O Artesão

Laborando em sua oficina cheio de palhas, barro, madeiras e outras tantas matérias primas, estava Simas, o artesão. Em meio as ferramentas... Martelo, cinzel, espátulas, tintas e outros tantos por muitos desconhecidos, estava ali parado... Olhando cada detalhe, sem ideias, talvez sem qualquer inspiração ou emoção...
Em seus pensamentos, nada vinha... Parecia que os gênios da arte os quais o acompanhava desde a infância haviam-no deixado a mercê de si. E agora? O que faria? Tinha talento! Isso o sabia. A prova? Era procurado por diversas pessoas de fino trato, de dinheiro farto para adquirirem suas obras variadas. Desde pinturas, esculturas, peças rústicas, móveis úteis entre outras obras criadas por ele.
Desde pequeno mostrara seu talento e fora incentivado por seus pais, que o colocaram numa escola de artes... Embora tivesse o talento, não era muito disciplinado... Não gostava de regras, fazia apenas o que desejava... Embora o temperamento genioso, aprendeu técnicas importantes com os demais mesmo sem reconhecer o tal, para ele estava tudo dentro de si, esperando o seu despertar.
Anos se passaram e Simas muitas obras criara, vendera e ganhara numerários suficientes para viver em paz pelo resto dos seus dias... Embora fosse ainda jovem com seus trinta e poucos anos. Quando criava suas obras se isolava em seu ateliê e uma força incontrolável lhe tomava os braços, o corpo inteiro e entrava numa espécie de transe profundo... Coitado daqueles que o interrompessem! Conheciam toda a sua ira...
Assim foi por anos... Até que certo dia, num destes acessos de fúria contra os próprios pais que há muito não o viam e quiseram visitá-lo para uma surpresa a fim de amenizar a saudade, foram eles praticamente expulsos do seu lar... Humildemente eles perdoaram o filho, mas o coração deles ficou arrasado. A noite, Simas dormiu e sonhou que encontrava um Mestre das artes, que era na verdade seu guia e mentor. Amigo de antigas eras, artista notável o qual se comprometera a trabalhar com ele para inspirá-lo numa arte bela e voltada para bons sentimentos. Este Mestre estava triste e pedira para que Simas se desculpasse com seus pais.
- Mas eles me atrapalharam... Minha obra de arte ficou pela metade por culpa deles!
- Não, meu amigo, eles vieram te ver pelo amor que dedicam a ti e a culpa não é deles, caso tivesse oferecido a devida atenção você teria colhido as vibrações de amor e carinho! Com tais conseguiria materializar a mais bela obra de arte de sua existência! Eu os inspirei a vir aqui hoje para que eles fossem a nossa inspiração divina!
- Não preciso disso para fazer minha obra prima.
O Mestre olhou o discípulo ingrato e orgulhoso e nada disse, apenas entristeceu-se...
- O que foi? Esqueça meus velhos! Vamos, me ajude com a obra prima!
- Uma obra prima só existe quando o amor nos toma o coração, meu querido amigo!
O anjo da arte sorriu melancolicamente e sumiu... Desde este dia, Simas não conseguia mais nada pintar, esculpir ou criar com a beleza de antes. Não era mais tomado por aquela força divina... Escolhera o seu caminho longe do amor. Agora só lhe viam imagens diferentes, inspirações estranhas... As pessoas não mais o procuravam como antes... Até que certo dia... Sonhou novamente com o Mestre da Arte... Ele lhe viera dizer que seus pais haviam deixado a Terra e estavam com ele. E por mais que Simas lhe pedisse para voltar, não era mais possível, pois o amor ele não queria dar...
- Volte, volte! Não aguento mais aqui ficar sentado e pensar... E nunca mais de nada gostar... Minhas obras agora são medíocres, preciso de ti meu amigo! Pois desejo ser o artista mais admirado do mundo! Desejo fama, dinheiro e respeito.
- Para quê meu filho? O que oferecerá ao próximo?
- Posso dar um pouco do meu dinheiro! – respondeu como se quisesse negociar a fama com um gênio moribundo...
- Meu amigo, não quero dinheiro... Não vivo em seu mundo! Quero apenas que você seja um homem de bem, trabalhando em favor do próximo.
- Sem problemas! Eu dou dinheiro aos pobres! Faço o que for preciso!
- Não entendeste... O maior tesouro não é ser superior, melhor... É se dispor a fazer o melhor com a consciência do bem e do dever cumprido!
- Então, você não vai me ajudar?
- Desta forma não posso...
- Então não preciso de ti...
Simas virou as costas e seu Mestre da arte chorou... Naquele dia o artista acordou e nada lhe vinha à mente... O sonho ficara gravado como um alerta distante, embora bem real...
Eu quero de volta a fama! Sou um gênio! Não preciso de ninguém para ser o que sou! E na sua revolta íntima, alterou seu organismo. Indisciplinado, sem hábitos saudáveis de vida, cheio de vícios morais e físicos, pela ansiedade e revolta seu organismo reagiu...
Do plano espiritual, seu amigo e mestre triste acompanhou em prece e por um acidente cerebral provocado por suas próprias escolhas de orgulho, indisciplina e vaidade, sucumbiu... Perdeu sua existência adentrando no reino do Senhor, só que nas trevas e no ranger de dentes...

Jesair Pedinte – 09.01.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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