Plano B

Feliz é o homem o qual sabe admirar e agradecer a Deus a vida que lhe rodeia. Felipe era um rapaz sério, tímido e muito inteligente. Vivia de forma comum a tantos jovens... Era tão simples que passava despercebido perante aqueles a sua volta.
Tinha muitos talentos os quais procurava esconder, não por falsa modéstia, mas por receio de não ser aprovado pela sociedade. Afinal, o mundo o qual observava mostrava-se cruel a qualquer passo dado em falso... Mesmo que esse estivesse baseado na verdade, poderia surgir uma injustiça e a vida da vítima acabar.
Neste modelo de sociedade que exalta celebridades, a maioria delas bem passageira, como cometas ou estrelas cadentes... O jovem Felipe estudara música desde cedo. Sempre gostara de ler e escrever. Gostava de escrever histórias, músicas, poemas, reflexões, monólogos... Tinha a disciplina em aprender... Mas como era dedicado ao extremo, passava horas isolado vivendo a sua vida com arte, esquecendo que a própria vida também é uma forma de arte.
Não recordava que é preciso viver em conjunto com as pessoas as quais Deus lhe colocara por perto. Aliás, Deus? Não sabia exatamente se existia. Seus pais nunca lhe apresentaram oficialmente ao Criador. Diziam crer Nele, mas nunca os vira rezar de coração ou frequentar ao menos um templo religioso. Diziam que ele decidiria a qual religião seguir e no momento desejado.
Assim, sua religião era a arte. Havia noites que passava acordado, tomado de sensações empolgantes, algumas maravilhosas, outras nem tanto. Eram espécies de transe... Quando dava por si tinha escrito um texto, poema, história ou composto uma música, peça musical mais elaborada, um texto teatral...
Seus pais eram muito ricos e sempre o haviam estimulado para a arte, construíram um quarto com isolamento acústico o qual podia experimentar sons diversos, às vezes gritar e chorar, o que não era tão raro assim e não sabia explicar o porquê de tais...
Havia sido uma infância solitária. Era admirado e exaltado por seus professores, mas desprezados por seus colegas... Não possuía amigos, apenas alguns colegas, simpatizantes os quais desejavam tornar-se amigos, mas Felipe os afastavam naturalmente... Gostava de ficar a sós e deixava bem claro tal vontade.
Uma genialidade artística de grande potencial! Tinha tudo para levar ao mundo diversas obras de arte inspiradoras e já possuía alguns ensaios promissores considerando que ainda era um jovem de dezesseis anos. Acontece, porém, que a falta de orientação, o isolamento em seu próprio mundo, a dificuldade em interagir e se relacionar foram determinantes para que ele se perdesse e jogasse fora talvez a última oportunidade de seu espírito em servir-se da arte de forma positiva. Útil aos que poderiam rodeá-lo e segui-lo com alegria e admiração!
O orgulho e egoísmo acabaram vencendo-o sem que ao menos ele pudesse perceber. Tinha planejado ainda no plano espiritual que deveria materializar-se no mundo e com as devidas possibilidades financeiras, saúde física perfeita, oportunidades intelectuais de acordo com a empreitada a qual seria um divulgador da arte do novo milênio. Inspiraria o belo, junto a bondade por todos os cantos do início ao fim de sua existência! Seria um grande compositor e escritor, sendo um instrumento da espiritualidade amiga a qual o inspiraria a diversas criações com princípios morais.
Teria todas as condições para tal e só precisava manter-se disciplinado. Claro, os pais, seriam seus primeiros incentivadores e professores da boa conduta e de apresentar Deus em seu coração... Infelizmente, eles falharam neste ponto e isto foi um dos fatores determinantes para sua queda... O segundo ponto, consistiu na falha de seus mestres em exaltarem sua grande inteligência e capacidade, deixando que ele concluísse que era realmente único, especial, portanto, nem precisasse muito de professores ou mestres, tamanho talento. Muito menos necessitava dos companheiros, colegas de estudo e atividades, a não ser quando lhe interessasse a fim de ser exaltado...
Conquanto, apesar dos erros, seus amigos espirituais conseguiram ir contornando as dificuldades aos poucos e apesar de um equívoco aqui, outro ali, conseguiam colocá-lo no caminho mais ou menos reto. Pelo menos até certo ponto... Quando completou dezesseis anos, conheceu uma jovem de sua idade, tão inteligente e talentosa quanto ele. Talvez em alguns aspectos um pouco mais... Seria sua companheira, mas o amor não nasceria de pronto em seu coração... Pois o ciúme e o despeito tomaram-lhe primeiro, embora a companheira o respeitasse e fosse carinhosa. O rapaz com pouco tempo passara a desprezá-la por pura inveja desnecessária.
Reclamando aos genitores, em vez de ouvir palavras de conciliação, de reflexão positiva, ao qual o guia familiar tentava inspirar-lhes, ouviu na verdade mais despeito e inveja! Ora, não se podia admitir que ele perdesse o destaque para uma garota a qual nem era da alta sociedade, apenas de classe mediana... No afã de superá-la, procurou sabotá-la... Em parte conseguiu seu intento, no que ela foi vista como culpada aos olhos de muitos, embora outros tantos não. Principalmente os mestres mais justos e bondosos...
Envolvendo-se num clima negativo deu abertura para entidades de artistas invejosos e ciumentos... Orgulhosos. Passou a contribuir com peças, músicas, escritos que exaltavam uma arte desequilibrada, mas atraente, perturbadora, mas sempre atraente.
Naturalmente, os caminhos dele e da jovem a qual seria sua companheira e divulgadora da boa arte foi se separando... Cada vez mais obcecado pelo sucesso, passou a sintonizar-se com energias infelizes, estranhas... passou a se socializar mais, entretanto, e sempre por puro interesse. Por querer fama... Aos poucos foi conseguindo... O dinheiro foi inebriando sua mente, o orgulho exacerbado, as companhias espirituais e físicas apenas por interesse e por prazer fácil preencheram sua vida e vontades...
Por fim, quando todos os fatores da vida iam se complicando imensamente, considerando seus compromissos de levar a arte boa e bela ao mundo físico... Seu anjo guardião, humildemente pediu a espiritualidade superior que algo pudesse ser feito a fim de pará-lo...
- Amigo, você sabe que para tal teremos que tomar medidas drásticas e ele não mais poderá caminhar no caminho da arte por um bom tempo...
- Tenho tal conhecimento, mas é melhor pará-lo agora, mesmo contra a sua vontade, aproveitando que ele possui um pouco de mérito, do que vê-lo se afundar totalmente por escolha própria...
Daí a três dias, voltando de excessos do corpo e da alma, sofre Felipe um acidente trágico o qual lhe deixa em coma por meses e quando acorda, descobre-se tetraplégico e sem condições de expor seus pensamentos, pois até mesmo a fala lhe foi alterada... Fora condenado a viver pelo resto dos seus dias assim, sem poder mais errar tanto...
Hoje, nosso amigo, continua na cama, mas feliz e grato ao lado da mesma companheira que ele sabotara anos antes... Ela em sua humildade aceitou apagar-se perante o mundo para ser professora do amor, da resignação às crianças, ensinando-as os princípios elementares da arte a fim de educa-las ao caminho correto e poder utilizar com sabedoria esta ferramenta bendita, que é a arte.
Há anjos de luz que se apagam aos olhos do mundo para se exaltarem perante o Pai, e Carmem é uma destas entidades de luz! Poderia ser reconhecida em todo mundo por seus talentos e graça! Mas é hoje apenas humilde professora, dona de casa e “mãe” do esposo inválido o qual não se perdeu de vez por sua humildade e amor baseados nos ensinos do Cristo em sua vida!

Jesair Pedinte – 13.03.15, psicografado por Jerônimo Marques.

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