Depoimento: A Vida é Um Leque de Aprendizados

Era uma manhã chuvosa. Gotas d’água caíam no telhado provocando o barulho gostoso que acalma e satisfaz. Esperava reencontrá-lo. Porém a chuva frustrava meus planos: parece paradoxal. Ela alegrava-me naquele instante, mas me atrapalhava.
Moça jovem e bonita entregara-me na noite anterior ao amor impossível, diante das juras de amor. Não obstante foi mais paixão, naquela época não sabia identificar ao certo os meus sentimentos.
Ele, um rapaz honesto e gentil. Contudo estava partindo para a Europa naquelas próximas horas. Quando voltaria? Apenas Deus saberia. Meus planos de vê-lo tornaram-se inviáveis e aproveitando a preguiça do dia, fiquei na cama anestesiada de paixão e ao mesmo tempo doente por sentir tamanha saudade e solidão antecipadas. Destarte, a paixão cegava-me, pois aguardava o seu retorno quando possível.
Os meses passaram-se, descobri que esperava um filho dele. Alegria e desespero tomaram conta de minha mente ainda despreparada. Minha mãe acobertara-me, e é claro, admoestara-me sobre minha responsabilidade e as consequências que essa nova vida me acarretava. Até que com o crescimento da barriga meu pai descobrira e enlouquecera! Quase cometeu o ato tresloucado de torturar a própria filha para descobrir o “infeliz” que me infelicitara, mas minha mãe o informara.
Fez-se o escândalo entre as famílias, que se antes eram amigas, agora se tornaram inimigas. Naquela época não havia exame de DNA, então, ficara a minha palavra contra a dos familiares de meu amado, que estava longe há meses.
Como eu pressenti, ele ficara na Europa. Meu filho nasceu e ele nem o conheceu. Meu pai quisera tirá-lo de mim ainda na barriga, mas não aceitei: “- Não! O filho me pertence!”. Então “- Rua!”. Foi o que me dissera. Vaguei pelas estradas. Tive meu filho sozinha, desamparada. Minha mãe tentara o que pôde, mas de nada adiantara, meu pai não queria mais a filha antes admirada.
Encontrei na caridade pública e depois numa família desconhecida, o carinho e apoio que no lar me faltara pelo lado paterno. Meu amado, como não voltara, esquecera-me e com outra se casara. Viveu bem, sendo marido bom e dedicado, pai responsável e amoroso, embora, às vezes, desligado.
Por meu filho fiz tudo o que pude! Até me vender quando o vi com fome. Graças a Deus, por pouco tempo recorri a essa renda imunda e sofrida. Tão suja me senti que precisava tomar vários banhos por dia, como a me limpar da consciência intranquila.
Logo consegui um emprego simples como empregada de uma bela e grande casa. Salário pequeno, mas o suficiente para alimentar minha razão de viver: meu filho! Creio que me equivoquei ao buscar alternativas para não vê-lo morrer de fome. Contudo, criei-o com todas as minhas forças.
Depois de grande, entrando na vida adulta, adoeci. E ele retribuiu com carinho todos os meus esforços. Corajoso, foi até meu pai e pediu a ele que me perdoasse! Apenas isso... Não jogou no rosto do avô minhas tristezas e revoltas para com a figura paterna. Perdoou e ainda aconselhou-me a fazer o mesmo. Nos últimos meses de vida, voltei para a casa de meus pais, com meu filho do lado. Foram os meses mais felizes de minha existência. Meu pai pediu-me perdão e eu pude fazê-lo de coração! A Reconciliação é tão bela! Por que não sabemos disso antes das tristes experiências? Infelizmente, o orgulho turva a visão e não nos permite tentar.
No meu último dia de vida vi minha família reunida em volta de mim. Nunca mais amei outro homem e como se não bastasse, nos últimos suspiros, recebi inesperada visita. Era Cláudio, meu amado eterno, pai de meu querido filho!
Delicadamente pediu-me perdão por nunca ter-me procurado. Agradeceu-me pelo filho que lhe dera e que o procurara mesmo correndo o risco de ser rejeitado e ter o coração ferido! Retornei feliz para a verdadeira pátria! Compreendi que o perdão é essencial para o coração em paz, que o amor fraternal nos auxilia a viver melhor.
Hoje tenho para mim que a vida é um leque de aprendizados. Desejo retornar para saber amar os que Deus me permitirá ter como familiares, além de amar o restante da humanidade! Projeto audacioso? Talvez... Mas para o bem, Deus sempre auxilia!

Ana Helena – 07.10.13, psicografado por Jerônimo Marques.

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