Quantas Vezes
Quantas vezes aqui estive tomando coragem para fazer o que hoje finalmente estou procurando realizar? Não foram uma, duas, três, dez, nem vinte... Foram dezenas que até perdi a conta. Não é fácil vir aqui e abrir o coração, expor as mazelas e controlar as emoções. Fui artista e fui poetisa abandonada por mim mesma. Esqueci-me de meu ser e me dispus a ser a serva dos sentimentos sociais. Fui escrava dos pensamentos alheios.
Infelizmente, só sabia ser feliz se os outros falassem bem de mim. De minha beleza, meus talentos, meus escritos, meus olhos, meus sorrisos, meu corpo... Meu mundo! Uma vaidade sem limites! Não sabia o mal que a mim mesma fazia. Nutria todos os dias o meu espírito com os adubos equivocados e distantes de Deus. Acreditava que deveria sempre contar apenas comigo mesma. Afinal, era uma mulher independente! Sempre soube o que quis! E eu queria a liberdade! Para meu corpo e para minha alma! Para meus pensamentos!
Entretanto, confundi liberdade com desvios de conduta. Com falta de limites, de educação, de sensibilidade... Quanta estupidez! Quantas vezes tive oportunidade de ouvir sobre as mensagens provindas de Deus através de seus mensageiros... A maioria deles, humildes e singelos, mas sábios e discretos. Contudo, eu tinha uma mente muito intelectualizada! Possuía argumentos demais para deixar qualquer um sem palavras! Era o que eu pensava...
Pobre de mim! Não sabia que se calavam, não por que eu havia ganhado a “guerra das palavras e argumentações”. Guerra que só existia na minha cabeça pequena. Calavam-se, pois me respeitavam o direito de pensar diferente. Sábios eram eles.
Quantas vezes envenenei meu coração, meus pensamentos na imposição de minhas ideias, principalmente se do outro lado do diálogo estavam homens... Sentia a necessidade de vencê-los e provar que nós mulheres somos melhores, se possível em TUDO! Vibrava por dentro e por fora quando os humilhava em todos os sentidos.
Nunca me permiti amar nenhum homem, pois não me queria presa a qualquer um deles. Gostava de jogar com os seus sentimentos e quando percebia que os tinha na mão, abandonava-os sem cerimônia, principalmente se eu percebesse que estava quase os amando. Deixei vários corações despedaçados, inclusive alguns no altar. Arrasei-os, mas por outro lado, fiz um favor a eles. Coitados se comigo tivessem vivido...
Entretanto, ao chegar aqui soube da infelicidade deste comportamento. Não há motivos para esta “guerra dos sexos” tão acentuada pela sociedade. Vivemos em corpos femininos e masculinos. Espírito não tem sexo definido. E agora? Confesso que isso mexeu comigo. Mudou minha forma de ver a vida. Achava que os homens seriam meus inimigos naturais para sempre! Deveria odiá-los ou usá-los de todas as formas. Contudo, depois que refleti sobre minhas atitudes, percebi que as outras mulheres também eram tratadas como minhas inimigas.
O que eu queria mesmo era a atenção, todos os focos para meu ser! Nada mais! Eu era a única certa! O mundo estava errado! Eu era a melhor de todas e todos! Os outros eram apenas a segunda opção. Todos deveriam me servir, admirar-me, amar-me e em contrapartida, nada eu deveria dar em troca.
Enfim, fui a personificação da vaidade, do orgulho e do egoísmo. Fui uma deusa às avessas e utilizei-me da arte das palavras para exaltar-me e humilhar os outros. Desviei mentes inteligentes com pensamentos nada inteligentes. Exemplifiquei negativamente a vida de muitos e hoje sofro porque sei que tenho responsabilidade dos desvios de condutas em várias áreas da alma feminina, principalmente. Além de ter causado vários traumas em irmãos que estiveram em corpos masculinos.
Agora, felizmente reconheço meus erros. Contudo, temo pelo que virá mais a frente... Perdi muitas oportunidades de vida. Joguei fora os talentos que Deus me confiara e agora devo recomeçar sem as mesmas possibilidades.
Cuidado meus amigos! Cuidado principalmente minhas irmãs que opinam hoje como um dia eu opinei. Esqueçam as disputas entre sexos. Esqueçam a sensualidade adoecida e desvirtuada. Respeitem a si mesmas, aos seus parceiros e demais irmãos de caminhada. Não sejam motivos de escândalos, mas sim exemplos de virtudes. Tenham humildade e paciência. Sejam fortes para o bem e não para o mal! Pois do contrário sofrerão como eu sofro ainda hoje. Minha consciência queima e se desespera às vezes por ter sido tão leviana.
Hoje recomeço uma nova etapa. Inicio minha preparação de retorno à Terra. Minha última oportunidade de acertar. Não terei fama, nem dinheiro... Serei uma semianalfabeta e sem beleza física, apesar de não ter sido aconselhada a pedir a prova da fealdade. Serei simples trabalhadora e conduzirei com sacrifícios três almas que tenho débitos muito grandes. Três homens que desviei do bom caminho traçado. E estarei sozinha assim que o último nascer, pois meu futuro esposo, um espírito amigo ficará o tempo necessário apenas para me presentear com estes três tesouros do céu, e logo retornará à pátria espiritual.
Espero que tenha forças de suportar as provas. Caso desvie do caminho traçado, a dor virá forte através de doenças e talvez até abandonos que podem ser evitados. Tudo dependerá de mim...
Ah... Não foi Deus que escolheu estas provas, mas eu mesma. Queria mais dificuldades, contudo, os irmãos e irmãs maiores disseram-me para ir aos poucos. Terei toda a eternidade para recuperar o tempo perdido. Creio que eles têm razão. Enfim, obrigada por tudo. Rezem por mim! Vou precisar!
Poetisa da Barra – 15.04.13, psicografado por Jerônimo Marques.
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