Um Pouco de Fé
William era um bom rapaz. Meio aturdido com as situações da vida que não lhe era muito fácil desde tenra idade. Órfão de pai ainda bebê, perdeu também a mãe no início de sua adolescência... Correndo e trocando de casa como quem troca de roupa, nosso amigo não se adaptava aos lares, não porque fosse difícil, mas atrapalhado como era sempre levava a culpa pelos acidentes e incidentes dos novos lares.
Como não era belo fisicamente e fechado, apesar de bom e gentil, acabava levando e assumindo a culpa dos terríveis fatos... Muitas vezes protegia os verdadeiros culpados pelo seu bom coração e por que não ingênuo! William gostava de ler, o que nem sempre era fácil, pois após a morte da mãe pouco frequentou a escola e teve que começar a trabalhar cedo. Mesmo assim, sempre que podia lia tudo pela frente. Não hesitava em parar um pouco o que estivesse fazendo, se pudesse, para ler!
Tempos difíceis, quando ficou um pouco mais velho, conseguiu voltar a estudar a noite e de dia trabalhava. Antes disso, mudou de cidade, já que não tinha parentes que o ajudavam pensou que seria melhor recomeçar em um lugar onde ninguém o conhecia... Aos poucos as coisas foram se ajeitando.
O trabalho duro como auxiliar de pedreiro em grandes obras da construção civil de uma empresa de dia e o estudo duro a noite. Fins de semanas eram dedicados ao trabalho e ao estudo. Pouco saía e quando o fazia logo voltava para casa. Não tinha muitos amigos e não gostava de beber, ir para baladas. Era quieto de espírito. Contudo, sempre que a tarde do domingo caía e o Sol se punha ficava melancólico. Algo faltava em sua vida, mas não sabia o que era. Não, não era uma família como ele até sonhava em ter. Era outra coisa... Mas o quê?
Assim foi por anos... Estudou muito, e com essa dedicação conseguiu entrar numa faculdade pública no curso de engenharia civil. Estudou ainda mais. Sua vida era estudo e trabalho... Só que na faculdade invertera... Estudava de dia e trabalhava a noite, às vezes até de madrugada... Foram um pouco mais de cinco anos sofridos... Mas que deram resultado! Formara! E continuara nos estudos... Logo ganhou uma bolsa de mestrado por ser um dedicado aluno... Mas pelo menos agora não precisa se matar no trabalho, pois tinha ajuda de custo e como era bem comedido nos gastos viveu literalmente mais dois anos “comendo os livros” e concluiu com louvor mais uma etapa.
Entretanto, sempre que pensava nos domingos de tardezinha vinha aquela melancolia... Com alguns meses a mais estava lecionando na faculdade em que formara... Inicialmente como convidado e depois de um tempo, concursado. Finalmente encontrara tranquilidade financeira em sua vida. Mas e o restante? Ganhava até muito pra quem nunca teve nada. Após investir num automóvel, numa casa financiada ficou pensando. O que fazer com o resto? Não era como outros homens que “sairiam à caça”... Não que não gostasse de mulheres, só que isso não era de seu feitio. Não era “caçador”, era um homem que respeitava e admirava as mulheres.
Certo dia, num domingo a tarde fora passear a pé pelo bairro em que morava... Viu alguns jovens não tão jovens assim chegando em grupo para atender uma pessoa que vivia nas ruas... Eles estavam bem arrumados. Não pareciam que estavam ali para fazer aquilo, parecia que iam para outro local para descontraírem-se, mas de repente pararam para atender um necessitado. Alguém que ele mesmo nem notara antes... Os jovens preocupados com aquele homem deram de comer. Tinham algumas roupas com eles e lhe deram. Um até tirou um casaco que parecia novo e vestiu naquele homem das ruas que humildemente quis ajoelhar aos pés dos jovens que pra ele eram “anjos”.
- Que isso amigo? Anjos nada! Somos apenas... todos irmãos!
- Irmãos?
- É... Você precisa de mais alguma coisa amigo?
- Acho que não...
- Certeza? Onde você mora?
- Ali embaixo... Numa casinha...
- E sua família?
- Está me esperando... Saí ontem... Mas não consegui nenhum trabalho de novo... Estou com vergonha de voltar pra casa... Dormi na rua e cada hora que passa não consigo voltar... Fico pensando nos meus filhos... Devem estar com fome...
- Mas devem estar muito mais preocupados com o pai...
- É...
- Vamos fazer assim, vamos te levar lá e conversar com todo mundo. Fazer uma prece. A gente tem um pouco de comida aqui, pois estamos indo num aniversário de um amigo. Depois disso, vamos ver o que podemos conseguir pra ajudar vocês, certo?
- Não precisa não meus “anjos”.
- Fazemos questão! Onde é a casa?
- Ali embaixo, nesta rua.
- Então vamos juntos...
William que tudo acompanhava se acercou mais e um dos jovens percebeu. Começou a conversar com ele e foi explicando quem eram, o que faziam, porque pararam... William nunca achou que ainda haviam pessoas assim. E os acompanhou! Nunca se sentiu tão bem. Conheceu a família de Bernardo, o homem auxiliado! Realmente ele tinha sido honesto. Era realmente um homem de bem sem oportunidades, como ele havia sido um dia. Uma compaixão o invadiu e após sair da casa e conversar com os jovens, uns que eram mais ou menos da mesma idade dele, decidiu que queria ser amigo e frequentar as atividades deste grupo. Falaram-lhe que eram espíritas e que trabalhavam com arte... No início até ficou receoso, mas a curiosidade lhe foi maior. Até por que não tinha preconceitos...
No dia seguinte comprou uma cesta básica para a família e ligou para um dos jovens ir com ele até lá. Foi outro belo momento. Com poucos dias, visitando a família, sentiu um carinho muito grande por todos e tornou-se um padrinho destes! Logo Bernardo por indicação de William conseguiu um emprego e por insistência do primeiro, voltou a estudar.
William começou a frequentar aquele grupo. Começou a estudar sobre as leis de Deus e a fazer parte das atividades. Apesar de não ter talentos artísticos, tinha grandes talentos de organização e administração, o que foi muito bom para o grupo em questão. Assim não sentiu mais melancolia alguma. Além de ter uma família que auxilia, agora tem amigos verdadeiros, pessoas que o amam, respeitam e se importam com ele. E dentre essas, o coração finalmente lhe sorri num reencontro de almas afins para que uma nova família se constitua na Terra que é pátria do Evangelho!
Mais do que nunca, nada acontece por acaso! Deus sabe o que faz e quando faz!
Obrigado! Jesair Pedinte – 26.10.11
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