Severo Caminho
Augusto era homem forte, robusto, inteligente e sábio. Possuía várias virtudes que o tornavam, de certa forma, invejado.
Vivia em uma cidade pequena. Era filho de um grande fazendeiro. Órfão de mãe, foi criado com sabedoria e bons exemplos de um pai que o amava não só como filho, mas como irmão e grande amigo.
Responsável com suas obrigações não dava vasão às traquinagens eufóricas da infância, pois sempre desde cedo, tivera suas obrigações. Os brinquedos eram colocados em segundo plano, apenas e tão somente quando os deveres eram cumpridos.
Na adolescência, não era muito de flertar com as moçoilas que o olhavam como um deus de beleza e robustez. Era muito educado, e muito sério não dando oportunidade de que alguma se achegasse, pois o coração dele não havia sido ainda pego pela flecha do amor.
Com isso ganhara simpatia de muitos, respeito mesmo. Já outros viam naquela atitude algo “estranho”, insinuando que ele era “diferente” e não gostava de mulheres. Fazendo ouvidos moucos, pai e filho não respondiam as provocações e continuavam em sua vida correta.
Eram tão honestos que todos admiravam tal conduta, às vezes achando absurdo não quererem levar vantagem nunca! Muitas vezes Augusto era “tentado” por pessoas de propósito para ver se realmente era tão honesto como dizia ser. E graças ao bom senso do rapaz ele sempre conseguia agir assim, honestamente e com prudência, respeito e honradez!
O tempo foi passando e o pai adoecendo. Aos poucos o filho passa a tomar conta de tudo com muita habilidade e sabedoria, assim como seu pai Onório. No leito de morte, o filho desconsolado, mas firme para dar forças ao pai naquele momento, chora lágrimas sentidas, pois por se sentir sempre diferente dos rapazes de sua idade, e sendo invejado, desrespeitado, não cultivando vícios e outras coisas mais tão comuns na sociedade, só tinha o pai como companheiro e sobretudo como amigo sincero.
Eram tão amigos que após as lides diárias, ficavam a conversar por horas que passavam céleres. Um era o apoio do outro. Faziam tudo juntos.
Augusto pensava que ficaria muito só... Por mais que os funcionários da fazenda o adorassem, respeitassem e estivessem sempre ao seu lado, pois sabiam que era um bondoso patrão. Conquanto, o seu pai e único amigo estava deixando-o só...
Onório se fora... em luto, Augusto deixara-se abater, não ao ponto de deixar suas responsabilidades de lado, pois assim aprendera com o pai. Primeiro os deveres, depois a diversão ou o olhar pra si mesmo...
Meses depois, nessa mesma melancolia que o consumia a olhos vistos, fora visitar o túmulo do genitor... E de repente, perdido em seus pensamentos vira um menino ao seu lado. Com um sorriso maroto nos lábios, perguntou se ele sentia falta do pai. Meio acabrunhado, mas atraído pelo semblante daquele menino, disse que sim.
- Não se preocupe. Ele está bem.
- Como assim? Você nem o conheceu. Como pode falar isso. Seus pais deveriam te ensinar que é feio inventar coisas assim.
- Não estou inventando, eu sei. O tio Onório é muito legal. Ele sempre fala de você Augusto!
- ... como você sabe o meu nome? E o dele?
- Sou seu primo Carlinhos... Lembra?
- ... Não pode ser... Você morreu quando eu tinha uns 10 anos. Eu lembro...
- É... meu corpo morreu. Mas como você está me vendo aqui, continuo vivo. Só que de outra forma.
- Devo estar delirando. Não posso crer.
- Sei que é difícil. Mas pense. Como eu poderia saber de tudo isso? Sei que você tem sofrido e só não desistiu ainda de viver porque respeita o que seu pai, o tio Onório lhe ensinou a ser honrado.
-... é verdade... – lágrimas grossas vertem o rosto de Augusto.
- Ele ainda não tem como vir lhe ver, por isso eu vim aqui hoje no lugar dele.
- E como ele está?
- Bem Augusto. Só que a doença o debilitou e precisa de um tempo para voltar as forças normais e estar em equilíbrio. Além disso...
- Além disso...?
- Ele precisa de sua ajuda...
- Faço qualquer coisa por ele, você sabe!
- Sim, eu sei. Por isso estou aqui. Ele pede para que volte a sorrir! E que não se lamente por ele ter ido. Agradeça por ele estar aqui se recuperando e não sofrendo no corpo como antes de partir...
-... Eu sei... Mas tenho saudades!
- Ele também, contudo ele precisa dessa ajuda sua...
- Certo...
- E tem mais uma coisa...
- Sim...
- Lembra da D. Rosália?
- Sim... Aquela que ajuda os pobres?
- Isso. Ele pediu para que você a ajude mais. Indo aos sábados para ajudá-la nas atividades que ela promove...
- Eu acho muito bonito o que ela faz... mas...
- Ele sabe que você tem medo dos espíritos. Contudo, como percebe, agora você também enxerga espíritos, se não, não estaria me vendo...
- É mesmo...
- Então você vai?
- Vou sim. Talvez eu esteja perdendo tempo do jeito que estou...
- Ficamos felizes. Logo você terá mais notícias. Recomece meu amigo! Até mais.
- ...
- Sim, eu mando um abraço para seu pai!
- Como você sabe que eu quero isso?
- Eu sinto!
Lentamente Carlinhos saiu desaparecendo numa curva do caminho... Apesar das dúvidas, Augusto seguiu o conselho do primo e do pai. Foi até D. Rosália e se apresentou para o trabalho. Realmente ele precisava disto para reviver em vida!
Ali tornou-se um grande cooperador humilde e assíduo no trabalho às crianças carentes da região. Passou a oferecer uma estrutura física em sua fazenda para acolher crianças carentes. Doou parte das propriedades à instituição de D. Rosália para funcionar com mais tranquilidade em suas terras. Construiu estruturas, ajudou, serviu, passou a amar tudo aquilo!
Um benfeitor que não se importava em mostrar-se, mas em fazer o que era necessário! E foi nesse clima de doação, respeito e alegria que conheceu Aninha, filha de D. Rosália. Professora de formação. Amante das crianças, alma boa e voluntariosa!
Surgiu uma amizade sincera. E daí para o namoro e casamento foi um pulo. Formaram família e a família progrediu e continuou as atividades. A pequena escola fundada anos antes foi crescendo e crescendo. Tornou-se uma grande associação que acolhe os carentes e órfãos!
Augusto, Aninha, D. Rosália e Onório - reencarnado como Luiz Onório - agora filho de seu filho voltara às suas terras para apoiar e dignificar tudo que iniciara. Se antes faltara um pedaço do pão moral, agora não faltava mais nada. Só dar continuidade.
Como fizera seu pai, Augusto também ensinara seus filhos a serem corretos e justos! Assim seguira em sua vida, talvez pouco comum para esta Terra bendita. Mas que é um modelo para o futuro dos ocupantes do barco azul que aos poucos se torna um lar de Deus mais próximo do paraíso. Um dia na Terra prevalecerão os Augustos, as Aninhas, as D. Rosálias, os Onórios... Basta acreditar e agir pelo bem e para o bem.
Busquemos fazer nossa parte! Obrigado!
Jesair Pedinte... de consciência para o bem! – 02.12.11
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