Esperando a Reencarnação

Maciel estava de olho nos acontecimentos à sua volta. Ele que desencarnara no fim do século XIX, depois de uma vida pacata como contador de um senhor de grandes terras no interior de Minas Gerais, agora estava já consciente do que estava acontecendo consigo.
Sabia que era um espírito desencarnado, na erraticidade, numa colônia espiritual, que era como uma cidade comum, talvez bem mais organizada e com maior qualidade de vida das que ele conhecera quando vivo. Tinha a consciência que sua família ficara na Terra material e praticamente já não se lembravam dele. Até porque ele havia encarnado entre pessoas que não faziam parte de sua família verdadeira, a espiritual. Pois que em outras vidas, como a pouco ficara sabendo, não soubera valorizar os seus familiares e pediu como prova esse distanciamento.
Graças a seu caráter tranquilo e bonachão, conseguira cumprir com certo êxito a tarefa objetivada e agora, ouvindo os seus amigos espirituais que ele tanto aprendera a amar, tomava a consciência de que deveria reencarnar...
- Mas assim? Tão de repente?
- Nem tanto assim caro amigo Maciel! Nem tanto...
- Não estou preparado... Mal cheguei por aqui...
- Não temas meu caro. Já faz vinte anos que estás por aqui e, além disso, já tens trabalhado bastante e com certa sabedoria deste lado. Entretanto, precisas colocar em prática na matéria os aprendizados de agora...
- Eu sei que preciso, mas não me sinto preparado...
- É exatamente por isso que sabemos estar.
- Mas tenho receios...
- Nós sabemos que sim. Principalmente por ter guardado alguns traumas da última visita ao orbe, quando longe dos seus familiares espirituais você ficou... Contudo, já conversamos sobre isso. Era sua prova, ou melhor, expiação. Bem cumprida, diga-se de passagem.
- Sim...
- Exatamente por isso – disse Alberto seu mentor e melhor amigo – você não estará sozinho desta vez!
- Não?
- Não! Eu irei à sua frente, serei teu pai.
- Não mereço tanto.
- Parece que não me queres como pai... – disse fazendo galhofas...
- Desculpe-me, não foi isso que quis dizer. É claro que quero. O que não quero é voltar pra lá.
- Mas precisas!
- Sim... Eu sei...
- Maciel... Você quer permanecer assim para sempre?
- Se fosse possível sim.
- Olhe... – diz seriamente Alberto – você não é obrigado a ir.
- Não?
- É claro que não! Entretanto, é preciso avaliar se isto será bom pra ti.
- Como assim?
- Já pensou que se você não quiser ir, nós todos aqui, iremos e estaremos por lá, já você ficará. O que acha que acontecerá?
- Sei lá. Poderia eu ser um protetor espiritual.
- E você se acha capaz disso?
- Nem um pouco!
- Então, voltemos à pergunta. O que acha que acontecerá se nós formos e você não?
- Talvez eu não os veja mais com tanta frequência...
- É bem provável.
- Mas isso é injusto!
- Por quê?
- Por que eu tive uma vida toda longe de cada um de vocês e agora, vocês querem retornar. E se voltarem e eu não, ficarei longe novamente.
- Sim, está certo. E ainda tem mais!
- Mais?
- Sim. Se voltarmos e você não, além de ficarmos afastados, nós iremos progredir diante das lutas e você irá estacionar. E quando retornarmos, se cumprirmos com os nossos objetivos, infelizmente não poderemos mais estar juntos como agora, pois tu estarás num nível mais denso que o nosso e o contato conosco será mais difícil devido a sintonia diferente.
- Sintonia diferente?
- Exato. Ao estacionar num nível, você fica para trás. Enquanto que, se nós evoluímos avançamos, distanciamo-nos de ti, mesmo que continuemos a te amar. Com certeza, vez ou outra poderemos estar contigo para alguns momentos de visitas. Mas as obrigações que teremos não nos permitirão ficar por muito tempo ao teu lado.
- Um... Então... O que eu faço?
- O que você faz? Aproveite a oportunidade e vá conosco! Retorne à vida material e ao nosso lado vença as dificuldades. Assim, estaremos sempre juntos! Ampliando mais e mais nosso círculo de irmãos eternos!
- É... Parece que me convenceu Alberto.
- Ânimo meu amigo! Agora estarás com todos nós! Serei teu pai, Pedro e Augusto seus irmãos! Gabriela e Verônica suas primas.
- E Isabel?
- O que tem ela?
- Não irá conosco? Não será da nossa família?
- A princípio não?
- Como assim?
- Ela irá, mas não nascerá entre a família Gomes.
- E para onde irá?
- Para bem longe.
- Não a verei?
- Quem disse isto?
- Ninguém, mas... Pensei que...
- Acalme-se. Se você aceitar, poderá ser esposo dela!
- Está brincando comigo?
Nisto Isabel chega e de forma teatral diz:
- Nossa... Não sabia que te era tão repugnante... (como se fosse chorar)
- Não Isabel! Não é isso! Pelo contrário! É meu maior sonho! – diz Maciel.
- Certeza? Agora a pouco queria ficar por aqui... – diz Alberto sorrindo e piscando o olho para Isabel.
- Você iria me deixar só na Terra? – continua a brincar Isabel.
Quase em desespero Maciel se ajoelha e diz:
- Nunca! Vou contigo para onde quiser ir!
- Assim está melhor! – diz Alberto – Então, chega de teatro Isabel... (risos) ... Vamos começar a planejar a nossa nova incursão terrena.
E virando-se para Maciel.
- Ah! O amor! É tão lindo! (risos). E muitos acham que não existe amor na espiritualidade!
- Você planejou tudo isto não é Alberto!? – diz Maciel.
- Com toda certeza e aprovação de nossos superiores! Mas agora chega de “joguinhos” e vamos trabalhar! Vocês e eu não viveremos só de amores, mas de muito trabalho em favor do próximo!
- Que assim seja! Diz agora sorrindo o antes desiludido Maciel.
E assim foi! O grupo reencarna na primeira metade do século XX e no interior mineiro forma uma família humilde de comerciantes que aos poucos conhece os princípios cristãos sob a chefia e autoridade de Alberto, o pai e mentor encarnado.
A partir dos seus exemplos, abnegação e respeito a todos, inspirados por Eurípedes Barsanulfo e depois por Francisco Cândido Xavier entre outros tarefeiros do Espiritismo ainda crescente no Brasil, fundaram uma instituição para receber órfãos e cuidaram abnegadamente de várias crianças abandonadas, rejeitadas e órfãs de todo o tipo.
Maciel, seguindo o exemplo do pai e dos irmãos mais velhos, junto à companheira Isabel seguiu os passos de Alberto e deu continuidade aos trabalhos com êxito.
Hoje apenas Maciel está encarnado nos últimos dias de existência. Ao contrário do que podia se pensar. Não se sente só, pois é cercado de carinho por tantos ex-órfãos que o tratam como pai. Seus irmãos, sua esposa e seu pai Alberto o aguardam jubilosos do êxito alcançado e já se preparando para as futuras atividades da nova era.
Em pouco tempo. Talvez em menos de 15 anos eles retornarão em novas tarefas humildes e novamente como anônimos do grande público material, mas reconhecidos como benfeitores perante a espiritualidade a fim de que possam ensinar mais a todos nós!
Que Deus os abençoe, hoje e sempre!
Jesair Pedinte – 28.12.11

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