Verdade e Sutileza

Nas portas de Jerusalém vivia Saul, o mercador. Hoje comparável a um negociante de pequeno porte nos chamados camelódromos desta terra abençoada.

Saul tinha duas filhas - era viúvo - fazia tudo para que elas fossem as mais belas e respeitáveis de sua comunidade. Tratava-as com muito amor e era-lhe retribuído da mesma maneira. Belas e delicadas eram muito pretendidas por vários rapazes e famílias respeitáveis. Contudo, o velho Saul só daria as mãos de suas filhas em casamento através de um bom negócio. Os pretendentes deveriam ser riquíssimos! Assim como a beleza das duas! Este era o pensamento do zeloso pai.

Entretanto, os planos de Deus não eram os mesmos de Saul. A sua primogênita logo ao completar quinze primaveras encontra o amor de sua existência. Um pobre vendedor de raízes das feiras semanais que aconteciam próximas à sua casa. Foi num momento ímpar que Raquel, primogênita de Saul saiu à feira para comprar os mantimentos que faltavam para o almoço daquele dia e ao passar pela banca de Jeziel deixou-se desequilibrar e a sua cesta foi ao chão. Ela só não teve o mesmo destino por que o vendedor de raízes estava à sua frente para segurá-la, por “sorte” é claro...

Com muito respeito, delicadeza e educação, Jeziel auxiliou-a e perguntou se ela precisava de ajuda para levar os mantimentos para seu lar, já que estava pesado. Apesar de relutar um pouco no início, os argumentos do jovem homem foram irrefutáveis e ela se deixou acompanhar pelo novo amigo... Trocando olhares já enamorados, o caminho que durava cerca de quinze minutos pareceu durar apenas um! Tamanho o envolvimento. Daquele dia em diante, Raquel e Jeziel já não olhavam mais para os lados, pois já tinham encontrado suas metades do coração.

- Impossível! – dizia Saul à Raquel que se debulhava em lágrimas.
- Mas pai... Por quê?
- Por que você não merece um pobre vendedor de raízes. Você é uma princesa, minha filha! E como princesa viverá em um palácio!
- Mas isso não é meu sonho, meu sonho é ter um marido que me ama, uma família adorável.
- Exatamente! Você acha que um pobretão como esse tal de Jeziel lhe dará tudo isso sem dinheiro? Não, não deixarei minha filha para um ninguém! Desista!

De tanto insistir, Saul conseguiu o que queria! Afastou Raquel de Jeziel... Cada um seguiu o seu novo “destino”. Casaram-se com pessoas diferentes... De suas classes... Contudo nunca se esqueceram... Anos depois dos netos nascerem, Saul desencarna... No leito de morte lhe vem as lembranças do episódio em que obrigou a filha mais velha a esquecer do sonho de ter o marido ideal... Arrependeu-se quando se colocou no lugar de sua filha... O que ele teria feito no lugar dela? Provavelmente fugido. Foi aí que o coração doeu mais, pois a filha não fugiu, obedeceu!

Não conseguiu pedir perdão à sua filha. Anos depois, sua neta já crescida conheceu um rapaz para se casar... Raquel, mãe de Isabel que era neta de Saul, não se opôs a esta união tão coincidente com a dela em tempos de mocidade... Raquel estava viúva há alguns anos. Teve um marido bom que soube amá-la mesmo sabendo que seu coração era de outro e por isso mesmo, foi feliz ao lado da esposa que lhe deram. Raquel era muito grata ao seu falecido marido Josef, pois lhe dara tudo, amor e respeito incondicional!

Isabel conhecera Josué, um moço trabalhador, filho do dono de algumas lojas de raízes de Jerusalém. Era um significativo comércio que rendia bons lucros, mas era mal visto por alguns, pois parecia algo de magia para outras pessoas. Enfim, Isabel e Josué se conheceram, se apaixonaram e se apresentaram às suas famílias. O pai de Josué também era viúvo e no dia do casamento dos dois, Raquel e Jeziel finalmente se encontram, depois de mais de vinte e cinco anos. Já maduros e vividos se olham e encontram a mesma chama de amor em seus corações. Nunca esquecida durante todo este período.

Seus filhos se casavam naquele dia belo e suas vidas amorosas recomeçavam, agora mais maduras e úteis. Os planos de Deus são mais sábios do que os planos dos homens. Como recompensa do tempo longe, também puderam se casar e aproveitaram para usarem suas riquezas a fim de auxiliar os rincões escondidos e miseráveis da grande Jerusalém!

Não reclamemos nós das dificuldades da vida. Deus sabe o que acontecerá à frente e precisa que nós nos fixemos com coerência no presente que vivemos!  Se algo “saiu” do rumo inicial, Ele sabe a hora certa de consertar! Para isso basta que não nos revoltemos e façamos nossa parte! Enfim, amor à vida e a quem a valoriza pode ser um dos maiores segredos para a verdadeira felicidade!

Obrigado! Jesair Pedinte – 12.10.11

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