Ouvindo o Coração

Na estrada em que me encontrei na última romagem da Terra sempre procurei ouvir mais o meu coração para só depois dar ciência à razão que tantos priorizam no mundo.
Talvez por eu ser um “Zé Ninguém”, destituído de posses materiais e de estudos e conhecimentos científicos, ou mesmo de riquezas, isto facilitou que meus ouvidos da alma dessem mais atenção ao coração e não a razão.
Em momento algum me arrependo de tal posicionamento. Posso não ter sido culto aos olhos do mundo, mas fui culto no amor! Este sentimento maior que me arrastava aos bons pensamentos e atitudes, mesmo quando era humilhado, rechaçado, esquecido e jogado às traças por outros que eram como eu, a não ser pelo fato de possuírem bens do mundo.
Como já relatei outro dia, essa era minha provação. Não porque eu não tivesse capacidade de crescer, ganhar dinheiro, possuir ascendência material sobre os outros. Contudo, meu espírito pedira esta prova para saber, viver na pele o que tantos outros irmãos já viveram e mesmo assim, eu poderia ter como auxiliar.
O pão que ganhava era repartido com os iguais. Fossem eles homens, mulheres, crianças, velhos ou animais! Aliás, estes últimos eram sempre privilegiados. Minha razão, já educada para o partilhar era sempre vencida pela voz do coração que dizia: “dê um pouco mais do que a metade, isso lhe trará mais farto de felicidade”!
E assim o era! Exatamente por isso, acredito que os meninos das ruas gostavam de estar por perto. Os velhos gostavam de se achegarem a mim para contar suas vidas inúmeras vezes. A história de alguns eu poderia falar de olhos fechados, tantas vezes eu já ouvira da boca carente deles. E quando eu precisava falar de mim... Só falava que eu era feliz...
Era o que meu coração pedia para falar! Pois minha tarefa era espalhar esperança, força para que meus companheiros das ruas mudassem suas vidas! Eu procurava ouvir o coração que me pedia para procurar os drogados, os bêbados, os irados... Esses eram aqueles que mais me atraíam.
Contudo, não pensem que fui santo... E nem me imaginem um espírito de luz. Também tinha meus traumas, minhas dificuldades, meus sofrimentos. Meus vícios morais... O que me auxiliou sempre... Foi essa voz do coração que me falava a todo instante: faça isso, faça aquilo! Ajude ele! Ajude ela... AJUDE! AJUDE! Mesmo que poucos lhe auxiliem...
Na verdade muitos me auxiliavam! Nunca fiquei desamparado... E no momento em que mais me senti só, com frio, com fome... Uma caravana de amor me atendeu e fez por mim, o que sempre procurei fazer pelos outros! E pensei, se há pessoas assim, eu também posso ser e vou ser!
Hoje continuo vivendo simplesmente. Hoje continuo auxiliando, no entanto não sou mais um morador das ruas, mas vivo percorrendo-as procurando intuir e encaminhar aqueles que como eu, erram sem rumo nas cidades. Sou como uma formiguinha trabalhando em nome do Cristo. Um soldado que procura espalhar mais um pouco de esperança, agora com mais recursos e conhecimento, menos sujeira no corpo e para alguns, mais limpeza na alma... Será? Acho que ainda não. Prossigo e digo que sempre estarei onde um irmão estiver dormindo na calçada, debaixo da marquise ou qualquer outro local! Contem comigo!
Obrigado! Wellington – 24.02.12

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