Um Traço no Papel

 

Um traço no Papel

Era uma vez, uma menina chamada Esperança. De cabelos cacheados e sorriso fácil... Carinhosa e dócil para com tudo e todos. Era como uma florzinha nascendo em meio ao pântano que a rodeava em vida.

Nascera num lar desajustado. Com pai trabalhador, embora quase sempre alcoolizado... E mãe ausente interessada apenas nos gastos, novelas e outros tratos...

Esperança vivia feliz, embora sua vida não fosse tão esperançosa assim... Provavelmente não muito feliz... Às vezes passava fome... Às vezes não tinha o que vestir e nem o que calçar...

Quando chegou a idade de estudar... Seus pais não se interessaram tanto em colocá-la na escola pelo fato dela saber, aprender, mas sim, porque o fato dela ir à escola, o governo daria uma quantia em dinheiro todos os meses.

Compraram uma roupinha para ela. Cadernos e lápis, tudo direitinho. Até chegaram a se empolgar com a ideia de Esperança estudar... Mas na verdade, fora mesmo apenas empolgação... Com os dias se passando, toda aquela pequena atenção se arrefecera e agora, era ela com ela mesma.

Ninguém a acompanhava até à escola, ou lhe tomava as lições... Nada do que deveriam fazer como pais que eram, estava sendo feito. Ainda assim, Esperança era feliz por ir à escola. Gostava de estudar e também de desenhar.

Aos poucos Esperança foi crescendo, assim como seu aprendizado e talento. Com poucos anos, ela demonstrara muita habilidade nos traços em papeis... Desenhava com facilidade qualquer coisa.

Um dia, no dia dos Pais, ela fez um desenho do rosto de seu pai sorrindo... Todos na escola se admiraram, mas quando ela chegou em casa, o genitor estava bêbado e ao olhar o desenho feito em sua homenagem, não gostou... Rasgou o trabalho da garota na sua frente e a xingou, colocou de castigo para que nunca mais fizesse aquilo!

- Que você não invente essa história de me desenhar! Num sou bandido pra ter retrato falado!

A mãe mesmo achando o desenho bonito, nada fez... Ela não tinha irmãos e portanto, não tinha quem compartilhar o que produzia.

Fazia vários desenhos de sua vida... Autos-retratos eram constantes... A maioria feliz, mas uma parte ela desenhava cenas tristes do pai alcoolizado, e a mãe com uma languidez presente, constante!

O tempo passou... Nossa querida Esperança se tornou uma moça... Era muito querida na escola pelos professores e colegas. Tinha um namorado, mas ele não estava interessado a não ser em sua beleza. Por que... Ah! Esperança era uma moça bela! Olhos castanhos claros e seus cabelos cacheados e castanhos como os olhos, corpo bem definido, era realmente uma linda garota!

Ela era considerada uma ótima aluna, mas não tinha condições financeiras de enfrentar o temível vestibular. No entanto, a conselho de vários colegas e de um professor ela foi em frente. Fazendo alguns bicos arrumou dinheiro para fazer algumas inscrições de vestibular.

Como resultado, faculdade! Deu certo e seus desenhos e técnicas aprendidas tinham ampla aceitação perante as outras pessoas. Fazendo artes plásticas, desenvolveu outras habilidades relacionadas ao desenho. A pintura e a escultura foram suas prediletas. Embora não tivesse deixado para trás os desenhos...

Esperança, muitas vezes incompreendida pelos genitores em casa, acabava escondendo ao máximo o que fazia para manter o mínimo de paz no lar... Entretanto, um dia o pai descobriu o que ela fazia, o que ela estudava e deu duas escolhas para ela:

- Ou larga isso e vai trabalhar de verdade, colocar dinheiro em casa, ou sai desta casa!

Com aperto no coração, ela acabou saindo de casa para não deixar a sua arte para trás. Buscou trabalho e conseguiu como atendente de lanchonete. Estudava de manhã e trabalhava de tarde e até de noite. Fez isso até se formar. Os desenhos e as pequenas pinturas e esculturas que fazia de acordo com os pedidos que chegavam à ela, ajudaram a se sustentar.

Aos poucos foi ficando conhecida, com certa fama pelo seu talento e dedicação à arte. Principalmente a pintura. Foi se especializando e com o tempo seus quadros passaram a ser procurados... Neste tempo, não tinha namorados ou relacionamentos, pois desde o primeiro namorado, desiludiu-se com os homens, por ver que só se interessavam pela sua beleza e coisas fúteis na vida.

Certo dia conheceu um homem bom. Não era tão belo assim, mas era muito educado, simpático e admirador das artes. Os dois se apaixonaram e se casaram. Ele ajudou-a a divulgar seu trabalho. Mas acima de tudo, ajudou-a a ver que havia muito mais coisas importantes na vida. Como ajudar os outros.

Com seu talento ela passou a dedicar parte de suas criações para serem vendidas em nome de instituições de caridade que necessitavam de renda. A cada três quadros que ela pintava, um era destinado para essas instituições.

Com o tempo, seus quadros passaram a valer muito mais. E com o dinheiro dos leilões e vendas de suas obras, passou a realmente contribuir significativamente com as mesmas.

- Mas parece que falta algo, meu amor? – dizia Esperança para Zéfiro, seu amado.

- Acho que sei o que te falta.

- O quê?

- Ajudar os outros diretamente.

- Eu já não faço isso, meu amor?

- Sim e não. Você precisa ter contato com os menos favorecidos. Entregar as suas doações nas mãos dos carentes...

- Então farei isso daqui para frente.

E assim foi feito. Com o dinheiro das vendas, ela comprava o que as instituições necessitavam e ia pessoalmente entregar. O carinho era tanto que ela preenchera as lacunas em seu coração! Agora sim, parecia não faltar mais nada. Pelo menos por um tempo.

- Acho que ainda falta algo amor?

- O quê?

- Gostaria de fazer mais?

- Por que você não ensina a sua arte para as pessoas?

- Mas eu já faço isso...

- Não... Eu quero dizer, de graça! Apenas para compartilhar o que sabe fazer...

- Ser professora?

- Sim, mas uma professora que em alguns momentos não precisa nem ser remunerada...

E assim foi feito... Começou a ensinar as crianças desde pequenas. Com um traço apenas iniciava a jornada e aos poucos outros traços apareciam e tudo ia ficando lindo. Talvez nem tanto os desenhos, mas os sorrisos, a esperança nos corações e na vida daqueles “entezinhos” de Deus!

No fim da vida. Eram tantos os beneficiados por Esperança e Zéfiro que também era pintor, poeta e músico, que não cabiam de contentamento. Era uma paz sem fim! Pois souberam expor e compartilhar seus talentos! Dividir os frutos e buscar sempre levar aos menos favorecidos o muito que tinham alcançado e conseguido.

Ah! Se pensam que Esperança saiu de casa aquela feita e nunca mais voltara, ledo engano. Ela sempre retornava levando um pouco de seus frutos e rendas. Mas sobretudo carinho, incentivado pelo seu amado e amigo Zéfiro. Quando os genitores ficaram doentes, os dois cuidaram com dedicação até o último momento. Doando todo o carinho e todo tempo.

Esperança se tornou sim uma artista na vida, mas principalmente uma artista que doava alegrias, esperanças como seu próprio nome dizia! A arte? Foi apenas meio para que ela alcançasse os corações e tocasse com lindas emoções!

Jesair e amiGOS – 30.10.15

 

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