Promessa não Cumprida

Um sussurro no ar. Foi o que Terêncio ouviu sem mais, nem menos... O medo invadiu o seu ser, para logo depois dar espaço a inspiração pura e clara como não poderia compreender, por isso, quis crer que era sua inteligência simples e avantajada, a qual lhe dava todo movimento em sua arte fazer.
Era um trovador e cantor da idade média. Vivia sob a tutela de um mecenas, um senhor feudal o qual lhe dava tudo, de comer e beber, de usufruir e descansar... Em troca exigia diversão e distração!
Naqueles dias, Terêncio estava com problemas para criar novas músicas, poemas, histórias, as quais pudessem distrair o seu senhor e convidados. Sempre tivera muita facilidade para tal, mas parecia estar cansado e não sabia se agradaria o senhor naquela toada que permanecera. Há algumas horas estava ali e nada lhe vinha à mente... E o pior, ele tinha apenas duas horas para se preparar para um jantar importante que o amo teria naquela noite...
Ele realmente necessitava criar algo. Caso contrário, o seu senhor prometera grave castigo. Sua fama de homem castigador não era boa. Diziam vez ou outra que quem era castigado ali, às vezes, até encontrava a morte... Quem desejaria morrer assim? Por conta de um castigo... Estava desesperado nosso amigo...  Ele sempre tivera bom conceito naquele feudo e era invejado por muitos, pois era bem quisto, bonachão e muito atraente, embora sabia muito bem com quem poderia se meter... No entanto, nos últimos meses sua fonte inspiradora secara e ele já tinha sido ameaçado naquela manhã pelo seu senhor. Caso não mostrasse nada novo e bom naquela noite, seria castigado nas masmorras...
Terêncio não respondeu, mas ficou lívido... E agora? Como e o que faria?  O desespero aumentava de hora em hora, tempo em tempo... Assim, lembrou-se de sua mãezinha a qual há muito lhe ensinara a rezar para Deus. Ele, sinceramente não acreditava nesta história de céu e inferno, Deus e religiões... Era tudo muito obscuro... Ainda assim, resolveu rezar algo a Deus... Pediu bênçãos e perdão pelas falhas e disse, sem exigir ou ser arrogante, que estava necessitado de ajuda e caso a recebesse passaria a auxiliar mais os necessitados que aparecessem em seu caminho...
Na verdade, ele foi inspirado pelo seu mentor a fazer tal promessa, já que estava nos planos de sua vida ajudar o próximo de forma mais incisiva e clara, e até então nada fizera pelos outros a não ser para si mesmo...
Pareceu uma barganha com Deus, mas pela primeira vez, Terêncio foi sincero e levou muito a sério aquela promessa... Poucos minutos depois a inspiração veio e ele escreveu um belo poema o qual era falado e cantado em momentos específicos que necessitavam de mais emoções.
Feliz por criar algo novo, arrumou-se e para a sala de jantar se dirigiu. Foi uma noite bela em que tudo dera certo... O senhor do feudo ficara felicíssimo, pois realmente a arte que Terêncio mostrara a todos fora bela! Feliz todos ficaram...
A noite, quando o corpo de Terêncio assumia-se no plano do espírito, seu anjo guardião lhe perguntou: “agora tu vais se dispor a fazer o bem, pensar no próximo e não só em si mesmo? Como prometeste!”
- Não... Claro que não! A promessa foi antes de saber se eu iria mesmo conseguir apresentar algo novo... Como fiz minha arte, agora estou feliz e posso continuar do jeito que estava...
- Mas, a inspiração chegou a ti vinda de nossos companheiros...
- Não! Nada disso! Eu fiz tudo sozinho... Quer saber? Melhor ir saindo, está tudo bem!
O seu mentor nada mais falou...  Agora era por sua conta... No outro dia mais um jantar regado a muito vinho e diversão... Mulheres bonitas e muita alegria supérflua.... Embriagado de felicidade por mais uma noite de sucesso de sua arte, também se embriagou de vinho, muito vinho e num descuido amoroso encima de uma sacada da mansão, praticamente um castelo, Terêncio caiu do parapeito e voltou ao mundo dos espíritos de mãos abanando... Contudo, não vejam como castigo divino, apenas como descuido e consequência da própria invigilância e escolhas. A oportunidade lhe veio, passou e se foi... Indigente ele se tornou perante a vida maior!

Jesair Pedinte – 15.05.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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