Um Sublime Ato

Era Emival um pobre trabalhador
Que acordava cedo...
Ainda quando a lua estava alta no céu estrelado...
Ele humildemente não se esquecia
De agradecer de fato
O Criador, todo poderoso
No raiar do Sol e no findar da noite....
Embora bondoso e saudável
Com seus quase trinta anos,
Não encontrara ainda uma companheira...
O que era motivo de risos e piadas
Sobre a masculinidade de nosso herói...
Dizia ele não se importar,
Pois na hora certa Deus mandaria
A eleita que compartilharia
Os seus sonhos, seu coração,
Sua vida em toda imensidão!
Ele ia para a roça cedo,
Plantar e podar as plantas
De um velho senhor
Dono das Terras...
Este senhor nunca trabalhara efetivamente,
Pois herdara esta e outras infinitas terras
Na visão de Emival, nosso amigo querido.
Foi aí que certo dia,
O filho deste senhor das terras
Saiu a cavalo e se perdeu nas entranhas
Do mato bravo e pouco explorado ainda...
Pois aquela era nova terra adquirida
E ninguém ao certo saberia dizer
Onde estava o menino...
Passou o dia
E nada de notícia
Do filho amado e agora perdido...
Era pequeno o fedelho.
Contava com oitos anos incompletos,
Embora parecesse mais velho...
Emival lembrou-se de um de seus irmãos,
Que naquela mesma idade sumira
Sem deixar rastros depois de pedir
Para brincar na vizinhança próxima
Com os amigos de sempre...
Com olhos cheios de lágrimas,
Mas também de esperança
Ele que acabara de chegar aquela propriedade,
Que acabara de ser contratado para auxiliar
Naquele serviço pesado
Pedira autorização do patrão para ajudar a achar
O menino perdido...
Explicando queria dar
O que não lhe ofereceram anos antes:
Reencontrar a ovelha perdida...
Desgarrada do amor da família!
Lá se foi nosso herói.
A buscar a criança perdida...
Andou e andou
Pelas matas, trilhas, picadas
E caminhos que à mente lhe viam,
Lhe guiavam e conduziam...
Até que a noite já ia alta,
Embora iluminada pela lua cheia,
Quando Emival tropeçou num toco de árvore...
Caiu rolando num declive cheio de folhas,
Mas com muitos outros pequenos tocos
Que lhe encheram de marcas, arranhões...
E outros quinhões...
Depois da queda, a dor, mas também a certeza
De que vivo estava e precisa seguir,
Andou poucos passos
E avistou o menino...
Feliz ficou!
Mas logo se preocupou...
À frente do menino
Que parado como estátua estava
Havia uma cascavel...
Pronta para o bote certeiro...
Não pensou duas vezes
O nosso herói se interpôs
No momento do bote...
Embora tenha machucado a cobra
Recebeu o ataque certeiro
Das presas do ofídio
Que logo tombou despedaçada!
Sem vida...
Emival apenas recuou
Iluminando o rosto do menino
Abraçou-o dizendo
“Vai ficar tudo bem meu pequeno...”
Colocou-o nas costas
Correu de volta
O mais que pode
Arranhado e picado...
Correu e correu...
Não se importando com o veneno da cobra,
Que parecia começar a lhe atrapalhar...
Os sentidos embaralhar...
Pediu a Deus que não lhe deixasse partir
Até que cumprisse seu dever
Antes do que estava a porvir...
Foi assim, que chegando esbaforido
Chegou gritando num último suspiro!
O pai agoniado, agora feliz,
Via o seu menino
Assustado, mas protegido
Enquanto o corpo de Emival
Perdia os sentidos...
Num último sublime ato redimido
De sacrifício divino!


Sodré, o ritmista recebendo um antigo amigo, verdadeiro herói perante o Divino! – 03.11.14, psicografado por Jerônimo Marques.

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