Depoimento: Gênio "Forte"

Quando criança gostava de brincar a sós. Não era de compartilhar, nem um dominó, ou mesmo um doce. Era menina egoísta e mandona. Vista com alegria pelos adultos que viam no meu gênio forte uma característica engraçada e até admirada. Alguns chegavam a dizer: “- Essa vai mandar em todos que estiverem a sua volta. Vai ser dona do mundo! Vai comandar até o marido”. Achavam-me bonitinha, pois era como uma mulher forte em miniatura!
Personalidade forte não pode ser confundida com virtude. O gênio forte que carregava e desde cedo demonstrara, primeiro no meio familiar, depois entre amigos e com o tempo, para o restante do mundo deveria ter sido podado enquanto era possível. Infelizmente não foi. Recebi poucos “nãos” e tive quase tudo que pedi ou quis. Caso contrário, fazia um escândalo! Pobres de meus pais. Quando perceberam, ainda estava em idade possível de correção mais direta, mas demoraram a agir e depois, quando decidiram, eu já os dominava com artimanhas que viviam em meu inconsciente e que me davam oportunidades de manipulá-los ao meu gosto e vontade.
Fui a princesa que sempre quis ser, a rainha que sempre sonhei no lar. Só não sabia que não era tão amada pelos outros. Nem tão admirada! Na escola, humilhava e maltratava a todos que me rodeavam. Além da personalidade firme - direcionada de forma equivocada, fui contemplada com uma beleza muito generosa. Tinha todas as atenções e sabia utilizá-la para todos os predicados. Foi assim desde sempre.
Conquistei meu esposo, “roubando-o” de uma de minhas poucas amigas. Acabei fazendo um favor a ela - era o que eu pensava, pois meu esposo revelou-me um péssimo marido em minha ótica egoísta. É claro que estava errada com todos esses pensamentos. Graças a Deus minha amiga soube me perdoar e seguir sua vida em frente, encontrando um homem tão bom tanto quanto o que havia tirado dela.
A diferença estava no fato de que ela sabia ser companheira de seu bem amado e eu não. Até pensei em atirar-me para o segundo homem da vida dela. Felizmente, tive um pouco de bom senso e refreei meus impulsos, pois tinha a consciência culpada por ter tomado um amor de sua vida, e ainda assim ter sido perdoada. Fui uma ditadora no lar! Sentimentalmente fui uma tirana. Joguei com os sentimentos do esposo e dos filhos! Chantageei, menti, omiti em proveito próprio, manipulei de acordo com meus interesses.
Com o tempo, a velhice chegando, fui ficando só. Os filhos, apesar de bons, eram reservados comigo, pois sabiam que não poderiam abrir muito suas vidas, pois perderiam a privacidade, a tranquilidade, a liberdade e a paz em seus núcleos familiares, devido às minhas constantes imposições e intromissões. Eles me amavam, mas eu não os auxiliava, pois não sabia respeitar os seus limites. Apesar de se esforçarem em estar próximos, como tinham seus receios justos, eram um pouco distantes.
Meu esposo partira para o outro lado da vida. Fiquei deprimida, fui definhando. Nesta fase percebi o quanto os filhos me amavam, pois foram muito pacientes comigo. Mesmo estando doente não reconheci minha impertinência, meu egoísmo e orgulho. Caso eu estivesse no lugar deles, teria me jogado num asilo, mas eles ficaram comigo revezando-se na tarefa de oferecer-me um lar e o contato familiar com muita resignação.
Mais uma vez não soube aproveitar as bênçãos. Continuei com minhas lamúrias, intromissões desajustadas, além dos limites e as provocações, dramas e ilusões. Até que o meu corpo não suportou tanta insanidade. Fez-me calar e me paralisou viva por quase 10 anos. Continuei sendo amada por meus filhos e Netos. Muda e paralítica, apenas no finzinho deste tempo é que reconheci minhas falhas. Oh... Quanto foi difícil não poder pedir perdão! Pelo menos, passei a cooperar.
Desencarnei rodeada de amor, mesmo sem merecê-lo! Sei que angariei muitos débitos! Imensos! Meu esposo me recebeu e me auxilia ainda hoje na recuperação lenta e gradual. Minha amiga ainda ora por mim. Assim como meus filhos. Contudo, eu digo que o carinho e as orações deles são como estilhaços pontiagudos em meu coração! Sei que não as mereço, mas continuo recebendo. Sei que errei no egoísmo e orgulho tremendo. E terei que recomeçar. Queira Deus que possa me dar forças para não cair no mesmo erro. É só o que peço! Rezem por mim!
Adelaide Alcântara - 13.05.13.  Psicografado por Jerônimo Marques.


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