Orgulho Ferido

Vivi na Europa, na Espanha... No último ano e meio de vida decidi vir para o Brasil. Fui uma mulher comum, mas da alta sociedade. Desde cedo fui educada pelos meus pais para ser uma dama. Eles me colocaram num internato para meninas até minha adolescência. Diante disso, tinha pouco contato com eles que eram muito compromissados.
Saí da adolescência e conheci meu esposo de forma pouco natural... Um casamento arranjado, apesar disso amei muito meu marido. Contudo, da parte dele não aconteceu o mesmo. Não o culpo porque ele foi obrigado a se casar comigo enquanto amava outra mulher. Só que infelizmente eu nunca aceitei esta condição e tornei a vida a dois num inferno, principalmente quando nós já tínhamos nossos dois filhos alguns anos depois do casamento.
Claro que a culpa não foi apenas minha, mas também dele... Não iremos julgar aqui, por não ser nosso objetivo. Cada um tem sua parcela de culpa. Eu também poderia ter agido diferente e ter dedicado minhas energias aos meus filhos que acabaram sofrendo muito mais do que eu pela inconstância de nossa relação, pelo ciúme que eu apresentava; e falta de respeito ao lar e a formação da família. Isso causou muitos problemas, traumas psicológicos nos meus filhos.
Não vou dizer que eles se perderam para o mundo, mas poderiam ter uma oportunidade melhor, moralmente falando. Apenas repetiram e ainda repetem os mesmos erros que muitos da alta sociedade cometem... Passando por todas aquelas inconstâncias emocionais que eles vivenciaram conosco, os pais.
“Esquecemos” de educá-los através de uma religião. Não éramos religiosos, só agíamos pelas aparências! Várias são as convenções que a sociedade nos trás e acabamos por aceitá-las. Isso é pernicioso à educação de espíritos milenares que estão necessitados de uma boa educação, de um bom direcionamento para a vida e para o progresso moral.
A prova da riqueza é muito árdua! Porque nós não entendemos sobre a pobreza da vida alheia. Acreditamos que é apenas um problema que cada um deve resolver por conta própria. Poucos são aqueles que desde o berço têm condições financeiras favoráveis e se voltam ao auxílio do próximo, essa é uma das grandes vantagens do povo brasileiro que naturalmente, até pelo sofrimento, principalmente pelos anos anteriores de crises, dificuldades, criou-se, enraizou-se no espírito deste povo, essa vontade de sempre procurar auxiliar.
Não que isso não aconteça em outros países, mas na Pátria do Evangelho é uma característica bem forte perante as demais nações que tive a oportunidade de conhecer. Foram várias, porque pude viajar bastante pelo mundo.
Há situações em que a mulher deve ter extremo cuidado para valorizar as boas condições emocionais do lar e da família. Não que isso não seja também responsabilidade do homem. Mas a alma feminina é mais sensível e necessita ter um pouco mais de bom senso por ter maior sensibilidade.
Mais uma vez, sem tirar a responsabilidade dos homens. Quando sucede algo como aconteceu comigo, que me desestabilizou de forma completa, espiritual e emocionalmente, chegando a levar ao próprio lar outros homens na presença dos filhos apenas para fazer ciúmes ao marido que acabou por desprezar-me ainda mais... São erros que as pessoas cometem por desespero e falta de bom senso. É muito triste reconhecer que nós praticamos tantos equívocos, que poderiam ser evitados, no decorrer da vida.
Falhamos tanto perante as Leis Divinas, quanto à frente daqueles que foram confiados a nós... Para encaminhá-los ao bem, para um caminho de aprendizado, evolução, alegrias verdadeiras, e não superficiais que a sociedade mostra e valoriza equivocadamente! Encontrar os verdadeiros amores, ajudar as pessoas a crescer em todos os sentidos a fim de auxiliar na evolução da humanidade.
Confesso que meu maior aprendizado foi perceber que meu desequilíbrio emocional, principalmente pelo ciúme, pelo orgulho ferido devido a situação vivida comprometeu a minha última existência. Não entrarei em detalhes por que eles não contribuirão com o aprendizado das pessoas, mas muitos erros foram cometidos além destes que citei, chegando a colocar em risco de morte os próprios filhos e o esposo que apesar de sua parcela de culpa, teve um pouco mais de bom senso do que eu...
No final das contas, ao fim da vida, até por minha influência... Ele adquiriu uma doença mais grave, pois num momento infeliz tive a ideia de envenená-lo por algum tempo, mas desisti a tempo de culminar com a sua morte... Ainda assim, o fiz por um período curto, aplicando doses pequenas da substância mortal.
São vários os erros por mim cometidos. Quando a amante dele faleceu, as coisas arrefeceram um pouco, mesmo assim, já o tinha perdido de coração. Após a morte do companheiro, por intuição da minha mentora saí da Europa e vim para o Brasil e foi muito bom porque no último ano e meio pude conhecer um povo muito fraterno que me auxiliou bastante a realizar as primeiras reflexões dos meus erros. Conheci um pouco mais sobre a fraternidade que um dia vai predominar na Terra.
Mesmo que tenha parecido ter uma morte solitária por tudo o que aconteceu de equivocado na vida, fui cercada de muito carinho e isso me sensibilizou muito! Tive a coragem de ao menos haurir forças e pedir perdão aos meus filhos. Independente deles terem me perdoado ou não pelo coração...
Não foi uma vida que posso me orgulhar, mas foi uma vida que devo refletir bastante para o aprendizado do meu espírito, e assim esforçar-me para que nas próximas oportunidades não cometa tantos enganos!
Ainda não tive oportunidade de pedir perdão ao meu esposo, apesar de saber que ele não tem ódio ou raiva de mim. Contudo, creio que não estou preparada para tal. Desencarnei há pouco mais de três anos. Ainda estou em recuperação no Instituto Flor de Luz, que me acolheu desde então. Graças a essas trabalhadoras e à nossa irmã Abigail, estou bem!
Há algumas semanas, ela me pediu para que me preparasse para falar sobre a importância de termos sempre o bom senso em nossas almas, de fazermos as nossas escolhas sem contribuir para que a vaidade, orgulho ferido tome conta da situação... Sem que o ciúme governe os nossos atos e infelizmente muitas das irmãs que estão na Terra são acometidas pelo mesmo mal que passei.
Não sofri como deveria ter sofrido após o desencarne, pois sei que muitas sofrem... Tenho acompanhado relatos de outras companheiras que chegam aqui depois de muitos anos em regiões de sofrimento que vocês conhecem pelas literaturas, estudos... Tive a graça de Deus de não ter ido até essas regiões, talvez o único mérito que eu tenha conquistado foi o de aceitar o auxílio de nossas irmãs desde o início, sem me revoltar porque estava consciente que eu era uma doente da alma!
Acredito que posso me despedir... Agradeço pela oportunidade deste relato sincero, porém um pouco atrapalhado... Mas nem sempre é fácil falar das próprias experiências, principalmente quando as feridas estão abertas... Obrigada!
Constantina – 18.03.13, psicografado por Jerônimo Marques.

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