Uma Luz no Fim do Túnel

Era um sábado frio no sul do país tropical. Os termômetros marcavam algo em torno de 2 graus centigrados. Poucas pessoas nas ruas. As poucas que se encorajavam a sair apresentavam-se bem agasalhadas. O vento gelado fazia pensar que a temperatura estivesse abaixo da casa do zero. Uma ameaça de geada tomava os pensamentos dos que viviam naquela região.
No frio, alguns sobreviventes da vida arriscavam-se para poder ganhar o pão diário, às vezes, para sua família em casa. Indiferentes, outros passavam em frente a estes primeiros que pouco tinham a oferecer para ganhar o seu pão. Era quase um pedido de esmola desesperado de pais de família. Talvez se as lágrimas rolassem dos olhos, seriam congeladas antes de chegar ao chão não pelo frio do clima, mas pela frieza dos corações alheios.
Onofre era um senhor de quarenta e poucos anos. Pai de família que havia saído naquele dia para tentar ganhar algo e comprar o mínimo de alimentos para seus dois filhos e sua esposa que em casa ficaram. Casa aliás, que era muito fria e pequena. Para deixá-los um pouco mais aquecidos, deixou seu cobertor e seu melhor agasalho ao filho pequeno e com apenas uma camiseta e uma blusa de lã fina estava ali oferecendo seus préstimos de carregador de compras, pois naqueles dias frios não havia como vender muita coisa nas ruas, até porque, poucos saíam.
No fim do dia, apenas alguns trocados, o suficiente para comprar um leite e alguns pãezinhos. Chegando em casa com um sorriso no rosto preparou um lanche e comeu apenas um pequeno pedaço de pão dizendo que havia comido na rua e não estava com fome. A esposa sabia que não era verdade, mas os filhos, felizes pelo que comer devoraram aquele pequeno alimento.
Assim, no dia seguinte, tudo se repetiu. No outro também e no outro. O frio não passava e o pai não desistia. Até que um dia, caiu de fraqueza e frio. Desmaiado na calçada um ou outro passou, olhou, parou e... Continuou. Uns com medo achavam que estava morto. Demorou-se quase uma hora para um corajoso senhor verificar o que ocorria. Logo o levou para uma cafeteria próxima, pediu que ligassem para uma ambulância. Estava semi desacordado nosso amigo. Foi levado ao hospital pela ambulância e aquele benfeitor seguiu o carro de resgate.
Esperou notícias e logo soube que ele estava bem, apenas tinha estado inconsciente por falta de alimentação e leve hipotermia. Assim que pode, visitou o novo amigo e conversou com ele. Soube de sua dura rotina. A falta de oportunidades, a família em casa, os filhos e a esposa que já deveriam estar preocupados com ele.
O benfeitor ali estava e se condoeu. Dispôs o seu celular para ligar à esposa, mas Onofre disse que eles não tinham mais um aparelho que havia sido vendido para comprar alimentos. O homem pensou... pensou e pediu para que Onofre escrevesse um recado para sua família que ele mesmo levaria e avisaria que ele estava bem, pois segundo o médico ele teria que dormir no hospital.
Não sabia ao certo se poderia confiar naquele homem, mas algo dizia que sim, até porque ele havia auxiliado até ali. Fora o único que com ele se preocupou e estava dispondo-se a continuar auxiliando. Aceitou a ideia, explicou onde morava.
O estranho que agora já tinha um nome a seus olhos, Roberto, saíra dizendo que voltaria assim que desse o recado. E cumpriu o trato, mas fez muito mais. Levou à família de Onofre vários alimentos. Explicou a situação e se dispôs a levar os mesmos ao hospital. Gratos, não tinham como agradecer aquele amigo benfeitor. Este não parou aí. Ofereceu uma oportunidade de trabalho a Onofre em sua pequena fábrica de pães.
Dali em diante aquele pai de família e os seus tiverem garantidos um meio de sobrevivência digna. O benfeitor, um amigo leal, acabou ganhando uma nova família.
Gestos simples de quem possui um pouco mais transformam vidas inspirando ações no bem. Roberto foi a luz no fim do túnel da família de Onofre. Mas ao contrário do que podem todos pensar, quem mais ganhou foi o próprio Roberto. Ganhou além da gratidão, amigos leais, filhos do coração que estiveram com ele até o fim, sem desampará-lo. Ele que havia sido abandonado pela esposa e perdido seu filho anos antes, além de ter sido enganado por um antigo sócio de uma empresa que ele abrira e levantara no mundo, com muito sucesso.
Tinha tudo para se vingar, negar a Deus e odiar a vida, mas resolveu perdoar, esquecer o que de ruim aconteceu e ainda por cima decidiu auxiliar. Aliás, seus funcionários eram todos pessoas de bem que um dia foram auxiliados pelo “tio” Roberto.
Muitas são as boas histórias da vida, mas o homem se interessa apenas pelos massacres, roubos, mortes, enfim, trevas. Há muitos Robertos, Onofres, Chicos, Teresas, Franciscos por aí. Quem sabe você não pode ser um também? Obrigado!
Wellington – 23.07.12

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