Depoimento de Um Político

Este é o preço de não buscar a melhoria dos próprios sentimentos e consequentemente das atitudes e escolhas individuais. Mas, era tarde quando percebi isto. A doença havia tomado todo meu corpo. Apodrecia em vida. Abandonado por nada ter cultivado de bom durante minha existência, no final acabei recebendo algumas migalhas de compaixão que nem poderia imaginar receber, nem mesmo tinha merecimento para tal.
Uma vida dedicada aos meus próprios interesses. Esqueci-me de tudo e de todos para satisfazer minhas paixões escondidas da alma. Quando criança ainda tive o freio de minha mãezinha e de meu paizinho que buscaram fazer de tudo para endireitar-me. Espírito rebelde e selvagem, estive controlado até minha juventude.
Meus pais atuavam como um cabresto num cavalo xucro. Infelizmente, para minha recuperação perante a vida eterna, eles foram libertados do corpo sendo chamados por Deus em tempo certo. Haviam cumprido sua missão com êxito... Dali em diante era por minha conta e livre-arbítrio.
No início, talvez ainda influenciado pela memória dos dois, consegui seguir no caminho do bem e do respeito às Leis Divinas e aos homens como um todo. Mas isso não durou por muito tempo. Cerca de um ano depois do retorno à pátria do espírito de meus pais, antigas oportunidades recomeçaram a aparecer em minha vida a fim de testar-me. Era realmente uma prova para que meu espírito pudesse superar e saber se havia aprendido durante aqueles anos sob a tutela de meus genitores.
Foi demais para mim. No início consegui resistir com o recurso da prece ensinado por meus pais. Mas aos poucos, com a pouca resistência moral adquirida, com o passar do tempo passei a esquecê-los e lembrar inconscientemente do que meu espírito sempre buscara nas brumas de outras existências. Voltei inicialmente aos vícios da bebida, depois da sexualidade. Contudo, esta não foi a porta de entrada. Foi a auto-suficiência. Ser bem sucedido materialmente, ter poder e riqueza foram as portas abertas em grande escala para que esses outros vícios viessem a tona.
Na verdade, tudo desculpa, pois o que valeu mesmo foi não saber controlar o orgulho, o egoísmo, a vaidade e outros vícios morais que a sociedade atual valoriza tanto como características de um homem vencedor e invejado pela turba ainda inconsciente dos bons valores. Perdi-me em todos os aspectos e até cheguei a desviar verbas públicas destinadas à saúde e à educação do povo.
Não é preciso dizer que hoje sei e tenho consciência que sou responsável por tirar a vida de muitos brasileiros e prejudicar o crescimento de outros tantos. A culpa é muito grande e não posso reclamar que não fui alertado.
Depois dos meus pais houve muitos companheiros que chamaram minha atenção. Fosse em vigília ou nos desdobramentos... Até uma companheira paciente eu tive oportunidade de ter ao lado. Mas não a quis, pois ela era simples demais e não acompanhava meus rompantes e sonhos desvairados. Hoje aqui estou com chagas morais que refletem em meu perispírito deformado. Pareço um monstro, pior do que os leprosos do tempo de Cristo.
Ainda é pouco pelo tanto que fiz... Deus tenha piedade de mim e de todos aqueles que como eu agem igualmente ou até pior. Que meu exemplo sirva de alerta! Cuidado amigos! Não só com o poder material, mas o poder de comandar e administrar! É uma grande porta aberta para recair nos vícios morais que carregamos por eras e eras em nossa evolução. Deus esteja conosco! Assim seja!

Um ex-político, hoje sofredor – 21.05.13., psicografado por Jerônimo Marques.  

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