Depoimento: A Velha Senhora
Vivi nas paragens brasileiras do início do século XX, em grande cidade litorânea de destaque nacional. Era uma mulher da alta classe da sociedade. Fui pessoa destacada e importante para os olhos alheios. Muitos dos quais invejavam minha posição e meu esposo... Um garboso cavalheiro, comerciante e industrial de grande destaque!
Tive uma família com três filhos homens. Fui desde cedo, muito severa e apostei extremamente na educação e encaminhamento destes filhos que Deus confiou-me. Cuidei dos mesmos com esmero e os defendia como uma leoa pronta para atacar quem quer que fosse. O mesmo se dava para com meu esposo, pai destas pérolas enviadas por anjos de Deus! Assim, eu pensava e compreendia que apenas os nossos tinham direito a se destacar na vida. Direito de irem e virem em primeiro lugar na sociedade, independente de méritos, diferenças e conquistas pessoais.
Os filhos dos outros? Estavam sempre abaixo em inteligência, educação, e tudo mais que pudéssemos comparar. Não é preciso dizer que muito os protegi. Só esqueci que não fiz o mesmo com relação a mim mesma. O pior veneno que eles poderiam ter ficado expostos foi o do meu orgulho e egoísmo exclusivista, protecionista e apaixonado, por que não dizer, adoentado! Depois de tantos anos e tantos desvarios, justificados por mim mesma, como defesa de interesses dos meus, desencarnei totalmente abandonada pelos próprios filhos... Após a perda de meu marido, que Deus o tenha, pois ele fora o marido dos sonhos de qualquer mulher, sofri o primeiro golpe de minhas atitudes levianas!
Sempre incentivei meus filhos a se aproveitarem da situação, enganando os outros se fosse necessário, trapaceando, mentindo, enfim... O que de pior pudessem fazer contra os outros que atrapalhariam seus interesses... Logo que a herança do pai foi dividida entre nós todos, com a maior parte sendo destinada às minhas mãos, tive a pior surpresa de minha existência: fui traída pelos filhos de minhas entranhas...
Qual não foi minha desdita e surpresa negativa, quando os vi contra mim. Eu que sempre procurei elevá-los! Quando dei por mim, estava internada num manicômio como uma doida varrida por eles que me sedaram, drogaram-me a fim de que eu aparentasse os sintomas de uma louca! Isso tudo com a ajuda de um amigo da família que era nosso médico pessoal!
Em consequência da traição, realmente adoeci mentalmente quando constatei o fato! Adoeci num ódio desvairado e entreguei-me totalmente aos inimigos do passado que grassavam suas atuações no plano espiritual.
Foram cerca de quase 50 anos internada. Esqueci-me de quem havia sido, e só nos últimos anos, quando ninguém mais se interessava por minha desdita ou sorte é que Deus finalmente teve misericórdia de meus sofrimentos enviando-me um anjo! Era uma enfermeira que possuía tanto carinho, que ansiava estar ao lado dela todos os dias.
Minhas crises nervosas foram sumindo aos poucos. O ódio? Não existia mais, pois havia se passado tanto tempo que nem via mais motivo para isso. Amava meus filhos, mesmo sendo jogada às traças. Exatamente por isso, Deus apiedou-se de mim! Fiquei sabendo deste lado, pátria espiritual, que deveria ter enlouquecido mais cedo ou mais tarde, mesmo que meus filhos não me trancafiassem a força naquela instituição e lá ficaria até o fim dos meus dias... Era o que havia pedido para passar nesta existência...
Conquanto, Deus enviou-me um anjo que curou minha alma, pois meu corpo alquebrado, pouco poderia fazer. Ainda assim, saí daquela casa abençoada que ajudou a curar meu espírito, com disposição renovada e uma paz interior nunca antes sentida.
Vivi por mais dois anos ao lado daquele anjo encarnado! Ela foi minha filha que nunca tive e me ensinou que o amor não é orgulhoso e egoísta. Não precisa do peso das moedas, mas sim do amor verdadeiro!
Enfim, pude aprender um pouco antes de voltar e partir em paz, apesar da consciência ainda me cobrar quanto à criação que ofereci aos meus filhos. Peço a Deus que eu possa reencontrá-los e pedir-lhes perdão. Quem sabe poderei retornar e desta vez educá-los como deveria ter feito? Abigail me diz que terei sim esta chance, desde que me prepare para vencer a mim mesma. Pois não guardo ódio ou mágoa. Fui eu a causadora dos males relatados, então assumo perante o Criador que devo ressarcir meus débitos!
Estou feliz, pois hoje revi meu esposo que é um pequeno menino de três anos, que já está vivendo no plano material. Parece-me que serei sua filha desta vez... Confesso que me senti um pouco constrangida, pois ainda o amo como homem, mas estou aprendendo que o amor é universal e devo me esforçar para compreender tal ensinamento. Agradeço a Deus por todo o aprendizado. Em breve poderei rever meus filhos e pedir-lhes perdão. É o que espero! Deus me dará forças para tal! Obrigada por receber-me de coração nestas linhas desordenadas, mas amorosas!
Érica Toledo – 10.12.12, psicografado por Jerônimo Marques.
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