Antes de Ser Artista, Seja Bom

 

Antes de Ser Artista, Seja Bom

Era um garoto que tinha um sonho, como todo garoto e garota que pensa no futuro e deseja algum dia ser feliz e reconhecido como alguém importante na vida.

Seu sonho era ser um músico de talento, mas a pobreza de sua família não lhe permitia frequentar aulas de música, pois precisava ajudar a sustentar a si mesmo e aos irmãos em grave situação. Era o terceiro de oito queridos filhos de pobre casal bom e humilde, embora meio sem juízo...

Desde cedo, muito pequeno, saía da escola para vender balas nos sinaleiros, ajudar a mãe nas faxinas das casas, o pai a catar lata e papelão nas ruas... Comia duas vezes por dia... Uma vez na escola, e outra em casa... Andava muitas vezes descalço, pois as chinelas que ganhava de alguém e eram usadas, não aguentavam muito tempo de uso nos quilômetros e quilômetros de caminhada...

À noite, André, era o nome do menino sonhador, mal se deitava e apagava de tão cansado que ficava. Sonhava muitas vezes que estava tocando algum instrumento para grandes plateias. Sonhava que também cantava... Mas pobrezinho, sempre nas melhores partes, quando seria ovacionado pelos espectadores, acordava...

Cresceu aos poucos, sempre com tamanha dificuldade. Perdeu dois irmãos por doenças provenientes da falta de condições de higiene e saúde do local onde moravam... Perdeu mais outra pelo tráfico de drogas existente na região... O mais velho, quando já tinha dezenove anos, sumiu pelo mundo, não aguentando mais aquela vida miserável... O mais novo, ficou doente e perdeu os movimentos do corpo, ficando praticamente sem forças para fazer as coisas mais simples...

Restaram apenas ele e mais dois irmãos.... Um era preguiçoso e a outra muito sonhadora, acreditando que um dia, o príncipe a tiraria daquela vida pobre...

O quadro assim “pintado” parece terrível, mas na verdade era benção divina àquela família humilde. O tempo foi passando... André, terminou a escola, mas não pode ir para a faculdade. Sonhara em ser músico, mas nunca tivera tempo de aprender a tocar algo, embora tivesse uma voz agradável.

Sempre que começava algo neste sentido, alguma coisa acontecia em casa que lhe tirava o pouco tempo de sobra para se dedicar ao seu sonho. O irmão doente, uma dívida do outro preguiçoso, as vontades da irmã sonhadora, a velhice dos pais...

E lá estava André, sempre a se sacrificar... E seu sonho sempre a adiar! Trabalhava duro em dois empregos. Principalmente quando os pais também adoeceram... Se desdobrava para cuidar dos pais e do irmão doente nas madrugadas mal dormidas, e nos finais de semana em que poderia lhe sobrar algum tempo.

Sacrificou ainda o sonho de ter uma família... Não encontrara nenhuma companheira a sacrificar tanto assim pelos familiares dele... Um a um, os seus espaços e raros relacionamentos terminaram em pouco tempo devido aos sacrifícios pelos familiares.

Os pais o advertiam e pediam para deixá-los se virarem... Mas quem cuidaria deles...? Depois de muitos anos, já na casa dos cinquenta anos, as coisas haviam melhorado um pouco. A irmã sonhadora não achou um príncipe, mas encontrou um bom homem. O preguiçoso conseguiu encontrar um trabalho que lhe interessava e o incentivava a trabalhar um pouco. Não ganhava muito, mas lhe tirara do marasmo.

Já o irmão doente finalmente voltara à pátria do espírito. Restara apenas os pais já bem velhinhos e cada vez mais dependentes... Numa destes acontecimentos calmos, amenos, os dois foram chamados de volta pelo Senhor dos Mundos, em desenlace tranquilo e feliz. Adormeceram e não mais acordaram... O que não deixou de ser um choque para André que amava muito os seus genitores, mesmo diante de todas as dificuldades que vivera até ali, muito pela leviandade dos mesmos em não saber guardar o suficiente para cuidar do bem-estar dos filhos...

André, pela manhã os achou já com os corpos endurecidos, e o pai segurava uma carta entre os dedos da mão direita... Foi um pouco difícil retirar a mesma, mas logo André viu que aquela carta era para ele que já não continha as lágrimas saudosas.

“Meu filho querido, André!

Sua mãe e eu sabemos que não fomos os melhores pais que você podia ter... Mas tenha certeza que você foi o melhor filho que Deus nos concedeu, mesmo sabendo que não merecíamos tanto...

Temos certeza que você meu filho, nada fez do que queria em vida, por nossa causa. Para cuidar de nós, quando nós é que tínhamos que cuidar de você e dos seus irmãos...

Perdoa a gente, meu filho! Perdoa esse seu pai sem juízo e sua mãe que foi tão relaxada com você... Nós achávamos que a gente fazia o melhor, mas hoje vemos que não foi nada disso... Outro dia, nós vimos seus olhos vermelhos de cansaço... E também de tristeza... E pensamos... ‘nosso filho é nosso Pai e nossa Mãe minha velha. Ele fez tudo que a gente tinha que fazer por ele... Tá na hora de dar algo de volta pra ele.’

Sua mãe ficou feliz com esse pensamento e a gente andava guardando um dinheiro pra você poder ter seu sonho... Aprender a ser um músico... Não é muito, mas agora você vai ter tempo, pois logo a gente vai pro outro mundo e você vai ficar sozinho. Não vai precisar trabalhar tanto e vai sobrar tempo pra você seguir atrás dos sonhos.

É isso meu filho! A gente te ama muito! E te pede perdão por tudo que não fomos pra você! Seja feliz!

Seu pai e sua mãe”

Junto com o envelope havia um dinheiro que na verdade só deu para pagar as despesas do velório, mas que foi de grande ajuda para André que sentiu muito a perda dos seus queridos genitores.

Voltando para casa, ao sair do ônibus algumas quadras antes para andar e pensar na vida, sofreu um acidente, sendo atropelado por uma senhora... Ela perdera o freio e apesar da baixa velocidade, ainda o acertou... Prestou todos os socorros e buscou oferecer o necessário para sua recuperação no hospital.

No final das contas, André perdera alguns movimentos do lado direito do corpo, mas encontrara na senhora que o atropelara, um amor. Ela que era uma mulher viúva, com os dois filhos criados, acabou se unindo ao nosso amigo e cuidando dele, como ele nunca fora cuidado, nem quando esteve doente, com febre e fome em sua juventude e madureza de vida...

Dez anos depois, André desencarna outra vez... Não conseguira seguir o seu sonho de ser músico, um artista perante o mundo... Mas André, foi um artista da vida!

Do outro lado, quando o recebi num abraço carinhoso ele me disse com olhos cheios de lágrimas....

- Perdoe-me meu amigo... Não consegui seguir meu maior sonho de ser um músico e levar alegria às pessoas...

- Isso pouco importa meu amigo! – falei-lhe. Você foi um músico que tocou as cordas da bondade e do sacrifício dos seus sonhos pelos outros!

- Isso foi assim porque eu tinha um carma, como diziam alguns conhecidos meus na Terra?

- Ah! Não... Não... Você teve escolhas e as fez! Estava preparado para ser realmente um músico talentoso e reconhecido se quisesse esquecer dos outros e seguir seu maior sonho, mas escolheu auxiliar primeiro e deixar o sonho para depois! Aprendeu a arte de amar! Se todos os artistas aprendessem isso primeiramente, seriam artistas divinos!

Emocionado, ele ainda perguntou timidamente:

- E agora? O que faço?

- Venha ver os seus para que eles te agradeçam... E depois, vamos seguir atrás de seu sonho de ser músico! Há muito trabalho para boas pessoas que desejam usar a arte para o bem!

Ao levá-lo para nossa cidade, ele pode rever os pais, os irmãos que ficaram, os amigos que ele anonimamente auxiliou e todos os que o admiraram e ele nunca ficara sabendo... Eram dezenas, ou melhor, centenas de pessoas a querer lhe abraçar e agradecer!

Hoje André se prepara para retornar, agora sim ele terá condições de não só fazer o bem para os outros, mas aliar tudo isso com a arte que ele tanto ama, a música! Deus o abençoe! Estaremos ao lado dele!

Jesair e amiGOS 

 

 

 

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