Estude e Ore

Marcos era um rapaz nascido em berço espírita. Toda sua família desde a geração de seus avós, tanto por parte materna quanto paterna, já seguiam as orientações da Doutrina dos Espíritos.

Desde tenra idade nosso querido Marcos frequentava as aulas de evangelização de uma casa espírita. Sob as orientações dos esforçados evangelizadores ele ia bebendo os conhecimentos sob a vida eterna, o plano espiritual, os espíritos, a reencarnação, os mundos habitados, as leis morais, Deus, Jesus, anjos, mentores, obsessores, enfim... toda espécie de conhecimentos ventilados e explicados pela Doutrina Consoladora!

Nosso amigo foi crescendo, crescendo e umas das lições mais incômodas ao seu coração era a lição da prece. Para ele nunca foi difícil entender a importância dos estudos para o conhecimento do espiritismo e do cristianismo, como qualquer outro conhecimento humano.

O problema para o nosso rapaz era compreender qual era a real eficácia da prece. Não que ele não soubesse os porquês de rezar e seus benefícios! Contudo, não via um efeito prático em sua vida. Até por que essa era bem tranquila. Vida estável, pais amorosos, família unida, boas escolas, bens materiais fartos à disposição de suas mãos, nunca passara dificuldades na vida...

Em sua adolescência, logo aos 16 anos assumiu a coordenação do grupo jovem. Gostava de ler e expor. E por ser um jovem cativante, responsável e muito interessado se dispôs ao desafio de coordenar as atividades de estudo e trabalho assistencial da juventude.

Não tinha preguiça, nem desânimo que o fizesse recuar. Os pais ficaram orgulhosos pela motivação do filho, assim como os médiuns da casa, o presidente entre outros mais experientes ficaram felizes em ver a determinação daquele jovem cativante, de sorriso fácil e de muita fibra!

Não era um Centro Espírita grande, pelo contrário, era uma instituição mediana. A mocidade contava com cerca de vinte jovens bem unidos e alegres que foram unânimes para escolher nosso querido amigo como coordenação pelos próximos três anos consecutivos! Assumindo seu papel com muito entusiasmo procurou realizar atividades extras, trazer estudos diferenciados, palestrantes, cursos, oficinas e tantas outras coisas.

Isso era um temor aos inimigos espirituais, pois a cada mês o número de jovens aumentava interessados em conhecer as verdades do espírito. Marcos era o causador das dificuldades das linhas das trevas que começaram a se preocupar.

- Ele está sempre amparado.
- Não desiste fácil das atividades.
- Sabe motivar e cativar!
- Faz tudo com muita disciplina e boa vontade.
- Estuda.
- Trabalha em favor dos outros.
- Que diabos! Parece que não tem defeitos... Em pouco menos de 1 ano e meio já duplicou o número de jovens “perdidos” que abandonaram nossas fileiras. Se continuar assim, esse fedelho vai assumir a direção do Centro daqui há alguns anos e tudo vai ser bem mais complicado! Temos que tirá-lo de circulação!
- Mas como? Ele faz tudo certinho!
- Dá até medo de tentar. Está sempre protegido...

Nisto, o chefe de todos estava a espreita observando a turba revoltosa e desgostosa do bem. Este balançou a cabeça negativamente e suspirando deu um grito assustador evocando ordem! Todos os reclamantes pararam!
- Ordem suas bestas! Que bando de incompetentes! Não sabem que a melhor forma de derrotar o inimigo é conhecendo-o?
- Sim... mestre... Mas ainda assim, por mais que sigamos este roteiro, não há como! Ele estuda, trabalha, está sempre se motivando, mesmo quando as coisas vão mal... Logo ele contorna a situação...
- Imbecil! Quanta ignorância tenho ao meu lado! Prestem atenção! Nós sabemos que nosso alvo ainda é um pouco orgulhoso e vaidoso!
- Certo... mas isso não tem sido problema para seguir em frente, pois ele usa isso até para não desanimar e a galera da luz o protege pelos seus méritos que são maiores que os próprios erros...
- Cala-te! Eu não terminei – com força descomunal joga o seu interlocutor longe contra as paredes daquela sala sombria. Segundo seus arquivos que tenho na tela, apesar de todos os seus méritos (fala ironicamente cuspindo ao chão), nosso alvo não compreende e nem acredita muito no valor da prece. Nunca passou realmente por uma decepção pessoal marcante em sua vida... Se não conseguimos atacá-lo diretamente, vamos atacar terceiros que são importantes para sua vida.
- Já tentamos meu Senhor, mas os que mais importam para ele são os da sua família que também são como ele...
Olha com muito ódio seu servo como a repreendê-lo e continua...
- Se é assim, vamos criar uma aproximação pelo coração. Muitos dos que entram agora no grupo jovem ainda não tem uma base do evangelho, muito menos seus familiares... Assim, utilizaremos uma bela jovem receptiva para conquistar o coração do nosso cavaleiro que no fim estará na lama!
- Mas como?
- Vocês não disseram que ele não acredita no valor da prece? E esta é a maior arma dos aliados do Cordeiro! Se ele não acredita, então ficará fácil, pois quando a dor da decepção chegar à ele, não conseguirá rezar de coração e sem isso, não alcançará os méritos de ser protegido. Abrirá portas para nós e aos poucos iremos levando-o ao fundo do poço!
- Genial meu Mestre!
- Sim, sim! Mas agora vão, introduzam aos poucos pensamentos em nossa irmã Camila que já está apaixonada por nosso alvo e este já demonstrou algum interesse físico por ela... Com o tempo e a invigilância, a falta de oração sincera o desequilíbrio chegará! Paciência meus servos, iremos derrubar mais um metido a Cristo na face desta Terra infeliz!

E o tempo passa. A aproximação de Camila, ainda iniciante na Doutrina, à vida de Marcos foi rápida. Logo os dois iniciaram um romance avassalador. Ela ainda longe de deter os conhecimentos de oração e vigilância, assim como os das Leis Morais importantes para um relacionamento sadio, começa a atormentar e atribular as atividades coordenadas por nosso amigo.

Este acaba cedendo espaços, ficando menos presentes nas atividades e até mesmo ignorando os conselhos dos pais inspirados pelos anjos guardiões que muitas vezes conversavam com Marcos durante o repouso do sono. Acordava disposto a ser mais vigilante e orar, mas quando tentava não se animava, pois nunca acreditara realmente no valor da oração.

Tentava se vigiar, mas não sabia como mudar só com as próprias forças. Por vezes se “pegava” em equívocos e concluía que estava em erro, mas não encontrava forças e inspiração suficientes para mudar o que estava mal. Aos poucos sua responsabilidade diminuiu. Os jovens foram se afastando, os seus pais se preocupando e Marcos aos poucos foi perdendo motivação e interesse pelas atividades saudáveis. Acompanhando a jovem ainda imatura às verdades espirituais, começou a se questionar se valia sacrificar-se tanto. Sua juventude, seu lazer... Seu descanso.

Em poucos meses abandonou suas responsabilidades de auxílio e estudo moral. Os seus inimigos comemoravam e os jovens que Marcos inspirava foram se afastando até sobrar alguns poucos mais seguros de suas responsabilidades. A turba inferior já comemorava o fato consumado. Sucesso em mais uma empreitada contra a luz! Eles venceram mais uma vez com tão pouco. Conquanto, não esperavam que certo dia, a pequena irmãzinha de Marcos, triste por não ter mais a companhia antes presente do irmão que a tratava com muito carinho, ajoelhou-se na beirada da cama do irmão, fechou os olhos e começou a orar com fervor. Neste instante o irmão foi entrando no quarto e parou admirado ao ver sua irmãzinha daquele jeito e só escutou a prece. 

No início pensou em interrompê-la, mas seu guia protetor “soprou” no ouvido que ele deveria escutar a prece. A irmã então, receptiva ao espírito protetor daquela família, praticamente repetiu as palavras do amigo espiritual.

- Deus, Papai do Céu! Eu amo tanto o meu irmão! Mas estou triste Senhor, pois ele não quer mais ser meu amigo. Por quê? Eu fiz algo errado? Queria poder pedir perdão pra ele como a mamãe nos ensina, mas sempre que quero falar, ele não deixa e me trata mal. Isso machuca e me faz chorar... Papai do Céu, eu ouvi a tia Eduarda da escolinha do centro que orar pelos outros cura a alma. Por isso eu estou aqui Deus! Estou pedindo e sei que o Senhor me ouvirá, pois desejo que meu irmãozinho volte a ser como era antes! Não quero que ele deixe de gostar da Camila, mas quero que goste da gente também! Por favor, meu Deus, eu acredito que essa prece irá ajudar de alguma maneira. Obrigada! Pai nosso que estais no céu...

Marcos emocionara-se... Quando sua irmã acabou ele saiu de fininho e escondeu-se de vergonha, esperou que ela saísse do quarto e pela primeira vez viu que uma prece tem poder. Algo o tocara como nunca o fizera. Os dias se passaram, Marcos parecia ter acordado de um pesadelo. Voltou às atividades da Mocidade. Conversou com os remanescentes e pediu perdão pelas suas falhas. Disse querer ajudar, não importava como. Sabia que tinha errado e precisava recuperar o erro. Pedira desculpas aos pais e voltou ser o companheiro de sua irmãzinha.

Aos poucos percebeu que Camila não mudaria a forma de ser e os dois foram se afastando. Marcos realmente a gostava, contudo o sentimento dela não era o mesmo. Já que ele voltara a ser o bonzinho de sempre, ela resolveu se afastar de vez.

Marcos sofreu, mas encontrou o ombro dos pais e de sua família para enfrentar a dor que batera à sua porta. E o principal, percebeu que ao orar ganhava forças para enfrentar as dificuldades. Esta é a lição da oração e da fé! Não nos basta conhecer, praticar, trabalhar e até mesmo vigiar, se não acreditamos, se não temos fé que a oração, a conversa com Deus e seus representantes mais dignos nos farão o bem, nos darão forças para enfrentar os obstáculos ou permanecer protegidos. Em dado momento cairemos. Oramos com fé, mas se não vigiamos, cairemos! Oramos, mas se não praticamos, também iremos ao chão, pois não estaremos vigiando... Portanto, busquemos nos atentar ao orar e vigiai e Deus nos abençoará!

Obrigado! Jesair Pedinte – 29.08.11

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