O Envelope

No pátio, sentado a sós, Júlio estava a examinar um livro. Longe de qualquer barulho que o distraísse, o menino de 11 anos folheava páginas do Novo Testamento. Encantava-se com a figura sublime do Mestre Jesus...
Nunca tivera antes em suas mãos a posse daqueles livros que fazem parte da Bíblia sagrada. Ansiava por muitas respostas que seus pais não podiam dar-lhe, pois que eram ateus confessos e muitas vezes agressivos quando questionados sobre uma vida moral voltada para o bem comum. No entender de seus genitores, era necessário apenas cuidar de si e nada mais. Diziam: por que ajudar os outros se quase ninguém nos ajuda?
Desde tenra idade Júlio era diferente de seus irmãos. Sempre questionava se a forma em que viviam era correta. Totalmente materialistas e despreocupados com o auxílio ao próximo. Ao menos, não acreditavam em Deus e isso lhes atenuava tal comportamento infantil perante as Leis Divinas.
Não se conformava com esta situação, o nosso querido amigo Júlio.  Queria respostas diferentes daquelas que seus pais e irmãos mais velhos lhe davam. Vivia num meio onde só valorizava o que se tinha e se era inteligente ou habilidoso para algum tipo de esporte ou atividade bem vista pela sociedade...
Júlio era uma criança normal como tantas outras, apesar de muito disciplinado e não desistir de seus sonhos.  Muitas vezes apanhara e fora castigado por insistir em comportamentos “anormais” para o seu padrão familiar, mas muito humanos perante Deus!
Nosso amigo queria muito auxiliar as pessoas, por isso insistia nos questionamentos, agora só evitava questionar em demasia seus pais para evitar transtornos maiores.
Certo dia na escola, conversando com Miguel, Júlio comentou sobre sua vida e seus dilemas. Aquele era um menino muito bom e religioso. Por isso, prometeu ao amigo que lhe daria um livro muito interessante para ler e que o ajudava sempre a superar seus medos e dificuldades.
No outro dia, Miguel entrega a Júlio um pequeno livro contando sobre a vida de Jesus. Era o Novo Testamento. Foi assim, neste mesmo dia que Júlio após a aula, ficara no pátio lendo o livro e a cada página lida, mais emocionado ficava. Era como se já tivera lido e estudado tudo aquilo! Era realmente maravilhoso e gratificado procurou o seu amigo para agradecer tamanha dádiva.
É claro que nem tudo são flores. Na sua inocência e no desejo de ver sua família também estudando e compreendendo as verdades daquele livro, Júlio procurou o pai, a mãe e os dois irmãos para falar das belezas existentes naquela pequena obra. Tal não foi a surpresa quando ele percebeu que seus familiares o escarneciam com vários apelidos e nomes chulos e até depreciadores...
Sentindo-se humilhado, calara-se Júlio que a partir daquele dia soube que sua família não estaria com ele nas suas atividades e decisões mais importantes da vida.
Foi aí que leu naquele livro abençoado os seguintes dizeres: “não vim trazer a paz, mas a espada”... “Pensais que vim trazer a paz sobre a Terra? Não, eu vos digo, mas a divisão, pois doravante, numa casa de cinco pessoas, estarão divididas três contra duas e duas contra três; pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra”...
Sim, era exatamente isso que vivia e sentia naquele momento de sua curta vida até então. Mas optara por seguir Cristo e não por esmorecer diante das dificuldades. A partir de então, passou a direcionar suas energias para aprender mais sobre a vida daquele que fora o Mestre maior e acima de tudo, para exemplificar por gestos o amor que aprendia com a história do querido amigo nazareno!
Sempre que possível procurava discretamente oferecer aos seus um pouco do evangelho do Senhor. Algumas vezes era ouvido com quase nenhum crédito, outras, na maioria das ocasiões, era escarnecido, vaiado, humilhado, castigado...
Júlio crescera assim, meio a par da família que o considerava esquisito, apesar de suas virtudes e inteligência ímpar! Talvez só por ela é que fora respeitado em suas esquisitices. Aos poucos construíra sua vida. Formara-se, saíra de casa, conhecera uma mulher excepcional que o acompanhava em sua fé...
Com os anos vieram os filhos e junto de sua esposa dignara-se a auxiliar sempre. Principalmente outros filhos, outras pessoas necessitadas. Tanto que até adotara um querido amiguinho de apenas três anos de idade para ser o seu segundo filho.
Mesmo diante dos protestos de seus pais e irmãos que o achavam um louco, não desistira disto. Ficava sempre triste, mas lembrava do Mestre evocando que trazia a divisão pela moral contida em cada ser. Isso não significava que não deveria amar os seus. Sim deveria! Como o fazia... Como sempre amara a todos. Entretanto, não podia deixar de seguir seu coração.
Conquanto, nas situações mais difíceis. Nos problemas morais mais intensos dos seus pais e irmãos, Júlio era sempre lembrado e os socorria com sua ascendência moral. Com os seus bons exemplos de bom cristão, de bom ser humano!
Infelizmente, logo seus auxílios eram relegados ao esquecimento dos seus. E o pior. Por inúmeras ocasiões, ainda o chamavam de egoísta, orgulhoso e metido. Achavam-no diferente e isso os assustava. Já nosso amigo Júlio, ressentia-se, mas sempre se lembrava daquele alvitre do Mestre e continuava.
Assim o fez e agiu durante toda a vida. Criou seus filhos, auxiliou seus sobrinhos, amou seus irmãos que o invejavam e sempre o humilhavam. Assim como amou ainda mais seus pais por lhe darem a vida!
Tanto amou que ao partir de volta à pátria espiritual em idade bem avançada, foi recebido pelo seu anjo protetor que lhe disse que já poderia descansar em outras paragens a fim de recuperar energias para outras atividades ainda mais promissoras.
Um grande cortejo de encarnados gratos ao que fizera acompanhara o seu enterro. Já na espiritualidade, Júlio era recebido efusivamente por tantos beneficiados. E para sua surpresa ainda maior o seu anjo lhe entrega um belo envelope iluminado por uma luz inesquecível que lhe dava uma sensação nunca antes sentida! Estava em êxtase como nunca o tivera antes!
Com um olhar bondoso o seu anjo lhe fala ao coração: “Abra e leia”...
Coração espiritual batendo forte, ele abre com mãos trêmulas e lê:
“Não vim trazer a paz, mas a espada. Pensais que vim trazer a paz sobre a Terra? Não, eu vos digo, mas a divisão”...
“Filho de minha alma, de meu coração. Congratulo-te pela fé inabalável em meu humilde ser e nos ensinos que deixei durante minha jornada terrena. Agora és mais um cavaleiro do amor inabalável para ensinar a humanidade o caminho reto!
Preciso de ti nas regiões onde se encontram mais homens sem fé! Subirá com seu anjo para paragens celestiais a fim de buscar mais conhecimentos e mais sabedoria espiritual! Em seguida, retornarás na Terra no velho mundo e ainda na adolescência voltará à Pátria do Evangelho para coroar o meu galardão de amor! Inspirará os homens públicos a viver em paz com a consciência e será exemplo de dignidade!
Contudo, meu Filho, provavelmente serás também crucificado perante todos, mas estarei lá, ao teu lado e de teu anjo que te vela. E me verás caso cumpra sua missão de sacrifícios e labores! Deus te abençoe! Amo-te por toda a eternidade”. Jesus, o Nazareno.
Debulhado em lágrimas, Júlio não acreditava no que lia. Mas olhando seu anjo que o convidava a seguir para a nova tarefa, não mais duvidou!
Dizem que hoje, este amigo já se prepara em infância terna e amplamente bem amparada para a missão de ensinar com seus exemplos bons, como um homem público deve agir mesmo diante dos atropelos da mídia, dos admiradores, bajuladores e até traidores... Quem é? E o que fará? Não importa saber. Importa que sejamos nós, crentes e auxiliares de sua missão.
Deus abençoe a todos nós! Obrigado! Jesair Pedinte – 21.12.11

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