O Selo de Amor
Humberto nascera em berço esplêndido. Rodeado de carinho, amor, criados e todo tipo de facilidades. Possuído de beleza rara e até mesmo invejável aos que o rodeavam. Orgulho de seus pais, ainda jovens e despreparados para a vida de genitores. Mesmo assim, amorosos e dedicados.
Cercado de pessoas a lhe atender as menores necessidades desde tenra idade. Esta era a primeira prova de nosso querido amigo. Viera com a missão íntima de vencer a ilusão das matérias. Desde cedo mostrara-se um garoto amoroso, um pouco tímido e muito humilde. Não gostava de grandes regalias, o que vez ou outra enfadavam seus pais e avós que o queriam como um “grande” de acordo com sua posição e riqueza... Mas Humberto preferia estar sempre com os criados... Com os funcionários... Não podia sair à rua e lá estava ele a parar e conversar com mendigos, pedintes, abandonados da sorte e do mundo... Por vezes estava ele a estender suas mãozinhas a estranhos, a sentar-se no chão ao lado de cegos pedintes e ajudar a pedir uma esmola pro seu irmão de desdita momentâneo. Quando descoberto era aquela bronca!
Castigo? De poucos minutos, pois Humberto era obediente e não questionava, pelo contrário, apoiava seus pais, pois sabia ele que queriam seu bem. Aos poucos, com o tempo, os pais perceberam que isto era próprio do filho e nem brigavam muito mais quando novamente o viam assim, fazendo aquelas esquisitices... É certo que Humberto, sempre alegre e disposto, sorridente e amigável, mesmo apresentando certa timidez, foi conquistando corações, família, amigos. Conhecidos. Sua postura humilde e nada esnobe atraía os que o viam. Sua inteligência ímpar conquistava a quem quer que fosse. Os professores o amavam, pois ele os ensinava e não era arrogante, fazia-se de ignorante e era como um estimulante ao conhecimento dos próprios mestres e seus colegas.
Gostava de música, e que bela voz ele possuía. Quantos instrumentos tocava... Era como um rouxinol da primavera o ano inteiro. Diria que este garoto era perfeito. O filho perfeito. O estudante, o amigo, o companheiro e tudo mais perfeito! Parecia um conto de fadas.
Podemos dizer que sua missão íntima, com poucos anos já havia sido superada. Agora já era hora de mudar o foco de suas provas. De suas investidas para o melhor aproveitamento da existência. Sim, pois nada ocorre por acaso. Tudo é conquista do espírito imortal. O jovem Humberto entrara na faculdade. Auxiliando os outros sempre estava. Cursando o curso de Assistente Social. Quando ele optou por isso, foi uma bomba na família! Toda aquela inteligência, sabedoria, beleza e investimento no menino perfeito e ele optara por ser um “assistente”? Cuidar dos problemas dos carentes da vida? “Por que não ser médico então? Faria o mesmo. Coisa de menino – pensaram. Logo ele verá que não nasceu pra isso”.
Engano de quem pensou assim. Sim, ele nascera para aquilo. Não foi difícil reconhecer que sim. Ele havia se preparado para aquilo, para auxiliar os outros, principalmente os que não tinham como ser auxiliados constantemente. Humberto se formara sem dificuldades, mas com dificuldades percebeu que o mundo profissional é às vezes cruel e dominado não pela paixão do que se faz e sim pelo dinheiro. Sem dinheiro só havia descaso. Para ele, era um martírio. Não só pela falta de recursos, mas pela falta de apoio dos próprios colegas. Com sinceridade, respeito, esforço, persistência demonstrou que não queria foco e sim auxílio, luz e recursos. Passou a fazer de sua vida um trabalho pelos outros. Sem focar em pobreza ou riqueza, nem em beleza ou feiura... Nada disso. Apenas a vontade de cumprir o seu papel com alegria.
Sacrificou seu tempo, seus amigos e momentos de tranquilidade, e por vezes trouxe preocupação e certo desgosto para a família que o queria exaltado. Para o mundo hipócrita e material, Humberto era um tolo, um perdedor. Para Deus um vencedor e perfeito soldado do bem.
Usou de todas suas forças e seu tempo para dedicar-se ao trabalho e quando menos esperou... Chegou a aposentadoria. Ainda insistiu mais alguns anos, até que o aposentaram... E agora? O que faria? Não sabia fazer mais nada além de auxiliar desconhecidos, ou novos amigos que fazia a cada ano através de seus esforços em realizar o bem, em auxiliar!
O dedicado amigo passaria agora por um período de trevas íntimas. Ao mesmo tempo perdera os pais, os familiares mais próximos e os poucos amigos que o entendiam. Num espaço de dois anos... O que seria para ele? No enterro de sua amada mãe, o último golpe ao seu coração já desgastado, um grupo jovem pediu-lhe permissão para cantar uma música. Aquilo tocou o seu coração. Era uma oração... A oração que sua mãe não se cansava de lhe dizer desde pequeno. O pequeno Francisco de Assis a fizera conversando com Deus. Contudo, não eram exatamente as mesmas palavras. Eram um pouco diferentes. Cantava-se algo a mais. Falava-se sobre a reencarnação. O aprendizado, as novas chances. Sim, aquilo era um bálsamo a seu coração. Uma esperança, pois tinha a certeza que sua mãe e todos os que a antecederam estavam vivos e um dia retornariam de uma forma ou de outra...
E agora? Onde já ouvira aquilo? Queria saber mais. Fazer mais. Aproximou-se dos jovens para agradecer-lhes e interessado questionou-os. Quem eram? O que faziam ali? O que significava aquelas palavras que tocaram sua alma? Foi-lhe esclarecido. Ele se interessou por aquela doutrina e passou a estudar, frequentar e descobriu que lá poderia fazer muito, talvez mais do que fizera em sua vida profissional. Buscou ser útil. E o melhor! Agora não precisava cumprir obrigações que não concordava. Agora podia dedicar-se aos que realmente eram necessitados.
Uma benção! Quem diria - ele pensava, a morte dos seus lhe daria de volta a sua vida!? Foi assim que Humberto chegou ao fim da missão de sua vida. Feliz, trabalhando ainda por cerca de mais vinte anos. Auxiliando. Humilde, vencendo prova a prova. Uma vida normal. Simples.
Ao desencarnar, teve o “privilégio” de auxiliar no próprio desligamento. Não deixou de se emocionar ao escutar a mesma música que o despertara anos antes no velório de sua amada mãe que lhe viera receber... “reencarnando e aprendendo cada dia mais...para um dia chegar...para um dia chegar...ao Teu reino de paz...eterna paz”...
Era o seu novo começo, agora vencedor das próprias trevas! Cumprira o que viera realizar. Pronto para recomeçar! Uma vez mais! Recebera de sua amada mãe um selo que dizia “amor”, dado apenas aos que tivessem vivido e amado sempre...
Obrigado! Jesair Pedinte – 20.07.11
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