Filhos do Amanhacer

Estava prestes a pedir socorro... A vida parecia ter chegado a um beco sem saída... Pesava-lhe a consciência com culpas que lhe atormentavam o ser...

Tocado no íntimo do seu coração por uma de suas vítimas que ao invés de lhe atirar reprimendas, fugir, esboçar reação violenta, olhou em seus olhos com tamanho carinho e amor que ele teria preferido morrer e mesmo assim executou sua ação maléfica.

Por algum dinheiro, muito para uns, uma mixaria para os verdadeiros criminosos da humanidade, ele acabou entregando a vida de um inocente à “autoridades” corruptas e pouco amistosas. E mais, mesmo algoz, reconheceu a superioridade moral naquele que possuía olhar compassivo. Estremeceu inteiramente o seu ser... vagou o olhar a sua volta como a procurar outro indivíduo o qual poderia merecer aquele olhar magnífico e não conseguiu passar a responsabilidade à outro que não ele mesmo.

A vítima disse-lhe que fizesse o que deveria ser feito, mas que ele tivesse a fé e a coragem para arcar com as consequências. E ao contrário do que poderia parecer, não era uma jura revoltosa e sim um lamento caridoso e compassivo. Pois a vítima estava preocupada com o futuro de incertezas e solidão que o algoz teria pela frente.

Apequenou-se perante aquele homem incomum e sereno. O culpado encheu-se de angústia, o vilipendiado encheu-se de amor! A consciência cobrou-lhe muito mais do que a quantia recebida. Uma fortuna moral da qual não há preço que se possa pagar. Quantia a custo do sangue alheio... E pior, sangue justo.

Contudo, não nos precipitemos e muito menos julguemos. A redenção do algoz começara ali, naquele instante. É certo que perturbado, agravou-se na condição de desertor da vida, mas quem de nós teria a coragem de assumir o erro e esquecer qualquer fortuna apenas pelo olhar? Se hoje é fácil acusar e revoltar-se contra Judas Iscariotes coloquemo-nos em seu lugar.

Imaginemos... Estamos ao lado de alguém muito querido e admirado, mas contestado, caçado por homens influentes e ricos. Homem considerado louco e adivinho. Um mistério incompreensível e incompreendido por todos. Santo e bandido. Milagreiro e ilusionista. Poderoso e humilde além da compreensão estreita da humanidade. Será que ao entregar o Mestre nos arrependeríamos? Será que jogaríamos fora a quantia recebida? Será que sequer nos doeria a consciência?

Talvez seguiríamos a vida acreditando erroneamente que teríamos cumprido o dever de retirar alguém tão “perigoso” de circulação. Um insultador da paz social vigente!

É com grande tristeza que o Justo passou por tudo isso ainda observa nossa incoerência e prepotência a julgar um irmão que apenas errou, e muito provavelmente menos do que qualquer um de nós que nem o reconhecemos quando esteve pisando no solo terreno! Isto Judas o fez! Ele também amou o Mestre e nós não! Ele reconheceu sua superioridade e buscou “alavancar” de forma equivocada o poder do Justo! Perdeu-se, mas Jesus sabia de suas intenções, conhecia o seu íntimo e o amor que o irmão infeliz lhe devotava!

Foi assim que mesmo em erro, o Mestre foi buscá-lo, junto à sua querida mãe, o infeliz irmão nas profundezas da dor. Antes de subir às paragens celestiais, foi de encontro à dor dos equivocados. Aliás, desceu mais do que já havia descido ao encarnar entre nós!

Hoje ainda estamos aqui em equívocos e erros, discórdias e destemperos. Vícios e dificuldades morais! E Judas? Onde está? Redimido! Soldado fiel do Mestre! Humilhado e recompensado pelos seus esforços de recuperação auxilia seus carrascos. Principalmente os que ainda o acusam de “traidor”!

E perguntado por que auxilia exatamente os que o consideram assim, afirma: “Nossos irmãos queridos não dizem nenhuma inverdade. O apelido é conquista infeliz aos ouvidos, mas sensato ao coração que ainda necessita lembrar do quanto corri em erro no passado. Aquele que erra deve procurar recompensar os que também estão em erro e não os que já lhe compreendem e desmerecidamente o apóiam e lhe sorriem”.

Aí está meus amigos, uma lição de caráter e humildade. Sejamos como o espírito de Judas Iscariotes que reconhece os erros e busca auxiliar os que o humilham. Este irmão está mais próximo de Jesus do que nós que ainda o acusamos de “traidor” do Mestre! Nada como um novo amanhecer para formar novas ideias de amor fraterno em todos nós. Pensemos nisto!

Obrigado! Jesair Pedinte – 27.06.11
 

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