pausa das apresentações, a turminha ganhou um lanche. Guilherme estava com fome, mas desta vez não queria roubar nada... E olha que ele teve oportunidade... Então resolveu pedir... Mas nem precisou...

Suzana, uma garotinha da mesma idade de Guilherme, olhou em seus olhos, percebendo suas intenções e perguntou:

- Você quer que eu pegue um lanche pra você?

Guilherme ficou surpreso e quase sem ação... Só conseguiu balançar a cabeça afirmativamente. Ela foi espontaneamente até sua professora e pediu o lanche. Logo as duas estavam na frente do menino que quase fugiu... Só não o fez porque suas pernas estavam bambas e não lhe obedeciam...

Elas ofereceram o lanche e um sorriso. Ao mesmo tempo deram atenção e carinho com as palavras e gestos... Perguntaram-lhe se ele gostava de cantar. Ele disse que sim. Vivia cantando quando estava sozinho...

- Você sabe cantar Bate o Sino? – perguntou a professora.

- Sim! Sei sim! Quer ver? – a professora sorrindo fez que sim com a cabeça e Guilherme cantou com a alma.

Tinha uma bela voz o menino! Então, Eduarda, a professora teve uma ideia.

- Guilherme. Você não quer cantar hoje com a gente? Só falta essa música. É só você cantar junto com os outros e não sozinho. O que acha?

- Eu não estou bem vestido... – disse com vergonha.

- Eu lhe arrumo a vestimenta.

- E eu ajudo ele a colocar! – falou empolgada Suzana.

E foi assim... Minutos depois Guilherme estava lá, ao lado de Suzana e os colegas, cantando Bate o Sino.

Mais tarde, Eduarda, que era também a mãe de Suzana, convida Guilherme para a ceia de Natal da família.

Os dias vão passando. E Guilherme vai ficando... Conquistando os corações que lhe conquistaram logo no primeiro dia! Sentia-se em casa, numa casa que nunca tivera e vira... Era tratado com carinho e alegria. Respeito e simpatia!

Um ano depois, Guilherme estava estudando na mesma escola de Suzana, embora em série anterior devido a falta de estudo. Mas ele era inteligente e se tornara um bom aluno. Um ano depois, estava ele novamente no coral. Mas agora oficialmente! E agora com uma participação solo, pois com muito esforço, dedicação, orientação e ensaios, conquistara essa oportunidade aproveitando seu talento, sua voz...

Mais algum tempo se passou, fora oficialmente adotado por Eduarda, tornando-se irmão de criação de Suzana que sempre o incentivava...

Anos mais tarde, estava ali Guilherme novamente... Agora no lugar de Eduarda já aposentada. Tornara-se professor de música. Mais do que isso, tornara-se inspiração para muitos. Criara um coral para crianças em situação de risco! Crianças carentes e sem muitas oportunidades. Organizara um espaço para os ensaios. Recebia doações para dar alimentação, roupas, calçados e até materiais escolares, mas procurava incentivar os estudos e só podiam permanecer no coral, os alunos que se esforçavam para estar frequentes na escola e tirando boas notas. Tudo com bom senso.

Não ficara rico financeiramente, afinal, a vida dos professores no país tropical, no país do futebol, é ainda mais uma missão do que profissão. Mas querem saber? Ficara rico de felicidade! Rico de amor! Pois simplesmente aprendera a doar o bem que recebera um dia.

E quem diria. Uma simples canção natalina que o chamara a atenção. Um simples gesto de um olhar e um lanche. Simples palavras amigas! Um simples convite para uma ceia! Seguindo os ensinos do Cristo: repartir o pão!

Aprendamos com esta singela história o valor da arte quando aliada da caridade tem o poder de transformar vidas hoje e sempre!

Jesair e amiGOS

 

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