Buscai e Achareis
Conta-se que numa pequena
vila de tempos antigos, no velho mundo, nasceu uma garota pequenina e raquítica...
Era a quinta filha de um total de nove. Não era feia, mas não se podia dizer-se
bela. Talvez porque a pobreza e escassez de recursos atrapalhasse uma aparência
melhor. Os cuidados maternos e paternos são melhores com os primeiros filhos,
pois ainda são poucos a lhes requerer atenção. Assim Beatrice era uma menina
comum... Não era paparicada e tal lhe fez bem. Não era a mais bela, por isso
não se tornou vaidosa. Não era a mais nova, por isso precisou aprender a se
virar para ter a atenção dos mais velhos e ser respeitada por todos...
Saltando no tempo, quando
jovem, em seus dezessete anos, nossa querida menina saiu de casa. Não porque
quis ou foi expulsa, mas por circunstância da vida. Ela, que sabia se virar
sozinha e trabalhava lavando roupas, resolveu sair do lar materno, pois o pai havia
voltado ao mundo dos espíritos anos antes. Pensou nas dificuldades da mãe que
ainda tinha mais quatro irmãos para criar, mais bocas para alimentar, pois
havia netos chegando, embora os irmãos auxiliassem a colocar comida no lar, era
sempre insuficiente. Como trabalhava muito para os outros, Beatrice não tinha
como auxiliar muito a mãe... E o pouco dinheiro que recebia não fazia tanta
diferença na renda familiar. Foi aí que
ela recebeu o convite para trabalhar numa casa de uma família tradicional,
lavando roupas como sempre havia feito. Mas havia a condição de que ela deveria
morar no local do trabalho. Teria seu quarto e direito a alimentação.
Prometendo sempre voltar para
visitar o lar materno e também a enviar dinheiro a fim de auxiliar a família...
Foi esperançosa para seguir em frente na vida. Como toda menina humilde,
estranhou o modo como os donos da casa viviam. Não se preocupavam muito com vários
aspectos. Tudo tinham quando nos referimos ao fator financeiro. Uma casa
belíssima e grande que era quase uma perda de sentido por haver apenas dois
moradores adultos e uma criança naquele casarão.
Beatrice começou como
lavadeira de roupa, mas logo depois passou a fazer de tudo naquele lar e como
era muito agradável e gostava de crianças, acabou por se tornar uma babá em
tempo quase integral para que os pais de Isabelle pudessem continuar em sua
vida doidivana, principalmente a noturna.
O tempo foi passando e
Isabelle crescendo. Beatrice tornou-se uma segunda mãe para a criança. Mal
sabiam que as duas já haviam sido mãe e filha em outras existências... Isabelle
era uma menina dócil e boa. Quando chegou a idade de sete anos, começou a
aprender música e o principal instrumento era o piano. Embora houvesse outros.
Como Beatrice sempre
acompanhava Isabelle em todas as atividades, logo, nas aulas de música, lá
estava a babá. A pequena ama tinha alguma dificuldade, mas Beatrice estava
sempre a incentivá-la e também sempre a aprender. Com o tempo, Isabelle começou
a ensinar o que aprendia para sua querida Trice... Era como Isabelle chamava
Beatrice... Para a surpresa de todos, Trice aprendeu rapidamente e logo passou a
tocar, inclusive, melhor do que a pequena ama.
Logo, Beatrice passou a tocar
piano junto com Isabelle que tinha voz belíssima! A antiga babá agora era
musicista, a qual revelou bela voz, embora não tanto quanto da pequena
Isabelle. As duas passaram a fazer apresentações para os convidados das festas
por diversas vezes. Aquilo alegrava o espírito das duas, mas não era o
suficiente. Então, certa noite quando Isabelle já tinha seus quase dezesseis
anos, ela confidenciou à sua grande conselheira e amiga, e mãe de todos os anos
que gostaria de sair às ruas e cantar para as pessoas, mas não só para as ricas,
mas às pobres.
A princípio Beatrice não
achou uma boa ideia. Até porque seria algo escondido dos pais. Contudo,
Isabelle sabia convencer aquele bondoso coração de Trice. Portanto, numa certa
noite, dirigindo-se para um local mais carente de recursos, riquezas, as duas
começaram a cantar. Embora fosse um local pobre, algumas moedas foram lançadas
aos pés das duas que apesar do perigo, estavam ali com bons propósitos.
Quando terminara a noite de
cantar para os outros, com algumas moedas aos pés das duas, Isabelle perguntou:
- O que vamos fazer com este
dinheiro? Vamos comprar algo que gostemos?
- Isabelle o que acha de
doarmos para alguém que tenha necessidade até para comer?
Assim, mesmo com medo e
receios, sensibilidade à flor da pele as duas procuraram um casebre pobre para
bater e doar as escassas moedas que arrecadaram. Foi com surpresa que após
oferecer os rendimentos, a dona da casa ofereceu o pouco de comida que tinha e
procurou tratá-las com tanto carinho e atenção que as duas ficaram
envergonhadas.
Naquele momento nasceu a
vontade nas duas irmãs de coração em praticar tal gesto todas as semanas. Só
que em vez de saírem tarde da noite passaram a realizar aquelas apresentações
de dia e em lugares mais centrais da cidade em que viviam. Elas sempre
arrecadavam algo que as pessoas doavam e tudo era destinado em favor do
próximo. Por vezes era para comprar comida, outras comprar um remédio... E
tantas outras coisas... Uma ideia sonhadora? Com certeza!
A diferença de toda boa ideia
é que elas tentaram e conseguiram ajudar as pessoas... mesmo que fosse pouco a
pouco, conseguiram ajudar o próximo a saírem da miséria completa para condições
de vidas melhores. E tudo com o valor da arte! Beatrice aprendeu a tocar harpa
e as duas passaram a cantar e encantar as pessoas. Tudo o que arrecadavam era
para doar aos irmãos carentes.
Isso aconteceu por muitos e
muitos anos! Isabelle casou-se com um amável violinista que passou a integrar
aquela atividade. A arte pode muito realizar... Como eles sempre pensavam no
próximo, receberam também diversas ajudas, embora fossem algumas vezes humilhados
e acusados de roubarem o dinheiro das pessoas simples e ignorantes. Tudo
começou com uma ideia de uma criança em que Beatrice soube seguir, embora fosse
a mais velha e experiente da vida.
Nunca é tarde para buscar o
bem, fazer o bem! Quem faz o bem, seja com a arte ou não, cumpre a Lei de
Justiça, Amor e Caridade! Pensemos sobre o assunto!
Jesair Pedinte – 22.05.15,
psicografado por Jerônimo Marques.
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