Ainda Ontem Vivi Procurando o que Fazer
Muitas vezes as horas não passavam, o sol aquecia o corpo até o ponto de suar por todos os poros... Os alimentos muitas vezes parcos, insuficientes e nem sempre saudáveis, para não dizer sujos ou apodrecidos eram a opção vinda e bem recebida pelo coração.
A penúria de viver isolado do mundo nas ruas era imensa. Ao mesmo tempo em que milhares de pessoas cruzavam conosco dia após dia, era como se não estivéssemos lá... Quando não era a indiferença, havia o desprezo no olhar ou mesmo nos gestos! Por vezes parecia-nos que tínhamos uma doença contagiosa, como a antiga lepra, ou hanseníase, na qual as pessoas não gostavam e temiam se acercar.
Nestas horas não sabia se sentia dó daqueles que assim agiam conosco ou se me revoltava e gritava para dizer que era também um ser humano... Mas logo pensava... De que adiantaria?
A pior doença da humanidade ainda é o preconceito, o julgamento alheio! Poucos se importam com a vida dos outros. Poucos sabem ao menos auxiliar os outros. Muitos auxiliam humilhando. Conquanto, pelo menos estão procurando auxiliar! E os demais que nem isso fazem? Alguns até comentam: “as autoridades deveriam fazer algo por esses sofredores! Coitados! É uma pena não terem oportunidade”!
Palavras! Meras palavras que não ultrapassam o teto ou mesmo a parede das casas. É preciso lembrar que as autoridades quando não somos nós mesmos, são nossos representantes. E estes são o reflexo do nosso ser comportamental. Se fazemos algo, se damos o exemplo e buscamos incentivar os mesmos comportamentos é mais fácil cobrar e ao mesmo tempo incentivar mudanças positivas nas autoridades.
A minha doença e de tantos irmãos resolveria com um pouco de paciência, respeito, um local para banhos, alimentação e moradia provisórios, além de um encaminhamento ao trabalho e um salário digno. À capacitação realmente incentivada!
Aquele país que investir mais nas forças da caridade pelos desvalidos conseguirá obter grandes retornos de pessoas dedicadas que vagueiam por motivos mil pelas ruas. Muitos desiludidos, desprezados, humilhados e em consequência, drogados e viciados pela alma e pelo corpo!
Caso queiram mudar tudo isso, ofereçam e estendam as mãos. Permitam-se auxiliar com uma palavra amiga, com um pão, um incentivo, uma roupa nova, um encaminhamento... Ou apenas mesmo uma palavra de coragem! Isso pode mudar muitas vidas, mesmo após a morte! Mudou a minha vida ainda em vida! Só tenho a agradecer! Muito obrigado!
Wellington – 03.02.12
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