Patinho Amarelinho
Tinha um patinho de brinquedo, que era amarelinho.
Brincava todos os dias sozinha. Não tinha muitos amigos. Minha mãe não me
deixava sair desacompanhada. Ela só queria o meu bem. Afinal, eu tinha minhas
dificuldades físicas.
Fui uma menina deficiente. Minha mente
era limitada. Tinha a famosa “síndrome de down”. Isso foi há muito tempo. Até
hoje me lembro daquele patinho amarelo. Chamava ele de Duck. Vi o nome num
desenho. Amava minha vida na infância! Mamãe e papai não eram ricos de
dinheiro, mas eram de amor. Sempre tiravam um tempo do dia para estar
comigo. Seja brincando, seja ensinando as letras, pois as escolas na minha
época não me aceitavam.
Mamãe dizia que eu não iria para
escolas especiais. Confesso que não entendia nada. Às vezes ficava triste. Meus pais lutaram para que eu fosse normal. Quando eles tinham tempo e
algum dinheiro, levavam-me para fazer o que qualquer criança fazia. Íamos aos
parques, circos... Éramos uma família muito unida!
Só que um dia meu pai morreu no
trabalho. Foi um acidente na construção. Ele ficou debaixo da terra e não
conseguiu sair. Eu chorei muito! Mas a mamãe disse que Deus tinha chamado o
papai de volta. Ele era um filho muito bom e Deus o queria perto Dele.
Eu disse que Deus devia ser muito mau
por ter tirado o papai de nós... A mamãe colocou a mão na minha boca, olhou-me com muito carinho e disse:
“Não diga isso filhinha. Deus é muito bom! Agora o papai está feliz e sendo
bem tratado por Ele, disse apontando para o céu. Não se preocupe! O papai
logo estará por perto sendo seu anjo da guarda!”
Não entendia muito bem aquelas palavras.
Mas sabia que era verdade e que os anjos existiam. Esperei muito tempo para ver
o papai do meu lado. Ele veio quando já estava adulta e finalmente
havíamos conquistado o direito na justiça de que eu frequentasse a escola com
as outras pessoas. Eu já sabia ler e escrever.
Meu pai estava quase sempre do meu
lado, ajudando-me a aprender mais. Na escola fiz amigos, teatro e aprendi a tocar violão. Só não gostava de cantar, pois às vezes não conseguia falar
direito. Mas um dia meu pai veio e disse que agora era a vez da mamãe ir pra Deus. Eu chorei muito... Ele me disse que ela estava cansada, e
precisava agora descansar ao lado do Papai do Céu.
“E eu paizinho?” Ele disse que eu era o
orgulho dele e que Deus mandaria alguém para cuidar de mim! Poucos dias depois,
minha mãezinha adoeceu. Foi uma doença no coração. Ela foi ficando fraquinha
até que um dia ela me chamou no quarto.
Estava muito branca e com as mãos
frias, mas com um olhar lindo! Ela me entregou o mesmo patinho de brinquedo
amarelo que eu gostava de brincar na infância e disse que enquanto eu estivesse
viva, seria como aquele patinho. Muitos não me achariam bonita ou interessante,
mas se soubessem do valor verdadeiro, das alegrias que eu poderia proporcionar
com minha simplicidade, assim como o patinho amarelo, saberiam valorizar o
quanto eu era especial para Deus!
Sempre me recordo destas palavras. Apesar
das limitações, venci! Continuei vivendo naquela casa que fora de meus pais.
Conheci um colega, um homem bom que apesar de não ter deficiências mentais, era
um cadeirante. Ele foi o anjo que meu pai disse que viria. Conseguiu-me um
emprego e depois, por meus méritos cresci profissionalmente. Cheguei a dar
cursos, palestras sobre motivação e força de vontade.
Vivi como se fosse uma pessoa normal. E
ele, Ernesto, meu colega, amigo e depois esposo foi sempre o meu anjo da
guarda! Para o escândalo de muitos, adotamos um filhinho e oferecemos o melhor
para ele. Desencarnei com quase meio século de vida, também por infarto, como
minha mãezinha.
Ernesto e Alberto, nosso filho, ainda
estão lutando no mundo. Acompanho-os sempre que posso. Faz quase 10 anos que
voltei para a pátria espiritual. Hoje não apresento mais as dificuldades da
síndrome que foi uma grande oportunidade de valorizar a inteligência, a vida!
Fui resignada e posso me considerar vencedora desta etapa. Agora tenho no
Instituto Flor de Luz responsabilidades para com as irmãs que vão reencarnar
com esta provação: limitações físicas e ou mentais. Auxilio-as a compreender a
necessidade e as preparo com o auxílio de vários amigos, para o que virá no
futuro em suas existências. A prova das limitações do corpo e da mente não é
fácil, entretanto é muito compensadora!
Agradeço a Deus por ter me dado tanto
apoio e oportunidades. Espero retribuir um pouco tudo que recebi! Agradeço ao
Instituto por me permitir trabalhar por essas irmãs em especial! Lembre-se que
as aparências escondem corações e espíritos maravilhosos.
Venho pedir-vos que neguem qualquer
tipo de preconceito e não vejam estes irmãos como coitados. A sociedade precisa
aprender a valorizá-los mais, a confiá-los, e ela se surpreenderá de forma
eficazmente maravilhosa! Pensem um pouco nisso! Inovem a forma de ver quem é
considerado “deficiente” e o mundo será mais alegre e fraterno!
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