A Voz que Desperta

Quando uma moeda caiu ao chão no meio do salão e com seu barulho característico chamou-me a atenção, percebi que começava algo diferente em meu viver... Não sabia dizer ao certo o que viria acontecer...
Era uma noite de comemorações. Estava num salão de festas da alta sociedade. Eu, um homem nobre, com vestimenta apropriada para a ocasião, buscava pelos olhares fúteis e conversas aborrecidas, algo que me salvasse de minha desilusão com a vida...
Foi quando de repente uma moeda caiu de alguma mão delicada que passava próxima a mim. Talvez apenas dois ou três metros, não saberia dizer, pois naquela altura já havia bebido algumas doses de vinho e champanhe... No palco daquela festa, um conjunto musical tocava as músicas da moda, esse fez uma breve pausa... Nesse interim, uma jovem senhora abaixou-se com elegância para pegar a moeda ao chão.
Percebi que aquela moeda não era comum, havia algum símbolo em alto relevo o qual se destacava... Não pude ver ao certo o que era... A mulher levantou-se e foi direto ao palco... Pegou o microfone sem que ninguém a observasse, talvez eu apenas, apertou a moeda em sua mão esquerda a qual estava coberta por uma luva de cor verde claro com pequeno brilho que ia até os cotovelos.  
Ela falou “boa noite”, então reparei que ela vestia um “tomara que caia”, embora muito comportado, longo e elegante, usava ainda uma tiara com pedras, as quais lembravam esmeraldas, mas com certeza, não era... Ninguém havia lhe dado atenção, imaginei... Contudo, quando ela começou a cantar, pareceu que o mundo parou... Os olhares se viraram à jovem, a qual continuou numa apresentação à capela de singular beleza que parecia dizer a todos sobre um amor diferente do que eu até então conhecia. Um amor que compartilhava, ensinava o bem, buscava o próximo, os necessitados do corpo e da alma para o caminho do amor.
Era como um desabafo pela existência do mundo ser talvez tão cruel com os desvalidos. Tão duro com os mansos e pacíficos... Era um consolo aos tristes e um chocalhar aos mais endurecidos... Tudo verdade... Que às vezes incomoda e enraivece...
No auge de sua interpretação, ela foi retirada do palco, sob protestos de alguns incomodados com sua arte e do outro lado alguns outros como eu estavam encantados e envergonhados com o que ela nos deixara ali com sua melodia e palavras impactantes.
Eu que momentos antes havia pensado em subtrair a própria vida, pareceu-me algo ridículo após ouvi-la... Uma onda de choque, de despertar tomou meu ser e só então percebi que ela fora levada por soldados que diziam representar um governo, uma moral... Um estilo de vida!
Levantei-me, mas já era tarde... Saí em seu encalço, mas nada encontrei e nunca mais a vi... Aquela mulher, que tocara meu ser com sua voz, determinação, sinceridade, justiça e amor... Pode ter perdido sua vida naquele dia... Mas seu sacrifício não foi em vão... Salvou minha vida que pareceu voltar a ter sentido!
Foi o que Leonardo da Silveira me relatou de suas lembranças, certo dia. Fiquei pensando no quanto a arte toca o ser. O magnetismo daquela mulher desconhecida havia expandido de si de formas distintas, provando que as energias de uma arte executada são diferentemente absorvidas e recebidas por aqueles que apreciam ou não.
Esmeralda, nome da jovem, cantara com o coração sobre as injustiças da “Pátria Amada” e falara sobre ajudar, amar e fazer algo pelo bem, para o bem, enfrentando todo e qualquer mal, todo e qualquer impedimento. Ela havia sofrido todas as injustiças e perdera os seus mais queridos diante de uma ditadura autoritária de seu país, perdeu a vida física lutando para mudar e fazendo o que acreditava ser o certo. Admirável!

Jesair Pedinte – 20.03.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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