Depoimento: A Dama da Noite

Como uma ponta de lápis no papel... Há muito tempo espero esta oportunidade. Vir aqui e compartilhar o meu sofrimento particular... É difícil encontrar as palavras certas que não esbarrem no filtro de nosso amigo escrevente. Mas dizem por aqui que tudo na vida depende de nosso esforço, do que fazemos. Nossa querida segunda mãe, Abigail, sempre nos diz que compartilhar as experiências, desde que estejamos prontas, é o melhor remédio para expurgar as dores e incertezas da vida.
Dessa forma, aqui estou! Fui bela mulher na Terra. Deslumbrante e exuberante. Tinha não só a beleza física, mas um magnetismo ao olhar, ao falar, ao cantar... Sim! Fui cantora, artista há muitos anos. Sofri com minha falta de papas na língua... Sempre achei que falando o que pensava seria ideal diante daquela sociedade machista.
De certa forma foi muito importante não acumular energias negativas, por outro, foi péssimo por angariar novos recursos negativos suficientes para meses de trabalho árduo no bem.
Sabia como poucas mulheres, a arte de seduzir. Quanto mais me tornava conhecida diante do público, aceita e reverenciada pelas pessoas, mais a soberba invadia meu ser. Nunca soube de nada que me tornasse responsável pelos que eu cativava como se fosse um novo brinquedo. Quando cansava, deixava de lado e ignorava por completo. Pobre de mim! Quantos homens ditos honestos, mas fracos de caráter, desencaminhei dos deveres do lar e da família? Mas a mim, o gostinho de sentir-se melhor do que a senhora do lar era um prazer irresistível e emocionante! A voz, a beleza física, o magnetismo cativante, o saber tratar bem a todos elevava minhas responsabilidades.
Quantas famílias que admirava eu prejudiquei com meu comportamento, no mínimo leviano? Não posso e talvez nem queira saber ainda. Não estou preparada! Conquanto, sei que sou imensa devedora diante das Leis Divinas. Ademais, minha postura decisiva, muitas vezes prepotente e desdenhosa, mas forte e determinada acabou desvirtuando a educação de muitos jovens que me admiravam.
Minha história é comum a tantos artistas. Somente deste lado, depois de muito sofrer, após muito auxílio e em seguida ter sido encaminhada a várias atividades artísticas é que pude reconhecer, pelo menos parcialmente, meus erros.
Ainda assim, faltou-me melhor consciência... O fato de lembrar-me que havia um Deus... Sim, o mesmo Deus que tantas vezes escarneci até mesmo no palco, foi minha boia salva-vidas no meio do oceano. As primeiras lições e o tratamento direto foram a embarcação que me trouxe para a vida novamente.
Em seguida veio o arrependimento, algo que ainda está forte em meu ser... Arrependimento de servir de inspiração negativa. Quantas vezes cantei sob o efeito do álcool? Quantas vezes bebi e fumei no palco? Quantas vezes blasfemei perante Deus com centenas de olhares vidrados em meu ser!? Foram anos de avisos sutis e outros nem tanto assim, na verdade, avisos diretos de que deveria me reconduzir ao caminho certo... Entretanto, recusei aceitá-los e segui-los...
Só depois de muito sofrer abandonada no fim de minha existência pelos que amava, mas que desprezei, exceto dois amigos, fui a berlinda para encarar a morte devido à cirrose hepática e ao câncer estomacal, motivos escondidos na história oficial...
Sofri por muito tempo nos umbrais da vida, nas regiões de dores. Até que comecei a reconhecer a Deus diante dos bons exemplos, das recordações pessoais. Quem diria... Eu acreditar num ser único que criou tudo no Universo. Parecia muita manipulação, até quando comecei a pensar muito sobre essa questão.
Apenas quando mudei meus pensamentos é que passei a compreender melhor os desígnios de Deus perante cada um de nós. Destarte, a maior vergonha para o meu ser ainda estava por vir... Depois de meses recolhida no hospital, no plano espiritual, fui levada a um centro de informações sobre a existência corporal. Neste local pude verificar meus planos de ação para esta última encarnação... Pobre de mim!! Não pude ao menos chegar à metade, pois só naquele início, havia conseguido desviar todo meu planejamento principal, e da mesma forma, fui executando erroneamente os planos “Bs”, “Cs”, “Ds” e assim por diante!
O pouco que fiz, foi no início de carreira que consegui tocar pela arte o coração daqueles que estiveram comigo. O pouco que fiz, foi a simpatia que conquistei de meus fãs...  O pouco que fiz foi a reconhecer os meus erros e enganos... O pouco que fiz foi emocionar a plateia para sentimentos maiores nos momentos sóbrios... Contudo foi muito pouco o que fiz... E aqui estou para recuperar o tempo!
Esta é a primeira vez que escrevo assim... Realmente foi muito bom compartilhar um pouco da minha experiência com vocês. Espero que se lembrem de mim em suas preces, pois elas auxiliam muito em nosso equilíbrio. Caso seja da vontade de Deus, voltarei novamente auxiliada por nossa querida mãezinha, Abigail.
Obrigada! E. dama da noite carioca. 22.10.12

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