Um Prato para a Fé
Geraldo era um homem que veio do povo... Simples e bom. Honesto e de certa forma rude. Como tantos outros, nasceu no interior, em uma fazenda distante de tudo de todos. Só foi estudar quando já tinha mais de dez anos de idade. Assim que se mudou para a cidade grande. Começou perceber que a vida não era mais aquela cantiga serena. Percebeu que havia muitos problemas, muitas pessoas de vários tipos e várias formas!
Percebeu que ele não sabia nada do mundo. Mas aos poucos foi aprendendo. Estudando, estimulado pelo pai que era um grande homem! Um pai que fazia e fez de tudo para ver seus filhos serem homens e mulheres de bem! Não mediu esforços para todos estudarem e serem alguém reconhecido por seu trabalho na sociedade. Contudo, e acima de tudo, seu pai lutou para formá-los como pessoas idôneas, honestas, disciplinadas, responsáveis... Verdadeiros cidadãos! E nada mais!
Geraldo saíra como cópia do pai. Formou-se como professor de história. Lecionou anos seguidos doando o que melhor tinha de si! Era mais que um professor. Era amigo, pai, irmão, mentor! Buscava fazer algo pelos alunos e não porque a sociedade pedia, por que a escola exigia, por que o governo queria. Lecionava história, mas fazia história na vida de seus discípulos. Naturalmente auxiliava não só dentro, mas fora da escola. Isso era dele e mesmo com críticas alheias continuava firme neste ideal de auxiliar sempre.
Alguns colegas o invejavam, pois era o professor mais querido dos alunos. Não porque ele fazia o que fazia para ganhar a simpatia, mas porque era o que ele sabia fazer. Sendo assim, a consequência era mais que natural. Geraldo não se casara. A sua família era a comunidade escolar, seus filhos eram seus alunos. Foi padrinho de casamento de inúmeros ex-alunos. Foi padrinho dos filhos de alunos e funcionários e de vários outros. Era convidado sempre para os encontros fraternos, aniversários entre outras atividades.
Quando ficou doente, choveram flores e visitas no hospital. Seus familiares que eram poucos, quase não o visitaram, mas sua família da comunidade enchia o salão de espera da casa de saúde. Foram mais de quarenta anos de ensino pleno... Queria mais, só que não deixaram. Aposentaram-no à força! Foi como um grande golpe no queixo que o deixara desnorteado. E agora? O que faria? Não era nada sem ensinar. Sem seus alunos e suas famílias... Sentiu um vazio, mas logo se reanimou. Por que não ser voluntário? Continuar ensinando a ser bom. Lecionando não mais história, mas em como ser honesto, íntegro, sábio e útil! Não falamos aqui de religião. Geraldo acreditava sim em Deus, tinha sua fé e ela o auxiliava a fazer o bem.
Convencia alguém do que acreditava não pelo que falava, mas pelo que fazia. Não exigia nada de ninguém, exceto de si mesmo! Geraldo soube estender o prato a quem necessitava. Na sua atividade voluntária aprendeu que nem só o conhecimento salva a humanidade. É preciso bom senso.
Como ensinar a quem tem fome? Como ensinar a quem tem frio? Como ensinar a quem não tem saúde? Como ensinar a quem não tem família? Como... Como? Enfim, aprendeu que precisava auxiliar nas necessidades básicas primeiramente. Depois viria o ensino. Exemplificava, e depois tentava introjetar na cabeça dos seus novos familiares carentes. Estendia primeiro o prato cheio para matar a fome, depois o prato de conhecimentos para suprir as dificuldades. Fez parcerias com órgãos, empresas particulares, universidades... Fundou com vários outros parceiros um trabalho que oferecia muito mais do que comida. Ofereceu, ensino, alimentação, moradia, escola, reforço, atividades esportivas, de lazer, culturais... Nada perfeito, pois a perfeição só pertence a Deus. Mas tudo bem organizado e bem direcionado, estudado e planejado. Tudo aos poucos. Com muito estudo e trabalho.
Dizia Geraldo: “Ninguém faz nada só. É preciso doar juntos. Só assim se vence algo. Se o governo não faz, vamos dar um bom exemplo para que ‘ele’ comece a fazer”. E seguiu em frente até não poder mais. Foi-se desta existência fértil e deixou rastros e pessoas capazes. Soube capacitar os próprios atendidos para seguirem por suas próprias pernas. Assim é a liderança. Não centraliza egoisticamente, abre-se e dá oportunidades. E nós? O que fazemos com os nossos talentos? Estamos julgando os irmãos sem dar nem um prato de comida? Ou estamos oferecendo oportunidades e alimento do corpo e da alma a quem necessita? Pensemos!
Obrigado! Jesair Pedinte – 07.10.11
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