Esteja Pronto para Amar

Entre casebres rodeados por morros e labirintos incompreensíveis, Zé andava toda a noite a vasculhar entre medos e desilusões toda aquela favela em que morava...
Pensava se um dia sairia daquele local. Nascera ali e não conhecera outra realidade a não ser aquela. Muita violência de traficantes, policiais, e tantos outros apenas por dinheiro, domínio, medo, drogas e todo o tipo de “status” que a matéria pode oferecer.
Ele, apenas um Zé... Como dizem por aí, um Zé ninguém que vagava pelas ruas. Caso alguém lhe batia, não importava... Se alguém o humilhava, também não... Se ninguém o via, melhor ainda... Só servia para ser capacho ou saco de pancada...
Tentou estudar, mas não deixaram... Foi ameaçado tantas vezes na escola, assim como aqueles professores que tentavam educar alguém... Mas por fim, eles desistiam quase que um a um... A violência era tamanha que não se podia arriscar tanto por alguns pobres infelizes com sonhos de se formarem bons cidadãos...
Essa era a realidade de uma das favelas do nosso Rio de Janeiro... Por isso, um dia decidiu Zé... “Vou sair caminhando, caminhando por essas estradas do Brasil até que encontre um lugar nesta vida”...Ah! Mas sentiria saudade dali! Pois que apesar de tudo isso, conhecia muitos amigos bons! Aqueles que lhe estendiam a mão, davam o pão e alimentavam seu corpo e alma falando por vezes incontáveis daquele querido Jesus...
Era sim uma energia diferente que penetrara em seu coração! Teria saudade dos amigos, das crianças sorridentes, das mães protetoras daquelas paragens... Dos honestos que lá viviam a serem vilipendiados pelos mais fortes no físico e na economia do mundo cruel...
Zé vagou, vagou... E aportou na capital do Brasil... Entre perigos e problemas, fome e desilusão, também passou por momentos de tristeza e grande emoção! De Brasília para a capital goiana...
E mesmo nas ruas conseguia uma paz interior... Viveu alguns anos pelas ruas, mas procurava se esforçar para sair de lá... Conheceu um grupo de auxílio aos moradores que vez ou outra passava por ele oferecendo um lanche. Não era o único, pois outros ofereciam sopas. No frio recebia agasalhos, no calor água que ainda era “benzida”.
Nesta cidade começou vigiando carros, depois comprando doces e outros produtos baratos para revender e aos poucos foi se afastando dos crimes e desilusões das ruas. Entretanto, não deixava de repartir o pouco que tinha com os poucos companheiros que nas ruas conhecera...
Saiu das ruas! De albergue em albergue, foi para um pequeno quarto alugado. De emprego autônomo, foi conquistando outras oportunidades. Com o tempo, a volta aos estudos... Lutas, batalhas, Deus guiando...! Formou uma família, casou-se! Teve filhos e nunca, nunca se esqueceu de nós!
Até hoje continua a levar periodicamente um pouco do que conquistou para seus irmãos de desdita. Sabe bem o que é dormir ao relento sem ter o que comer, vestir e ainda temer a violência dos outros companheiros e também da própria polícia.
Entretanto, agradece de coração esta recuperação de sua alma, pois hoje sabe que Deus lhe ofereceu um caminho diferente para encontrar a paz em si e é grato por isso.
Nós? Somos e seremos eternamente gratos a este companheiro de sorriso farto e bondade extrema no coração! Apenas um Zé... Ninguém... Só um Zé que representa o mundo que quero ver daqui para frente! Obrigado meu amigo! Que você e sua família seja sempre guiada pelo Divino Amigo!
Wellington – 16.04.12

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