Certo Dia

Certo dia, há algum tempo encontrei um velho conhecido da história da humanidade, do mundo cristão. Esta figura, na maioria das vezes, condenada pela grande massa é na verdade, desde muito tempo, um espírito redimido e que não necessita mais estar entre os seres que encarnam neste orbe. Falo de Barrabás.

Estive do outro lado do mundo. No oriente, em meio a tantas iniquidades, injustiças, mas também ao lado de muitos irmãos sofredores que querem um mundo melhor, mas estão tomados pelo medo. Fui convocado pela equipe de nosso querido médico dos pobres a seguir em caravana para aquelas paragens e num dos poucos momentos de intervalo e descanso sadio, pude reconhecer aquela figura tão gentil e magnânima. Segue o diálogo que, em palavras resumidas procuro deixar como reflexão a todos nós:

Havia acabado de sentar num banco tosco para meditar um pouco em todo aquele sofrimento do povo israelita. Quando ao meu lado vi a figura de um homem de traços fortes, mas um semblante que nos transmitia muita paz. Fiquei observando-o cuidar de um irmão recém-desencarnado como vítima de uma das muitas explosões que ocorrem naquelas paragens devido aos mais diversos acontecimentos de violência.

Estava assim a meditar, vendo-o tratar o enfermo com tamanho devotamento e carinho que cheguei a pensar que era uma alma muito ligada a ele, que talvez lendo meus pensamentos conversou comigo...

- Não somos todos irmãos em humanidade?

Um pouco surpreso e meio sem entender, falei por minha vez:

- É certo... Mas... Ele é um espírito que você acompanha há muitos séculos?

- Creio que não! Pelo menos não diretamente. Contudo, o sofrimento nos faz sentirmos mais próximos um do outro. Quem vê outro sofrer e não procura acolher o que sofre?

- Infelizmente – disse lembrando que muitos de nós agimos assim, indiferentes... – muitos agem como se nada os tocassem...

- Mesmo assim, o importante é recordar o Mestre e o seu sublime exemplo de vida!

- Refere-se a Jesus?

- Sim.

- Realmente poderíamos segui-lo de forma mais significativa. Contudo, penso que ainda necessitamos ser mais disciplinados.

- É verdade. Mas nem todos tiveram as mesmas oportunidades que nós. O nosso dever é agir pelo bem. Se não fosse o Mestre perdoando e amando indistintamente. Mostrando a coragem absoluta, mesmo diante da injustiça, aceitando ser condenado em meu lugar, com certeza ainda estaria como estes nossos irmãos... Cambaleante.

Confesso que só aí pude compreender que aquele homem era Barrabás.

- Então... Você é Barrabás?

- Fui um dia. Hoje sou mais um irmão que procura auxiliar.

- Não é o que já ouvi dizer. Achei que estava militando pela evolução do espírito em outro mundo devido aos méritos conquistados.

- Poucos são os méritos e todos eles são de Jesus e provindos de nosso Criador! Não tenho direito de desfrutar de alegrias enquanto meus irmãos ainda lutam para sobreviver... Muitos ainda nem acreditam na existência divina... Onde estaria minha gratidão ao Rabi da Galileia se eu me escondesse nas venturas de outros orbes felizes?

Enquanto falava tais palavras, mais carinho usava para com os irmãos atendidos. Uma energia sublime o envolvia naquele momento. Creio que eu mesmo estava sendo tratado em meus chakras que estavam sendo re-equilibrados e revitalizados!

- No entanto, com certeza estaria servindo ao Criador nestes outros orbes. Seria útil e evoluiria bastante.

- Claro! Não desprezo esta realidade, conquanto, creio que ainda sou devedor perante o Cristo! Ele foi sacrificado em meu lugar e enquanto a Terra estiver tomada de injustiças como a que ele sofreu não posso abandoná-la. Devo lutar ao lado dos sofredores e dos injustiçados até que a última gota de desespero seja derramada neste mundo!

Ao dizer estas palavras sua aura estava tão alva que confesso ter ficado em certo êxtase e sem noção de tempo e espaço. Todos os doentes e sofredores que estavam nas proximidades, todos os trabalhadores daquela equipe de resgate pararam para observar aquele espírito humilde a exaltar Jesus e Deus como as duas forças do bem existentes na Terra. Falou-nos por mais alguns minutos recebendo inspirações do alto... Os gritos de dor sumiram, os choros foram acalentados e o desespero desapareceu... Apenas a paz, a esperança e a fé se fizeram presentes após aquelas palavras acompanhadas pela doação de si mesmo daquele irmão humilde e benfazejo.

Particularmente, creio que naqueles instantes ele foi médium de Jesus que nos falou ao coração! Foi esta a impressão que tive e guardo isso com carinho extremo dentro de meu ser! Ao fim daquelas palavras, todos nós voltamos ao trabalho e ficamos dias seguidos sem sentir qualquer cansaço e sempre procurando estar ao lado daquele irmão humilde e bondoso. Com certeza um seguidor de Cristo.

Isso foi há cerca de quinze anos terrenos. Nunca mais o vi... Mas nosso querido Dr. Bezerra nos informa que ainda hoje nosso amigo Barrabás encontra-se no mesmo trabalho humilde acolhendo irmãos sofredores e desditosos daquela região e também de todo o orbe. Espero sinceramente, um dia reencontrá-lo para agradecê-lo pela lição de humildade que aprendi naqueles breves instantes. Obrigado!

Efésio, o humílimo servidor do Pai – 19.04.13, psicografado por Jerônimo Marques